OPINIÃO: É hora de cair na real, ou seria o real?

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Por Vilmar S. Sebold (*)

Muita gente deve estar cansada de ouvir falar em taxa cambial. Pode ser, mas não existe ninguém mais aborrecido com o assunto do que o setor produtivo, especialmente aquele que acredita, planta e ajuda este país crescer, se desenvolver: o produtor rural.

Apenas gostaria de aqui, em conjunto com você amigo leitor, fazer uma reflexão sobre este assunto.

Para começar, podemos resumir a questão desta tal sobrevalorização do real frente ao dólar em uma única pergunta: E agora?

Isto mesmo, e agora? Estudos informam que no primeiro trimestre de 2007, as compras da moeda americana efetuadas pelo Banco Central, somaram US$ 21,9 bilhões, contra US$ 7,9 bilhões adquiridos no mesmo período do ano passado. Em 2005, durante todo o exercício, foram adquiridos US$ 21,5 bilhões.

As sucessivas compras realizadas pelo Banco Central fizeram com que as reservas internacionais do Brasil, atingissem o patamar de US$ 110 bilhões, podendo chegar ao final de 2006 perto dos US$ 150 bilhões. Observando esses dados de forma fria e apenas pelo viés do economes, podemos imaginar que é uma situação confortável para o Brasil. No meu ponto de vista é bem ao contrário, precisamos isto sim refletir e avaliar, vejam essas considerações.

As compras são efetuadas mediante aumento da Dívida Mobiliária Federal, com juros do mercado interno, superiores aos recebidos, com aplicações das reservas pelas taxas de juros externas, portanto, ampliando a pressão sobre o endividamento brasileiro interno;

Enquanto perdurar o quadro de juros internos, extremamente atraentes aos “investidores”, ou melhor, especuladores internacionais, o fluxo financeiro continuará forte. Até quando o Banco Central se dispõe a gastar para segurar a cotação do dólar em baixa

Até onde as empresas brasileiras conseguirão sobreviver com a atual carga tributária, problemas de logística, de segurança, etc., com a atual paridade cambial?

Estamos internacionalizando empregos de setores que, historicamente, foram fortes geradores de demanda de mão-de-obra interna. Por exemplo, de tecelagem, de confecções, calçadista, brinquedos, etc., sem que salvaguardas emergenciais sejam efetivamente implementadas;

Como sobreviverá o produtor rural que, assistindo aos preços recordes das commodities no mercado internacional (ex. soja e milho), não consegue rentabilizar sua atividade, mesmo com safra cheia em função desta infeliz paridade cambial?

Observamos em outros países, produtores de commodities, onde não existe tal problema de paridade, realizando resultados positivos e com tranqüilidade gerando riquezas, produção e segurança elementar.

Alguns analistas financeiros projetam para o final de 2007, um dólar em torno de R$ 2,00 (dois reais), inclusive destacando a possibilidade de, a curto prazo, romper para baixo esta barreira, chegando quem sabe até R$ 1,90 (um real e noventa centavos), fato que, se confirmado, gerará nova crise na agricultura. Agricultura esta que está vendo crescer, de forma acentuada, os custos de insumos em função da demanda de países que não enfrentam a pressão cambial vivida no Brasil. Somente os fertilizantes aumentaram cerca de 30% para a atual safra.

Considerando todos esses fatores aqui abordados, necessitamos de urgentes medidas de proteção à produção brasileira, as quais poderiam ter início na taxação de investimentos especulativos voláteis, afinal, se o brasileiro que produz a riqueza e o sustento da nação, arca com a insuportável carga tributária atual, por que não onerar mais acentuadamente a especulação financeira?

Olha, mesmo que você, nobre leitor não concorde com os motivos aqui discorridos, faça sua parte para que juntos busquemos uma saída urgente, afinal, até onde os produtores e as próprias cooperativas que hoje assumiram grande parte do financiamento do custeio agrícola, conseguirão resistir?

Já passou da hora de cair na real.

(*) Vilmar S. Sebold, vice-presidente da COCARI – Cooperativa Agropecuária e Industrial  

Conteúdos Relacionados