OPINIÃO: Perigos da Safra

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Por Ágide Meneguette (*)

O Brasil está começando a colher uma nova safra, a segunda maior de sua história. Excetuando a euforia oficial, os produtores rurais, na verdade, não tem muito para festejar. Uma safra de grãos acima de 140 milhões de toneladas, em meio a uma crise mundial que ainda persiste e um dólar depreciado, significa problemas sérios nos próximos meses.

Os indicadores não são nada otimistas. Os estoques mundiais de soja, milho e trigo estão altos e, segundo avaliação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, as safras mundiais estão dentro da normalidade. Os preços mostram bem a situação que vai ser enfrentada: Em janeiro do ano passado, a saca de soja valia R$ 45,69; Neste final de fevereiro, R$33,77 (26 % a menos). Milho, R$ 17,56 em janeiro de 2009; hoje R$ 14,32 (60 % menos). Trigo R$ 26,80 em 2009, hoje R$ 24,26 ( 18% a menos). Feijão R$ 131,22 em janeiro de 2009; hoje R$ 51,67 (incríveis 60% a menos). O preço do boi caiu 7%, o do frango 4% e assim por diante. Na grande maioria dos casos, os preços recebidos pelos produtores não cobrem os custos de produção...

Este é o quadro que deve persistir durante a comercialização desses e de outros produtos, indicando que o endividamento rural vai aumentar e com isso reduz a capacidade do produtor obter crédito Esse cenário compromete não apenas a sua a renda , mas até a produção futura, prejudicando a economia do país, lembrando que é o agronegócio que sustenta a balança comercial positiva do Brasil.

Em 2009, o Governo Federal conseguiu alocar R$ 4,2 bilhões para o apoio à comercialização. Embora os preços dos produtos tenham caído, a previsão é que esses recursos vão ser menores este ano, até porque a receita do Governo vem caindo e os seus compromissos estão cada vez maiores, principalmente num ano eleitoral.

As decisões do Governo são lentas e nem sempre as mais adequadas. Há anos o setor agropecuário vem lutando para ter um seguro rural que abranja não apenas os financiamentos, mas a renda do produtor, para acabar com o endividamento e as crises recorrentes. Basta lembrar que o Paraná sofreu quatro secas nos últimos seis anos e, no ano passado, chuvas excessivas e frio intenso que liquidaram com a safrinha e com o trigo. E como o produtor não comanda o clima.

E mais, o que o Governo poderia ter feito e não fez só na área de infra-estrutura significa um grande impacto negativo nos preços recebidos pelos produtores rurais. Estradas ruins, falta de ferrovias, portos sucateados tudo isso concorre para agravar ainda mais a já difícil situação no campo.

Vamos ter que pressionar o Governo para que adote medidas urgentes e positivas para evitar mais um ano de prejuízos para o campo.

(*) Ágide Meneguette é presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP

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