Painel discute sanidade e bem-estar animal na suinocultura

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O segundo painel da Semana da Sanidade Animal promovida pelo Sistema Ocepar, com apoio da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), na tarde dessa quarta-feira (02/10), abordou  aspectos ligados à suinocultura. O evento reuniu 119 participantes, entre profissionais das cooperativas do Paraná, representantes da área de Defesa Agropecuária de diferentes estados, estudantes, além de convidados.

Na abertura, o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, lembrou que a sua família chegou a produzir suínos na região central paranaense, mas desistiu em função de problemas de mercado e outras dificuldades enfrentadas ao longo dos anos. “Hoje só estão na suinocultura os produtores bem-organizados. Nos últimos anos, não é possível se manter individualmente na atividade. Uma opção é o sistema de integração e a Frimesa [Cooperativa Central com sede em Medianeira/PR] e a Aurora [Cooperativa Central sediada em Chapecó/PR, com unidades no Paraná] são destaques nesse segmento”, afirmou. Para Ricken, o futuro da suinocultura é a internacionalização, como já ocorre com produtos como soja e frango.

“Há demanda para a carne suína no exterior, mas ainda não estamos acessando os mercados. O Paraná alcançou outra realidade a partir do momento em que conquistou o status de área livre de febre aftosa sem vacinação, mas temos ainda que vencer outras questões que, quando forem superadas, abrirão a perspectiva de que o Paraná e o Brasil se tornem um grande e moderno produtor na suinocultura”, acrescentou.

O presidente da Cooperativa Primato, de Toledo (PR), e membro do Conselho de Administração da Frimesa, Anderson Léo Sabadin, abriu o painel juntamente com o presidente do Sistema Ocepar. Ele destacou a importância das equipes técnicas das cooperativas ficarem mais atentas à sanidade dos rebanhos. Em seu entendimento, a preocupação maior tem sido com a nutrição dos animais, mas é necessário avançar também na prevenção de doenças e em diagnósticos mais precisos, que podem reverberar nos resultados econômico-financeiros. “A equipe técnica é o nosso para-choque. Ela está no campo, conhece bem a realidade dos cooperados, e tem profissionais que são fundamentais para a evolução da produção”, frisou. 

Palestras

Após a abertura, o pesquisador da Embrapa Suínos, Luizinho Caron, apresentou palestra com o tema “Peste Suína Clássica (PSC) e PSA (Peste Suína Africana) - fragilidades e desafios para a suinocultura no mundo”.  De acordo com ele, a Peste Suína Clássica é uma doença tradicional que já foi erradicada por meio de vacinação em alguns países, como Estados Unidos, Canadá e México, por exemplo. Na Europa, a PSC é endêmica em animais selvagens e a vacinação é feita por meio de iscas, ou seja, os animais selvagens são imunizados para evitar o risco de contaminação dos animais domésticos.

Caron destacou os surtos ocorridos nos últimos anos em diversas partes do mundo. No Brasil, foram registrados casos da doença este ano no Piauí. Ele também falou sobre as formas de transmissão, que se dá por meio de contato direto com ao animais infectados, as características do PSC, como ela afeta os animais e as meios de diagnosticar a enfermidade. “Quando houver dúvida sobre o diagnóstico, o melhor é chamar o serviço de defesa sanitária pois quanto mais rápido e preciso for constatada a doença, melhor”, recomendou o pesquisador.

Em relação ao controle e prevenção, informou que, em granjas livres da doença, é necessário adotar medidas preventivas de biosseguridade. “Cuidados de higiene com roupas e calçados ao entrar na granja estão entre as práticas que ajudam a evitar a contaminação”, lembrou. Já em regiões endêmicas, deve-se recorrer às vacinas para evitar que a PSC se espalhe.  

Área livre

O Paraná é um dos estados brasileiros reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como área livre de Peste Suína Clássica, juntamente com Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantis e Distrito Federal.  

PSA

Da mesma forma, Caron discorreu sobre vários aspectos relacionados à Peste Suína Africana (PSA), destacando que o Brasil é reconhecido como área livre da doença pela OIE desde 1981. Já na África, ela é considerada endêmica, com 24 genótipos da doença.

Ele elencou surtos ocorridos em países como a China, em 2023, na Itália e Alemanha, neste ano. Um aspecto importante é que não há vacina contra a PSA. O combate é feito por abate e destruição dos animais infectados, controle do movimento de animais, quarentena e biosseguridade.

Caron disse ainda que os suídeos selvagens são reservatórios de PSA e de PSC, ou seja, possuem grande potencial de transmissão, daí a preocupação com o aumento de javalis no Brasil.  “Eles não são uma espécie nativa e o aumento da presença desses animais no país pode representar um risco”, disse.

Os lixões também são uma ameaça, já que as doenças podem se disseminar devido ao contato dos animais com alimentos contaminados. Nas criações domésticas, deve-se tomar cuidado ao fornecer restos de comida aos animais, especialmente não cozidos, que podem infectá-los rapidamente.

