OPINIÃO: A economia paranaense em 2005

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Por Gilmar Mendes Lourenço (*)


Uma breve incursão sobre algumas estatísticas da economia paranaense para o ano de 2005 permite identificar uma espécie de Tríplice (e articulada) Aliança contra o setor produtivo estadual, formada pelo colapso ocorrido no setor agropecuário (começando com a estiagem, passando pela queda das cotações internacionais das commodities e chegando aos impasses provocados pela febre aftosa), pela equivocada política econômica de austeridade monetária e fiscal e pelo câmbio burro.

O setor industrial fechou o ano com crescimento de apenas 0,8% nos níveis de produção física, bastante abaixo da média brasileira (3,1%), representando a quarta pior performance entre as treze unidades federativas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), à frente apenas do Rio Grande do Sul, do Ceará e de Santa Catarina (tabela 1).

O fraco desempenho do setor manufatureiro regional foi determinado pelas pronunciadas quedas de produção verificadas nos ramos atrelados ao agronegócio (alimentos, máquinas, equipamentos e fertilizantes), prejudicados pela estiagem, no final de 2004 e começo de 2005, pelo câmbio defasado e, por último, pela suspeita de aparecimento de focos de febre aftosa no Estado.

“O colapso na agricultura, somado às restrições macroeconômicas do País, explicam o fraco desempenho da indústria e do comércio do Paraná em 2005”

É interessante observar que até o final do primeiro semestre do ano passado o parque fabril do Paraná cresceu 8,0%, contra 5,0% do País, expressando o segundo melhor dinamismo entre os estados, perdendo apenas para o Amazonas, onde a produção de bens de consumo duráveis impulsionou o setor industrial. A retração de -5,3% experimentada no segundo semestre, a terceira maior entre as instâncias subnacionais, jogou no chão a indústria do Paraná, atingida, particularmente neste período, pelo real sobrevalorizado e pelos respingos fitossanitários.

O resultado do exercício econômico de 2005 só não foi pior graças ao incremento registrado pelas atividades dos segmentos de veículos automotores (21,1%), refino de petróleo e álcool (9,6%) e celulose e papel (7,7%), reflexo da combinação entre alguma recuperação da demanda interna e o cumprimento de contratos de exportação celebrados em tempos de cotação cambial mais favorável ou garantida por seguro.

A trajetória negativa trilhada pela indústria paranaense em 2005 pode ser comprovada também pelo sinal das vendas e das compras reais. O faturamento do parque manufatureiro declinou -1,3%, puxado pelos segmentos de couros e peles (-45,2%), madeira (-31 ,8%), mecânica (-26,6%), têxtil (-23,6%) e matérias plásticas (-16,8%). Ainda assim, houve incrementos expressivos em segmentos importantes como papel e papelão (10,3%), material de transporte (9,6%) e material elétrico (7,9%), segundo indica a tabela 2.

Do lado das compras de insumos, apesar da variação total positiva de 2,7%, constataram-se recuos significativos em matérias plásticas (-37,0%), editorial e gráfica (-36,5%), couros e peles (-33,8%), mecânica (-31,0%), madeira (-28,4%) e material elétrico (-26,0%). Os resultados positivos couberam a papel e papelão (82,6%), bebidas (34,3%) e material de transporte (20,8%).

Na mesma direção, o nível de emprego industrial experimentou variação pífia no Paraná em 2005. O contingente ocupado cresceu 1,2%, praticamente a mesma taxa brasileira (1,1%), puxado por divisões leves, mais sensíveis às elevações dos salários.reais, como alimentos, vestuário, calçados e couro, e outros ramos mais pesados, como eletroeletrônicos e meios de transporte, ancorados no crédito e na demanda externa. No entanto, ocorreram declínios apreciáveis nos patamares de emprego de atividades ligadas à agricultura e/ou ao câmbio, como têxtil, madeira e combustíveis (tabela 3).

As atividades comerciais de varejo registraram variação negativa de -1,0% do faturamento real no Paraná em 2005, já descontados os efeitos inflacionários, contra expansão de 4,8% para o Brasil. Tal comportamento foi determinado pelo recuo nas vendas de combustíveis e lubrificantes (-2,2%) e hipermercados e supermercados (-7,8%), conforme indicado na tabela 4.

Mais que isso, o comércio paranaense exibiu o segundo pior desempenho do País, à frente apenas do Rio Grande do Sul, que foi penalizado de forma mais acentuada por aqueles fatores de retração. Ainda assim, caberia sublinhar a expressiva variação das vendas de móveis e eletrodomésticos e de equipamentos de escritório e de informática no Estado, que pode ser atribuída à ampliação do crédito, especialmente daquele consignado com desconto em folha, e ao barateamento relativo dos produtos de tecnologia de informação, esse último aspecto ocasionado pela redução de preço dos componentes devida à desvalorização do dólar.

Por tudo isso, o Produto Interno Bruto (PIB) paranaense demonstrou estagnação em 2005 (crescimento de 0,3%), contra variação positiva de 2,3% para o Brasil.

Apesar das eleições, o cenário para 2006 mostra-se pouco animador, em razão da prolongada seca que já vem comprometendo a produtividade da safra de verão das regiões predominantemente agroindustriais, da queda dos preços mundiais das commodities, da provável continuidade da política econômica austera, afetando as decisões de consumo das famílias (cuja inadimplência aumentou) e de investimentos das empresas e os negócios voltados ao mercado internacional, e do esgotamento da capacidade de endividamento primário da população.

 

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