OPINIÃO: Commodities ainda devem dar novo fôlego à inflação

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 *Geraldo Barros

Desde que, em março de 2011, seus preços internacionais deixaram de crescer, poderia parecer que o efeito das commodities sobre a inflação no Brasil teria se esgotado.  Entretanto, esses preços não devem retroceder significativamente, podendo mesmo voltar a crescer, dando mais fôlego à inflação.

A inflação atual decorre de não ter havido presteza para conter a propagação dos choques de commodities a outros setores, o que se dá em proporção ao aquecimento da economia e ao seu grau de indexação, inclusive do salário mínimo. O problema pode ir além da forte aceleração ocorrida nos preços dos serviços, alcançando até outros setores, a menos que a demanda seja suficientemente desaquecida.

A favor de preços de commodities elevados e, provavelmente, em alta, pesa a continuidade do forte crescimento dos países emergentes e em desenvolvimento. Conta também a extraordinária liquidez, que se acompanha de taxas juros e dólar muito baixos. Pode-se ainda adicionar dois fatores altistas do lado da oferta: as mudanças climáticas e a evolução mais lenta da produtividade.

Depois de três anos da quebra do Lehman Brothers, os Estados Unidos seguem patinando numa trilha de baixo crescimento e elevado desemprego. Porém, como o atual embate político-partidário deixa claríssimo, são mínimas as chances de que estímulos fiscais venham a ser utilizados. Resta seguir mantendo a liquidez, levando conseqüentemente a juros muito baixos e dólar enfraquecido (em valor e credibilidade) e, logo, altos preços de commodities.

Na Europa, a área do euro balança. A proposta de reestruturação das dívidas, se mal dimensionada, pode apenas mudar a natureza da crise. De Estados relativamente pequenos pode passar para instituições financeiras de porte, com potencial destrutivo, mundialmente falando, talvez maior que o atual. Uma possível saída envolveria a China entrar em cena mitigando a quebradeira. Não é certo que ela o faça de imediato, mas a médio prazo é mais provável que China, assim como outros emergentes, reduzam suas exposições nos Estados Unidos dando, ao mesmo tempo, mais força à Europa, um de seus principais mercados. Quando os ajustes evoluírem, é provável que o euro se valorize em relação ao dólar, reforçando a alta das commodities.

Quanto à China, encontra-se em meio a descontrole inflacionário, diante de um mercado de trabalho apertado. O crescimento terá de ser desacelerado (talvez, um ou dois pontos percentuais) via aumento de juros e cortes fiscais. Salários mais altos e moeda provavelmente mais valorizada poderão aumentar o ímpeto importador de uma China pouco mais voltada para o mercado interno, outra força no sentido de aumento de preços das commodities.

Não ocorrendo o pior nos Estados Unidos e na Europa, é concreta a ameaça de recrudescimento da inflação no Brasil nos próximos meses e anos. Para que seja combatida, juros altos e câmbio valorizado deverão prevalecer na impossibilidade de acionar eficazmente a política fiscal.

*Geraldo Barros é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP

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