Segundo o pesquisador, o vírus que causa a PSA também viaja pelos continentes por meio do transporte da carne suína de um país para outro, inclusive processada, como na forma de embutidos.  

Bem-estar animal

Na sequência, o consultor Cleandro Pazinato Dias falou sobre “Bem-estar animal como vantagem competitiva no mercado da carne suína”. De acordo com ele, a saúde é um dos principais pilares do bem-estar animal, juntamente com outros itens como nutrição, ambiente e comportamento. Dias lembrou que os suínos têm grande capacidade cognitiva e, como são seres vivos, é uma obrigação ética cuidar deles durante toda a vida. Ao falar sobre a importância do bem-estar animal, disse ainda que trata-se de um meio de evitar as perdas de produção, ou seja melhorar a performance; reduzir o uso de antimicrobianos, o que representa uma questão de saúde pública; evitar perdas de qualidade do produto final, gerando economia e, ainda, melhorar a imagem do setor, o que se traduz na confiança do público e na aceitação social do produto.  

Consumidor

O palestrante lembrou que há um aumento da demanda por maior transparência na cadeia de suprimentos de alimentos, ou seja, as pessoas querem saber como o suíno é transformado em produto final. Além disso, ele alerta que é preciso estar preparado para as mudanças no perfil dos consumidores. Dias apresentou dados de uma pesquisa feita pela Eurobarometer, na qual 34% dos entrevistados disseram que é muito importante proteger o bem-estar dos animais de produção, em 2006, sendo que esse índice aumentou para 57% no levantamento realizado em 2016.

Mercado

Ele também trouxe dados sobre mercado, destacando que o Brasil é o quarto maior produtor e exportador mundial de carne suína. Entre os anos de 1980 e 2023, a produção brasileira de carne suína cresceu 418%, saindo de 995 mil toneladas para 5,15 milhões de toneladas nesse período. Já as exportações aumentaram mais de 1.200 vezes, passando de uma tonelada em 1980 para 1,23 milhão de toneladas em 2023. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), de janeiro a agosto de 2024, os embarques de carne suína chegaram a 870,2 mil toneladas, 7,7% a mais do que no mesmo período do ano passado. A China ainda é o maior comprador, mas o produto também está chegando em outros países e o Japão se destaca pela importação de produtos de alto valor agregado. Para a ABPA, tudo indica que haverá novo recorde de exportações de carne suína neste ano.

Quanto ao abate de suínos por unidade federativa, o Paraná ocupa o segundo lugar no país, representando 20% do total de 46,5 milhões de cabeças abatidas, de acordo com dados do Ministério da Agricultura e Pecuária referentes a 2023. Mais de 76% da produção brasileira de carne suína tem como destino o mercado interno e 23,85% é comercializada no exterior, segundo dados da Secex/ABPA.  

Legislação

Em sua palestra, Dias fez uma conexão entre o bem-estar animal e as legislações que tratam do tema e mostrou como isso pode representar uma vantagem competitiva, ou seja, fazer com que a empresa se diferencie no mercado por tornar sua marca ou produto mais atraente que os dos concorrentes, conquistando a preferência dos consumidores.

Ele citou a Instrução Normativa 133, de 16 de dezembro de 2020, que estabelece as boas práticas de manejo e bem-estar animal nas granjas de suínos de criação comercial, e a Portaria 365, de 16 de julho de 2021, que aprova o regulamento técnico de manejo pré-abate e abate humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Também falou sobre as novas exigências de mercado impostas por outros países na comercialização dos produtos agropecuários.  “Cumprir as legislações no prazo é obrigação. Se antecipar às exigências traz vantagens competitivas”, sublinhou.

Ao fazer uma relação entre bem-estar animal e mercado, disse que, no passado, isso era apenas uma preocupação. Agora, é visto como um diferencial mas, no futuro, pode se tornar um pré-requisito. “O interesse pelo bem-estar social na produção é crescente. As oportunidades vão continuar aparecendo e, quem estiver preparado, vai aproveitar. As nossas escolhas de hoje vão trazer resultados amanhã”, disse em suas considerações finais.

Semana da Sanidade

A programação da Semana da Sanidade Animal iniciou na terça-feira (01/10), com as presenças do secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária, Carlos Goulart, dos secretários estaduais da Agricultura, Natalino Avance, e da Fazenda, Norberto Ortigara, do chefe geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Krabee, do diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Paraná (Adapar), Otamir Martins, e do presidente do Sistema Faep, Ágide Eduardo Meneguette. Nessa quarta-feira (02/10) foram realizados os painéis da Avicultura e da Suinocultura. Já nesta quinta-feira (03/10), último dia do evento, haverá os painéis sobre Bovinocultura e a Piscicultura.

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