MERCADO: Commodities retomam a lógica no pós-crise

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Mesmo com a saída dos fundos de investimento do mercado de commodities agrícolas, as cotações de produtos como soja e milho seguem relativamente estáveis em dólar. Os preços se sustentam sem o alicerce da especulação, que animou o mercado e evitou perda generalizada de renda na safra passada. A explicação está no aumento do consumo aferido no período pós-crise. Esse cenário, reforçado nos últimos meses, melhorou sensivelmente as perspectivas de médio e longo prazo para a agricultura. A avaliação é do analista Alexandre Mendonça de Barros, da MB Associados, palestrante levado à ExpoLondrina, na última semana, pelo ciclo de palestras de agronegócio que vem sendo realizado pela Rede Paranaense de Comunicação (RPC) em parceria com a Organização das Cooperativas (Ocepar) e a Federação da Agricultura do Paraná (Faep).

Mercado interno - Os preços do mercado interno, sob a pressão do auge da colheita de grãos no Hemisfério Sul, escondem essa tendência, apontou. No Brasil, a soja vale 25% menos que um ano atrás, e o aperto nas contas dos produtores, apesar de previsível, predomina nas avaliações de mercado. "O que temos de novo é que as perspectivas para as commodities agrícolas ficaram um pouco melhores." Barros considera que a economia dos países em desenvolvimento, dos Estados Unidos e da Ásia voltou a um ritmo de aquecimento. Quadro que, na Europa, é compartilhado por Alemanha e França.

Soja - A participação dos fundos no mercado da soja em Chicago passou de 115 mil para 30 mil contratos no último ano, conforme a CFTC - a comissão de comércio de commodities e futuros dos Estados Unidos. Essa queda acentuada teria feito as cotações derreterem se tivesse ocorrido durante a crise internacional. Agora, no entanto, há confiança suficiente em países como a China para que a demanda mundial seja considerada crescente, disse Barros, citando os números do Fundo Monetário Internacional (FMI) que preveem evolução de 6% no Produto Interno Bruto de países em desenvolvimento e de 2,1% nos países desenvolvidos em 2010.

Respaldo - As novas avaliações macroeconômicas que comparam a recessão de 2008/09 com a grande depressão econômica de 1929 dão respaldo a esses números. A produção industrial caiu 15% durante 15 meses para chegar à pior fase da última crise. Na década de 30, essa queda durou 40 meses e chegou a 40%. O setor já recuperou 7 dos 15 pontos perdidos recentemente. No comércio, o declínio recessivo durou 15 meses e chegou a 20%, ante 30% de queda num período de 40 meses no século passado. A atual recuperação desse setor chega a 15 pontos.

Queda - Passada a crise, a queda nas bolsas mundiais - bem mais rápida que a de 29, chegando a 50% em 12 meses - parece ter sido precipitada. Nos anos 30, as cotações seguiram em baixa por 37 meses e, numa tendência lenta porém mais corrosiva, foram reduzidas a 32%. Dos 50 pontos perdidos na crise mais recente, 30 já teriam sido re­­cuperados. As comparações estão num estudo dos economistas norte-americanos Barry Eichengreen e Kevin H. O'Rourke (publicado em março em www.voxeu.org).

Pós-crise - Para Barros, esses números não deixam dúvidas: o mercado de commodities entrou na lógica do pós-crise, com um consumo novamente em expansão, capaz de voltar ao ritmo de crescimento de 2008 rapidamente. Desde então, a cotação da soja, por exemplo, caiu de US$ 16,5 para US$ 9,5 a saca de 60 quilos. A tendência de expansão no consumo não resolve, porém, problemas como a margem de lucro agrícola reduzida pelos custos e pelo real valorizado diante do dólar, ponderou o palestrante. (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)

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