FORUM DOS PRESIDENTES III: Economia se recupera, mas crédito é escasso

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As cooperativas paranaenses pouco sofreram com a crise financeira que abalou o mundo mais fortemente no último ano. Mas sentem uma importante restrição do crédito, com redução da oferta e aumento das exigências para aprovação dos pedidos de financiamento. Na manhã desta quarta-feira (27/05), dirigentes comentaram a palestra feita na terça-feira (26/05) pelo ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, na abertura do Fórum dos Presidentes das Cooperativas Agropecuárias do Paraná. Eles concordaram com a opinião do conferencista de que há sinais "do começo do fim da crise", e que a recuperação, na opinião de Maílson, terá uma duração de dois anos aproximadamente. Para algumas cooperativas, a crise provocada pela longa estiagem que afetou duas safras é pior do que a crise econômica mundial.

Restrição ao crédito - A restrição ao crédito não afeta apenas as cooperativas agropecuárias, mas também as crédito, que repassam recursos dos agentes oficiais para seus cooperados fazerem investimentos na agropecuária. De acordo com Adolfo R. Freitag, presidente da cooperativa de crédito Sicredi Costa Oeste, que tem sede em Marechal Cândido Rondon, "sobrou menos dinheiro dos bancos para repasse aos agricultores" e a estiagem afetou fortemente a área de atuação da cooperativa. Apesar disso, a cooperativa continua crescendo em recursos e deve fechar o ano com ativos de R$ 120 milhões. A Sicredi Costa Oeste é a 9ª cooperativa do Sicredi em ativos e a  segunda em resultados.

Lar - "Há ainda muita restrição de crédito, pois os bancos reduziram os seus limites. Existe muita restrição, mais exigências em garantia, pois o bancos pensam que está todo mundo em crise. Isso ocorre nos bancos privados e oficiais", observa Irineo Rodrigues da Costa, presidente da Cooperativa Agroindustrial Lar, de Medianeira, que atua fortemente no mercado externo, especialmente na exportação de frango. "Realmente há um sinal de que a crise passou. No último trimestre de 2008 tivemos queda nos preços do frango e dos grãos, pois ninguém comprava, e se estabeleceu a crise. Mas os alimentos saíram, os estoque estão sendo recompostos, as empresas reagiram e há um sentimento de que para a agricultura a crise está passando". A cooperativa, que projetou um faturamento para 2009 um pouco superior ao de 2008, "até abril cumpriu com essa meta, apresar da seca e da frustração da safra, embora o resultado esteja muito apertado", afirma o presidente. Acreditando no fechamento do ano com resultado positivo, a Lar está mantendo o plano de investimentos na avicultura, suinocultura e parque industrial.

Coamo - Para José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo, os produtores de alimentos não sentiram a crise econômica mundial, nem a cooperativa, que continua fazendo vendas no mercado externo, embora as companhias tenham reduzido a compra de grandes volumes. "Mas o que sobra é a seca da lavoura de verão e a seca da lavoura de inverno, que vai afetar os cooperados. Alguns perderam 10% a 20% e outros de 80% a 90%, conforme a região", disse. "Mas já estamos acudindo os cooperados com prorrogações, prazo de safra, para ele poder se manter", explicou. A Coamo também está mantendo investimentos programados para este ano.

Repensar e buscar escala - O presidente da Corol, Eliseu de Paula, também sente que a falta de recursos para capital de giro é uma das conseqüências da crise financeira mundial para o agronegócio. Mas, para ele, nas crises é que surgem as grandes soluções: "É um momento de repensar, enxugar o supérfluo. É oportuno, mesmo para as boas empresas, que estão aproveitando esse cenário para repensar. Segundo Eliseu de Paula, a grandeza do país, com muito consumo interno, permite "virar essa página tranquilamente". Afirma ainda que o produtor e a cooperativa estão fazendo a sua parte, plantando, colhendo, comercializando, "mas é preciso que o governo faça a sua parte; tem muita coisa para resolver, como a carga tributária muito alta". Disse também que o sistema cooperativista tem que se aproximar mais, "dar maior sinergismo intercooperativas, tem que buscar escala. Precisamos de muito escala e unidades de negócios, unidades de resultados", apelou. Afirmou também que o sistema cooperativista, que vinha investindo no crescimento, "estava embalado e não podia frear".

Carga tributária continuará alta - Em curto e médio prazo, dificilmente o Brasil terá condições de reduzir sua carga tributária, afirmou o ex-ministro Maílson da Nóbrega, ao responder uma pergunta formulada por um dirigente cooperativista durante sua palestra. E explicou o motivo principal: o alto comprometimento do PIB com a previdência social, que chega a 13% do total, enquanto países mais desenvolvidos comprometem apenas 4%. Pior, afirmou, são os projetos apresentados para reajustar as aposentadorias em índices maiores que os atuais. E como a curto prazo é impossível reduzir o impacto do custo da previdência nas contas do governo, a carga tributária terá que ser mantida.

Período de ajustes - Há bons sinais de estabilidade e de recuperação da economia, disse Maílson da Nobre aos dirigentes das cooperativas. E mostrou as seguintes tendências da economia para breve: 1. Valorização da taxa de câmbio ao longo do ano; 2. Declínio da inflação, determinando uma redução da taxa de câmbio; 3. Espaço para maior queda da taxa de juros; 4. O crédito se normaliza no segundo semestre; 5. Recessão mundial atinge pior fase no primeiro semestre.

Projeções - Inflação próxima a 3,9%, câmbio na casa dos R$ 2 e taxa de juros (Selic) de 9%. Esta é a projeção que o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega faz para o país até o fim de 2009. Na palestra sobre as perspectivas econômicas do Brasil, durante o Fórum dos Presidentes, Maílson mostrou-se confiante quanto à reação a crise e fez uma análise dos indicadores financeiros do país. "Temos instituições consistentes, uma democracia consolidada e uma diversificação produtiva com imenso potencial, a exemplo do agronegócio", disse. Para o economista, ter câmbio flutuante, um Banco Central autônomo e um sistema financeiro sólido, está fazendo toda a diferença neste momento de turbulência. Aliado a esses fatores, Maílson cita as medidas de saneamento dos bancos, que ocorreram com o Proer, e a estabilidade econômica conquistada nos últimos anos. "O povo percebeu que bom mesmo é a estabilidade. Poucos hoje persistem na tese de que a inflação é necessária para o crescimento da economia", afirmou.

Devedor - Segundo o ex-ministro, desde a independência, em 1822, o Brasil sempre foi um devedor. "Hoje, pela primeira vez na história, o país é credor, com US$ 202 bilhões em reservas, enquanto a dívida externa do setor público não passa de US$ 68 bilhões", analisa. Para Maílson, o Brasil pode sair da crise fortalecido. "Países em desenvolvimento já respondem pela metade da economia global. A reunião do G20 em Londres foi a primeira em que países emergentes foram participantes ativos das discussões e reflexões sobre a crise. Antes, tais debates seriam feitos no âmbito do G7. Não há dúvidas de que o Brasil já é um ator importante da economia global, junto com a China, Índia, México e Rússia", disse. 

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