Paul Singer prefere estimular cooperativas

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Em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo desta segunda-feira (03/02), o economista Paulo Singer, que fará parte da equipe do governo Lula, afirma que o estímulo governamental às cooperativas de crédito ou de produção é mais eficaz na luta contra a miséria do que medidas assistencialistas, essência do programa Fome Zero. "Sempre que possível, é melhor emprestar do que dar", afirma o futuro secretário de Economia Solidária. A secretaria, que ficará subordinada ao Ministério do Trabalho, vai estimular e investir em atividades econômicas organizadas pelos princípios da autogestão e da solidariedade. Elas vão desde as tradicionais cooperativas a instituições de microcrédito, conhecidas no Brasil como bancos do povo. Mas há também experiências alternativas, como os clubes de troca, que permitem a comercialização de produtos e serviços sem o uso do dinheiro. "É impressionante como é possível tirar muita gente da pobreza com pouquíssimo dinheiro", afirma Singer, que é responsável pelo programa de incubadoras de cooperativas da USP.

Ações de solidariedade - A idéia de Singer é fomentar, apoiar e consolidar ações voltadas à solidariedade que gerem trabalho e renda para os desempregados e excluídos. “Não pretendemos criar nenhuma rede de apoio direto pois isso seria muito caro. Mas pretendemos amparar as agências de fomento da economia solidária existentes”, disse na sua entrevista. O BNDES, que está ampliando o orçamento da área social, será importante parceiro do governo nessas ações. Hoje, cerca da metade dos recursos sociais do banco não são distribuídos. “Uma saída seria ter uma grande rede de cooperativas de crédito servindo de canal, permitindo que o dinheiro chegue às famílias, aos cooperados. Se você tira as pessoas da miséria, você economiza em seguro-desemprego, bolsa disso ou daquilo. É um dinheiro mais bem gasto do que o investimento assistencial”, frisou o economista.

O limite do assistencialismo – “Não sou contra dar assistência. Muitas vezes, ela é uma precondição para as pessoas saírem da pobreza. A bolsa-escola é mais do que justificada, evita de as crianças terem de sustentar as famílias. Em caso de subnutrição, não dá para ser contra. O papel da economia solidária é ajudar as pessoas a encarar esse dinheiro extra como uma alavanca para começarem a ficar menos pobres”. O economista afirma, ainda que “emprestar é melhor do que dar. Melhora a dignidade das pessoas. A doação desmoraliza. É humilhante ter de depender de uma ajuda, seja do Estado ou da Igreja”.

Bancos do povo - A criação dos bancos do povo será uma das frentes em que a secretaria tentará agir. “A medida provisória que permitiu a criação de bancos do povo os definem não como bancos, mas como Ongs de distribuição de microcrédito. Elas são proibidas de receber depósitos e, portanto, não têm condição de crescer com o resultado de sua atividade. Essas é uma característica fundamental na experiência do Grameen Bank, experiência de microcrédito de Bangladesh, que é a inspiração dos bancos do povo”. Singer afirma que o empréstimo de dinheiro aos pequenos empreendedores vai permitir que estes iniciem novos negócios, gerando empregos, impostos e aquecendo a economia.

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