LIDERANÇAS REAGEM CONTRA SUBSÍDIOS

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A imprensa brasileira mostrou, nos jornais publicados nos últimos dias, a reação das autoridades brasileiras diante da decisão dos EUA a continuarem praticando e aumentando o protecionismo à sua agricultura, através dos mais variados artifícios. O chanceler brasileiro Celso Lafer afirmou, diante da decisão americana de manter os incentivos às exportações, isso terá "conseqüências negativas sobre as negociações multilaterais e, especialmente, no que tange às negociações para a formação da Alca". Lafer reconhece que a ampliação do volume de subsídios deverá estimular a superprodução agrícola, tendo como provável conseqüência a queda nos preços internacionais dos pro-dutos do setor, o que alimenta um "círculo vicioso" para os países competitivos como o Brasil. Mas advertiu que o governo não deixará de buscar medidas de defesa comercial para anular os efeitos dos subsídios.

Subsídio de US$ 100 bilhões - A imprensa está discutindo, com autoridades e lideranças do setor, os subsídios americanos aprovados na Câmara através da "Farm Bill", que chegam a US$ 100 bilhões até 2007 e pró-ximo a US$ 180 bilhões em dez anos. O total de incentivos ao setor aumentou 70%, beneficiando produtores de milho, soja, trigo, algodão e arroz. A decisão dos parlamentares americanos contraria frontalmente com a política de redução gradual dos subsídios pregada na reunião da OMC em Davos.

Equilíbrio na balança - O ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, afirma que se de-pender dos produtos agrícolas a balança comercial brasileira será novamente superavitária em 2002. Sua expectati-va é de que o setor contribuirá este ano com um resultado superior aos cerca de US$ 19 bilhões de 2001. O resulta-do poderia ser ainda melhor não fossem as barreiras impostas por regiões como os EUA e a União Européia. Pratini citou como exemplo os subsídios concedidos pelo governo dos EUA aos produtores americanos: por causa deles, o Brasil deixa de exportar em torno de US$ 1 bilhão em soja por ano. Mas o Brasil anunciou que para contestar os benefícios concedidos pelos EUA aos produtores. Numa ação paralela, a missão do Brasil em Genebra (Suíça), sede da OMC, também poderá pedir a instalação de um painel (comitê de arbitragem) para julgar as tarifas adicio-nais aplicadas ao suco de laranja. As autoridades estimam que o Brasil deixa de vender US$ 5 bilhões devido ao protecionismo agrícola.

Agronegócio faz a diferença - A continuação dos superávits apresentados pela balança comercial brasi-leira até agora está condicionada ao desempenho das vendas de produtos agrícolas até o fim do ano. A queda nos preços dos bens industrializados no mercado internacional, provocada pelo desaquecimento da economia americana e pela recessão na Argentina, terá que ser compensada pelo aumento das exportações de produtos básicos para ga-rantir o bom desempenho da balança. Só com a soja, que já está sendo embarcada para o exterior, o país espera vender US$ 5 bilhões este ano.

Guerra protecionista - O articulista do jornal Folha de São Paulo, Gilson Schwartz, afirmou em seu artigo publicado ontem, que "os EUA acabam de declarar uma guerra econômica ao resto do mundo, adotando uma nova lei de subsídios agrícolas que faz os protecionistas europeus e japoneses corar de vergonha". Entre os efeitos, afir-ma, "a lei castiga os países em desenvolvimento, como o Brasil, que enfrentarão mais dificuldades para gerar dóla-res a partir de suas exportações agrícolas. É mais um obstáculo, de alto custo e longo prazo, para a estabilidade da taxa de câmbio no Brasil. Ocorre que o estoque de dívidas e investimentos estrangeiros feitos nos últimos anos no Brasil criou um cenário de pressões de remessa de juros, lucros e dividendos ao exterior. Se o país não exporta o suficiente e ainda por cima enfrenta uma onda protecionista em escala global, o grau de confiança dos mercados em sua moeda e em seus títulos tende a cair", afirma o articulista.

Quanto pior, melhor - "Num debate pela TV, ouvi um comentarista afirmar perplexo que não entendia como um desses bancos, que se sabe interessado em investir no país nos próximos anos, podia ter publicado visão pessimista do país. O paradoxo entre investir no país e apostar contra o país não é tão misterioso assim. Ao contrá-rio, se o real se desvaloriza ainda mais, o comprador estrangeiro pode se beneficiar, pois a compra da empresa sai cada vez mais barata, em dólares. Levada ao extremo, essa lógica especulativa provoca a destruição da Argentina. Depois de provocarem a crise cambial retirando capitais do país, os investidores preferem um sistema em que a desvalorização não tem limites. Afinal, quanto mais destruição, mais poder se concentra nas mãos dos que saíram com dólares a tempo. No cenário mundial, o crescimento do comércio é irrisório. Após um ano de queda de 1% em volume e 4% em valor, a Organização Mundial do Comércio prevê alta de 1% em 2002. Para países endividados, ou seja", em desenvolvimento, cristaliza-se uma situação em que a sobrevivência econômica e política dependem da política de crédito das grandes potências, sobretudo dos Estados Unidos. Ao colocar lenha na fogueira dos con-flitos protecionistas, Bush indiretamente concentra ainda mais poder tanto nos organismos financeiros multilaterais sob seu controle, como o Banco Mundial e o FMI, quanto nos bancos privados internacionais que operam em escala global, em particular os norte-americanos", afirma Schwartz.

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