Perspectivas para o agronegócio brasileiro

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Em evento realizado pelo Ministério da Agricultura e Bolsa de Mercadorias & Futuros, na quarta-feira (09/04), em São Paulo, técnicos e outros profissionais ligados ao setor discutiram as perspectivas para o agribusiness em 2003 e 2004. O superintende da Ocepar, Nelson Costa, e o engenheiro agrônomo Robson Mafioletti participaram dos debates e relatam algumas constatações colocadas durante o evento. A primeira delas diz respeito ao crescimento do PIB do agronegócio em 2002, que foi de 8,4%, enquanto o crescimento do PIB brasileiro foi de apenas 1,4%, o saldo da balança comercial do agronegócio foi recorde de US$ 20,4 bilhões, enquanto o saldo da balança comercial brasileira foi de US$ 13,13 bilhões.

Cenário para 2003/04 - Pouca evolução nas negociações internacionais, redução de estoques mundiais das principais commodities e conseqüente melhoria de preços internacionais, aliado ao câmbio valorizado na comparação com o mesmo período de 2002, resultara em renda recorde dos agricultores em 2003. Considerando somente os produtos de origem vegetal, as projeções de receita, realizadas pela consultoria MB Associados, são calcadas em dois cenários para o dólar: a um câmbio médio de R$ 3,40, o faturamento da agricultura "da porteira para dentro" deverá alcançar R$ 98 bilhões, 40% mais que no ano passado. Com o dólar médio a R$ 3,20, a receita seria igualmente inédita, de R$ 93 bilhões, um salto de 33%, a sustentação para esse crescimento são a soja, milho e açúcar. O aumento da produção brasileira de soja, com o avanço sobre outras culturas e puxada pela recuperação dos preços internacionais, e desvalorização do câmbio que favorecem a comercialização do grão. No caso do milho, o cenário é favorável devido à alternativa de vender ao exterior, que faz da paridade de exportação um balizador de preços no mercado interno. Além disso, segundo Silveira, as compras antecipadas do grão pelas indústrias consumidoras estão aumentando e há um maior volume de troca dos produtos por insumos. Para o açúcar, o recuo de principais players do mercado internacional impulsionou o setor sucroalcooleiro no país.

O ministro Roberto Rodrigues - Afirmou que o novo plano será definido em maio, com um mês de antecedência, "O aumento dos custos de produção, de 20% a 40%, em razão da valorização do dólar, demandará maior capital de giro para o agricultor". O governo deve rever preços mínimos e estudar novos mecanismos de comercialização a exemplo da LEC – Linha Especial de financiamento a comercialização, tomando como referência para financiamento da comercialização o preço de mercado dos produtos e não o preço mínimo, aumentando dessa forma o montante de recursos para financiamento da estocagem. O seguro rural também é prioritário, e um fundo para subsidiar os prêmios, com recursos do Tesouro, deve ser criado. "O modelo deve ficar pronto este ano, mas não será usado necessariamente na nova safra", afirma.

Aumento de crédito para a safra 2003/04 - Os recursos do governo para o plano de safra 2003/04 estão praticamente definidos, adiantou ontem Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Os valores deverão ficar em torno de R$ 26 bilhões, 20% mais que o previsto para o ciclo 2002/03, que se encerra em junho. O aumento de crédito é sustentado pela expectativa de crescimento de 7% na safra de grãos, projetada em 120 milhões de toneladas pelo governo, ante as 112 milhões estimadas para a atual temporada.

Soja - Se depender da produção nacional de soja, a safra de 120 milhões de toneladas está confirmada, segundo a Céleres/M. Prado. A produção desta safra será de 51 milhões de toneladas e da próxima do grão 55,5 milhões de toneladas, posteriormente as perspectivas apontam altas de 3% a 4% ao ano, com oferta projetada em 77,14 milhões de toneladas em 2007/08, superando os EUA, que historicamente produzem 75 milhões. A "Farm Bill" americana deve desestimular o plantio de soja nos EUA, e aumentar o plantio do milho, pois o aumento dos preços de garantia naquele País foi para a soja de US$ 5,26/bushel (US$ 11,60/saca) para US$ 5,80/bushel (US$ 12,79)/saca, correspondendo a um aumento de 10,3%, enquanto no milho o aumento foi de 37,6% passando de US$ 1,89/bushel (US$ 4,46/saca) para US$ 2,60/bushel (US$ 6,14/saca). O que sustentará os preços da soja e propiciará novo avanço do plantio do grão no Brasil em 2003/04.

