FÓRUM FINANCEIRO I: Cuidados para reduzir impacto da crise financeira mundial

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Evitar o pânico é o primeiro conselho do especialista em economia rural e professor da Universidade Federal do Paraná, Eugenio Stefanello, aos agricultores e empresas do agronegócio diante da crise financeira mundial e que começa a repercutir em toda a economia. Na manhã de hoje (9/10), Stefanello proferiu palestra para executivos das cooperativas paranaenses sobre o tema "Análise dos Impactos da Crise Internacional para o Agronegócio". A palestra fez parte do Fórum Financeiro e de Mercado promovido pelo Sistema Ocepar. O superintendente adjunto da organização, Nelson Costa, que abriu o evento, explicou que o objetivo do fórum foi perceber a real dimensão da crise e buscar formas de reduzir o seu impacto no setor cooperativista.

Ativos reais  x especulação - Stefanello iniciou sua apresentação mostrando que as principais razões da crise que se abateu sobre o mundo estão ligadas à especulação (volatilidade do dinheiro que gira pelo mercado financeiro) e à incapacidade do banco central americano controlar esse mercado. Explicou que enquanto o PIB mundial tem um valor real de US$ 55 trilhões, o sistema financeiro girava U$ 1,5 a U$ 2,00 trilhões por dia, portanto incoerente com a base da economia (ativos reais) e em desacordo com o Acordo de Basiléia. Enquanto o acordo exige 8% de patrimônio em relação ao total de crédito, os bancos ignoraram completamente essa determinação, ultrapassando várias vezes esse limite.

Economia brasileira mais ajustada - Embora o Brasil tenha uma política de atração de capital (altas taxas de juros) que contribui para a evasão de ativos com origem na especulação financeira de grupos internacionais, o país cumpre com folga o Acordo de Basiléia, tendo 11% do patrimônio em relação ao total de crédito. Por outro lado, enquanto que os brasileiros destinam cerca de 30% da sua renda para o pagamento de dívidas de crédito, os países mais desenvolvidos do mundo destinam de 80 % a 240%, causando um grande desequilíbrio que culminou com a atual crise no sistema financeiro. Essa aparente situação de ajuste, no entanto, não exime a economia brasileira dos efeitos da crise, explicou Stefanello.

Impacto no crédito rural - Essa crise vai ter conseqüências diretas no crédito rural da próxima safra, entre as quais: menos recursos em função da redução dos depósitos à vista e das exigibilidades bancárias; seletividade maior e prazos menores; aumento dos juros de mercado; atraso na liberação;  limite oferta de crédito para a venda de insumos e a compra antecipada de produtos (CPR); menos crédito de comercialização e de exportação, entre outros. O aumento dos custos de produção é irreversível e deve chegar próximo a 20% no segundo semestre de 2009, como das taxas de juros, que devem ir de 9 a 10% para 12 a 22%.

Taxas básicas de juros - Um dos problemas da economia brasileira, explicou Stefanello, é a necessidade de atrair capital para rolar a dívida interna, para isso praticando uma taxa básica de juros de 7,1%, o que tem atraído capital especulativo e contribuído para a redução da taxa de câmbio. Os principais países desenvolvidos praticam uma taxa básica de juros de 0 a 2,5%, enquanto os melhores pagadores (com exceção do Brasil) praticam taxas de 2,95% ao ano.

Tendência nos preços - Essa crise afetará também os preços das commodities, mas não de forma dramática. Há várias razões para isso, entre as quais a redução do consumo mundial de alimentos e a provável saída dos especulares (fundos financeiros) do mercado de cereais. O professor Eugenio Stefanello explicou que esses fundos eram responsáveis por entre 40 a 50% na formação dos preços das commodities. Na soja, por exemplo, Stefanello não acredita que o mercado voltará a pagar US$ 16.7/bushel (melhor preço alcançado até hoje), mas também não deverá cair num valor insignificante. O trigo poderá ter seus preços ao produtor melhorado em função da falta de crédito de financiamento no mercado mundial, o que obrigará os moinhos a se voltarem para o produto nacional, aumentando a procura e, em conseqüência, os preços.

Para evitar o pior - "Nada de pânico", exclamou Stefanello. "Quem tem dívida em dólar não se desespere, fique como está", aconselhou. Nesse momento, o pânico pode ser a pior decisão, pois a taxa de câmbio deve voltar a um patamar mais confortável. O agricultor deve enfrentar a crise que vem aí com a redução de investimentos e custos e adotar a venda parcelada da safra para conseguir um preço médio. "Vendas parcelas e distribuídas no tempo", frisou. A prioridade deve ser o pagamento de dívidas e a recomposição do fluxo de caixa. Às empresas do agronegócio e cooperativas o conselho igual: adequar os projetos de investimentos, fazer a comercialização mais espaçada, diversificar mercados e preparar-se para desarranjos no setor. "É preciso reforçar o fluxo de caixa", aconselhou.

Proteção - Evitar a especulação a qualquer custo é essencial para evitar problemas, mas é aconselhável fazer proteção via mercado futuro: hedge de preço e de câmbio. "Remover gargalos de custo e reforçar as ações de conjunto", aconselhou. Stefanello aconselhou os executivos das cooperativas a conversarem mais antes de tomarem decisões importantes, pois a experiência e a troca de informações ajuda a formar um quadro mais real da situação. Ao finalizar sua palestra, enfatizou que embora a crise seja séria e afetará todo o mundo, não é desesperadora, sendo possível sobreviver e ainda tirar algumas lições que nortearão os negócios futuros.

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