INDÚSTRIA I: Setor confirma desaceleração

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A produção industrial caiu pelo terceiro mês seguido em junho, em mais uma evidência da desaceleração sofrida pela economia brasileira no segundo trimestre do ano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade fabril recuou 1% em relação ao mês anterior, após quedas de 0,2% em maio e 0,8% em abril. Entre os fatores que explicam esse desempenho estão o elevado nível dos estoques em alguns segmentos e a Copa do Mundo, que reduziu o número de horas trabalhadas em dias de jogo da seleção brasileira. Mais importante, no entanto, foi a continuidade do processo de "acomodação" da produção, que havia batido recorde histórico em março.

Ritmo menor - Segundo o IBGE, a perda de ritmo foi generalizada em junho - afetando 20 dos 27 segmentos pesquisados. Entre os que mais caíram estão alguns dos que foram mais dinâmicos nos primeiros meses do ano, como veículos, produtos químicos e produtos de metal. Na análise por categorias de uso, chamou atenção a queda de 2,1% da produção de bens de capital (máquinas e equipamentos para indústria), a primeira baixa desde março de 2009.

Tendência - A avaliação da maioria dos analistas é que, após a exuberância do primeiro trimestre, algum "refluxo" já era esperado. Nesse contexto, a tendência é que a indústria retome o crescimento nos próximos meses, embora de forma mais moderada que a vista no começo do ano. "De janeiro a março, a proximidade do fim dos incentivos fiscais provocou uma antecipação do consumo e da produção de automóveis e outros bens duráveis", diz Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian. "No segundo semestre, a situação deve voltar à normalidade, para a indústria e a economia toda. O que esperamos é que não haja nem um crescimento tão forte, como o do primeiro trimestre, nem tampouco algo próximo de zero, como o que houve no segundo trimestre."

Demanda interna - A previsão é semelhante à da consultoria Rosenberg & Associados, para quem a "forte demanda interna" mantém "bastante favoráveis as perspectivas para o ano". "Devemos ter uma retomada das taxas positivas, embora modestas, no segundo semestre", afirmaram os economistas da consultoria, em relatório. Para eles, as fábricas provavelmente vão alcançar "novos patamares" de produção na segunda metade de 2010, sempre acima dos alcançados no ano passado, embora nessa evolução possam ocorrer quedas "pontuais" de um mês para o outro.

Balanço - Apesar das três baixas consecutivas entre abril e junho, a indústria ainda supera com alguma folga os níveis de 2009. Nem a Copa nem os estoques elevados impediram que a produção de junho fosse 11,1% superior à do mesmo mês do ano passado. Em todo o primeiro semestre, a expansão foi de 16,5%, com altas em 25 das 27 atividades pesquisadas pelo IBGE.

Categorias - A maior contribuição para a alta do índice geral em 2010 veio, na ordem, das indústrias de veículos automotores (cuja produção cresceu 32,3%), máquinas e equipamentos (41,9%), metalurgia básica (31,9%), produtos químicos (18,4%) e produtos de metal (35,8%). Na divisão por categorias de uso, o maior destaque foi para bens de capital, com expansão de 29,6% no semestre, seguido por bens de consumo duráveis (20,6%), bens intermediários (17,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (7,5%).

Mercado diverge sobre ritmo do aperto monetário - A desaceleração da economia brasileira, evidenciada pelo desempenho recente da indústria e pela perda de ritmo da inflação, motivou o Banco Central a reduzir o ritmo de alta da taxa básica de juros. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 21 de julho, a Selic foi elevada em 0,5 ponto porcentual, após duas altas de 0,75 ponto seguidas.

Projeções - Nos últimos 15 dias, o mercado financeiro reviu suas projeções para alguns indicadores. Embora a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 continue em 7,2%, a estimativa média para a inflação recuou de 5,42% para 5,27%, e a expectativa para o crescimento da produção industrial desceu de 12,12% para 11,98%.

Controvérsia - Por outro lado, cresceu a controvérsia em relação aos próximos passos do Banco Central. Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, prevê que a economia brasileira crescerá em ritmo próximo de 5% ao ano no segundo semestre, dispensando um aperto monetário mais forte. "Talvez haja mais uma elevação da Selic em setembro, de 0,5 ou mesmo de 0,25 ponto. Mas, se a atividade econômica se comportar da forma como esperamos, ou seja, em ritmo positivo mas não explosivo, não haverá necessidade de novas altas."

Surpresa - Mas, para o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria, a evolução do emprego, da renda e do crédito sugerem que a retomada econômica pode ser mais forte do que o Banco Central parece esperar. Por isso, "pode haver surpresa" na definição da taxa de juros. "O Copom deu sinais de que vê a desaceleração da economia como algo relativamente persistente nos próximos meses. O nosso cenário, no entanto, é de uma retomada um pouco mais forte, que, se confirmada, pode forçar uma mudança na política monetária." (Gazeta do Povo)

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