Milho: A produção de milho voltará a crescer, na safra de verão 2003/04 deverá ser de 32 milhões de toneladas. A Conab estima uma produção de 41 milhões de toneladas em 2002/03, sendo 8,9 milhões na safrinha. Se confirmada a safrinha, as exportações podem chegar a 3,00 milhões de toneladas, disse Celso dos Santos Júnior, da Cocamar. Mas além da produção maior, o fator câmbio será vital. Santos acredita que o mercado interno de milho deve ficar acima da paridade de exportação este ano, como já ocorre. Um dos motivos é que o produtor, capitalizado, está gerenciando as ofertas. Para ele, o país deve importar pouco, já que os preços são elevados. Hoje o produtor recebe US$ 5,30 por saca em Maringá. Em caso de importação, as indústrias pagariam US$ 6,76 pelo milho do Mercosul.

Café - Com uma produção de 50 milhões de sacas, exportações de 28 milhões de sacas representando 31,5% das exportações mundiais, que são de 89 milhões de sacas e consumo interno de 14 milhões de sacas resulta em um estoque final de 8 milhões de sacas. Apesar das exportações somarem US$ 1,2 bilhões em 2002, os produtores continuam em dificuldades, pois a comercialização atualmente está se situando em R$ 170,00/saca, enquanto segundo representantes do setor produtivo a necessidade é de que o governo lance contratos de opção a R$ 220,00 a saca para enxugar os estoques do mercado, que esta afetando significativamente os preços. A melhoria da distribuição de renda também pode ser um fator de alavancagem no consumo de cafés, pois no período de 1994 a 1996, período do auge do plano real o crescimento do consumo foi de 35% e no período de 2000 a 2002 o crescimento do consumo foi de apenas 1,5%. A melhoria da qualidade e diferenciação dos produtos continua sendo uma meta do setor, pois dos US$ 1,2 bilhões de exportações do setor somente US$ 4,00 são de cafés industrializados (torrado e moido).

Carnes - Apesar das cotas de importação impostas pela Rússia, os exportadores de carnes de frango e suína acreditam em aumento das vendas este ano, superando US$ 2,00 bilhões de exportações do setor. A Abef, que reúne exportadores de frango estima que a exportação somará 1,73 milhão de toneladas, 8,1% a mais que em 2002. No caso do suíno, deve sair de 480 mil para 550 mil toneladas. Os importadores russos ampliaram as compras até março, o que deve amenizar o efeito das cotas. Além disso, como a cota para suíno é do importador e não por origem, como no frango, Martins avalia que os russos devem continuar buscando a carne brasileira, que tem preços mais competitivos. Na carne bovina, impera o otimismo, o Brasil pode tornar-se o primeiro exportador mundial, com 1,25 milhões de toneladas exportadas em 2003.

Trigo - A forte dependência das importações de trigo deve reduzir a partir da próxima safra com perspectivas de produção na safra 2003 de 4,5 milhões de toneladas contra 2,90 milhões de toneladas na safra 2002, aumento da produção da ordem de 55,00%, dessa forma o Brasil deverá reduzir seus gastos com importações de trigo, conforme salientou Nelson Costa Superintendente da Ocepar em sua apresentação no Seminário, as perspectivas de preços são positivas e devem ficar bem acima do preço mínimo estabelecido para o Governo em R$ 400,00 tonelada. Foram levantados alguns dificuldades que o setor vem enfrentando com relação às exigências para financiamentos de custeio da cultura que começou a ser cultivada em meados de abril e que estes problemas devem ser tratados em reunião a ser realizada em Curitiba, no próximo dia 23, às 13h30. Mas para o crescimento sustentado da produção nos próximos anos há necessidade de implementar o plano plurianual para a cultura, em que todos os agentes da cadeia produtiva do trigo participem ativamente das ações propostas neste plano, que é de atendimento de 60% da demanda de trigo nacional estimada atualmente em 10,5 milhões de toneladas. O gráfico a seguir demonstra o volume em milhões de toneladas e os gastos em milhões de dólares de 1997 a 2002, com as importações de trigo pelo Brasil.

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