GILBERTO DUPAS E A ARGENTINA
- Artigos em destaque na home: Nenhum
* O sr estava falando sobre a Argentina. Qual seria o cenário desastroso ao qual se referiu??
* Gilberto Dupas ? Ela está numa situação hoje, afundando em recessão. Quanto mais cai em recessão, mais o governo tem que apertar, menos imposto recolhe, e vai embora por esse lado. Economicamente e socialmente vai ficando impossível. A indústria de lá se defende, quer proteção, está querendo rachar o Mercosul e tudo mais. O De La Rua e o Cavalo já gastaram a chance de tentar um outro caminho. Não fizeram isso, eles estão casados com essa estrutura, que a meu juízo vai seguir afundando. A chance de mudar isso seria quando Cavalo entrou, se ele tivesse percebido.
* Se os mercados, lá, aqui e nos Estados Unidos se convencerem que não tem ajuda externa, não leva um mês e quebra, como quebra pela perda de depósito do sistema bancário, que é o que começou a acontecer em agosto e quase foi. Quem lá é pequeno depositante tirou o dólar e pôs no colchão; quem é médio põe numa mala, pega a barca e vai a Montevideu. Quem é grande manda por vias aéreas e outras vias mais. Não tem jeito. O consumo está zero, é uma economia de concordata, ninguém paga ninguém, multinacional não está pagando conta, que é uma coisa inacreditável. Ninguém paga ninguém como se fosse a lógica da concordata. Se eu sei que eu vou pedir concordata, eu sento em cima do meu caixa e depois eu vejo como é que fica. É isso que está acontecendo lá. Isso se sustenta um mês, um mês e meio, dois meses, daí começa a dar um nó, não tem sistema econômico que rode dessa forma. E todo mundo sabe que o caminho é tirar dinheiro.
* Eles têm um problema de crédito, eles têm um problema de câmbio. Vamos entender bem: antes de um problema de câmbio, eles têm um problema de crédito. Eles precisam de crédito para rolar o sistema, e precisam de crédito se quiserem mudar o sistema, porque todo mundo deve muito. O problema deles é crédito, o câmbio é conseqüência. Agora, o problema é que eles se comprometeram com esse sistema, que é débil e não tem base econômica. Mas um regime nessa circunstância vai ser uma dureza, porque vai ter perda para muita gente. E não fazendo nada, tem repercussão no sistema bancário.
* Então, o pior cenário para nós é o que vem vindo, porque eles vão perdendo o sangue devagarzinho. Seguramente, até contar os votos e ver o que acontece, eles vão fazer mais um pacote. Tem que baixar mais um pacote, leva mais uma semana para descobrir que não deu muito certo. Então tem um mês para saber se vai ter ou não mais dinheiro. Se não tiver, roda mais mês. Aí não chega no fim de ano.
* Saiu uma pesquisa na Argentina, que me deixou mais impressionado. Só 4,5% das famílias, hoje, faz algum tipo de poupança. Pode ser 100 dólares. E 95% da população, mais ou menos, não faz 1 peso de poupança porque não tem. Como é que pode ir para frente um negócio desse? Não tem jeito. A Wolkswagen se pegou de repente, lá com 30 mil caros. Fechou a fábrica porque tem estoque para cinco meses de venda. A grande diferença do Brasil com a Argentina - não é a patriotada não - é que nós aqui nesse país temos chance de crescer. Infelizmente nós estamos crescendo aquém da necessidade e aquém da potencialidade, mas é um povo que, soltou um pouco a rédea, arranca pra frente. A gente ainda não está num sistema em que o pessoal está tão desanimado. Se vocês não sabem, Buenos Aires tem a maior concentração de psiquiatras per capta do mundo. É uma idéia da saúde mental das pessoas como é que está, está um negócio complicado, está muito complicado. Eu acho que é insolúvel. E uma coisa que eu aprendi é o seguinte: A frase famosa do falecido ministro Mário Henrique Simonsen: a inflação incomoda, mas o câmbio é mortal. Pelo setor externo nós morreremos, e eles vão morrer pelo setor externo, não tem como escapar, não tem jeito. É isso, então se nós formos olhar. Ele é mais irrelenvante por causa do dólar, dá um tapa para cima, mas aí não vai durar muito não.