Opinião: O Cooperativismo de crédito deslanchou

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Maílson da Nóbrega (*)

O Cooperativismo de crédito finalmente começou a dar certo no Brasil. Poucos se lembrarão de suas crises. E foram muitas, especialmente na área rural. Nos anos 80, a exaustão do insustentável sistema de financiamento à agricultura acelerou o colapso de muitas cooperativas, a maioria das quais já vivenciava sérios problemas gerenciais.

Cheguei a ser pessimista quanto ao cooperativismo de crédito, influenciado de certa maneira por minha experiência com o setor. Iniciei minha carreira no Banco do Brasil em 1963 e de lá até os escalões onde se formulava a política econômica foi intenso meu contato com o tema da agricultura, especialmente o crédito rural.

Meu ceticismo aumentou com a exaustão do modelo de crédito rural, que atingiu o paternalista Banco Nacional de Crédito Cooperativo – BNCC. Nada dizia que seria possível surgir um substituto adequado aos novos tempos.

Na busca de saídas, o governo me designou, juntamente com outros técnicos, para estudar modelos no exterior. Em 1983 e 1984, visitei os EUA, o Canadá, países da Europa, a Austrália e o Japão. Conheci as mais importantes experiências do cooperativismo de crédito. Todos, sem exceção, constituíam um sistema diferentemente do que ocorria no Brasil. Todos primavam pelo profissionalismo na concessão de crédito, na gestão de riscos e nos processos administrativos. Aqui salvo as exceções de praxe, prevaleciam o compromisso, o paternalismo e o amadorismo.

Constatei também que as autoridades atribuíam elevada importância ao sistema de crédito cooperativo. No Brasil, em vez de facilitar, as normas dificultavam a expansão do cooperativismo de crédito. Era o resultado do clima de desconfiança deixado pelas arapucas que existiam nos anos 1960 sob a capa do cooperativismo. Imaginava-se que a criação de muitas cooperativas de crédito tinha tudo para dar errado.

A crise deixou lições. O paternalismo foi escorraçado pela falência do modelo de crédito rural e pela extinção do BNCC. Novas lideranças perceberam a necessidade de organizar as cooperativas em sistema. O Banco Central se convenceu de que havia chegado a hora de criar um novo paradigma, no qual o sistema controlaria seu próprio banco comercial ou múltiplo. Assim, a Resolução 2. 193, de 31/8/1996, permitiu a constituição dos bancos comerciais cooperativos e a Resolução 2. 788, de 30/11/2000, estendeu essa possibilidade para os bancos múltiplos.

O sucesso tem sido inegável. Nos meus contatos durante palestras para os bancos das cooperativas, suas centrais e unidades singulares, tenho constatado uma esplêndida e auspiciosa realidade. As cooperativas estão financeiramente integradas, prestam serviços inestimáveis aos associados e contribuem para o seu engrandecimento. Seu nível de profissionalismo é elevado e a prudência marca a gestão dos riscos e dos recursos.

Poucos podem ter dúvida de que o cooperativismo de crédito caminha para lugar de destaque no sistema financeiro brasileiro. Será uma questão de tempo. Há disponibilidade líderes e profissionais com capacidade para tanto. E não se pode descartar a integração crescente dos três sistemas existentes, o que contribuiria adicionalmente para o seu fortalecimento e ascensão.

(*) Maílson da Nóbrega - Consultor de empresas e ex-ministro da Fazenda
(Fonte: Informativo Ocesc)

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