EXPEDIÇÃO SAFRA: Autoridades prestigiam início da colheita no Piauí

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A abertura simbólica da colheita no Centro-Norte do Brasil, que ocorreu nesta quinta-feira (26/03), no Piauí, com a presença do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e do presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, expõe o potencial da mais nova e também uma das últimas fronteiras agrícolas do país. Maranhão, Tocantins, Piauí e Oeste da Bahia, região que ficou conhecida como Matopiba - sigla que reúne as iniciais de cada estado -, somam juntos 3,5 milhões de hectares de soja e milho, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) da safra 2008/09. A área é menor do que a cultivada apenas com soja no Paraná, que no ciclo atual fica perto de 4 milhões de hectares.

Interesse - O interesse pela região, no entanto, é pautado não pela extensão explorada atualmente, mas pelas projeções de incorporação de novas áreas à produção agrícola. Números da Expedição Safra da RPC, que no ano passado mapeou a região com um grupo de técnicos e jornalistas, revelam que em até 10 anos o mapa agrícola do Matopiba pode saltar para dez milhões de hectares. A depender de uma série de variáveis, como infraestrutura, clima, mercado e preço, soja e milho (as duas culturas respondem por 80% da produção brasileira de grãos) podem ganhar 6,5 milhões de hectares na região.

Pontapé inicial - A largada da colheita será no Distrito de Nova Santa Rosa, município de Uruçuí, a 600 quilômetros da capital piauense, Teresina. Nessa localidade vivem 120 famílias, migrantes principalmente do Rio Grande do Sul e do Paraná. A intenção dos produtores é destacar ao ministro o que eles chamam de diferencial logístico da fronteira Matopiba, devido à proximidade do porto e do centro de consumo que cresce nos estados do Nordeste.

Vantagem logística - Karl Eduard Milla, produtor na região da cooperativa Agrária, no Paraná, e no município de Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí, explica que a vantagem logística em relação ao Centro-Oeste, por exemplo, é meramente pelas distâncias. "Estamos mais próximos dos canais de exportação e consumo, mas a infraestrutura de escoamento, como estradas e ferrovias, ainda é muito precária e precisa ser melhorada para tornar, de fato, o agronegócio mais competitivo nessa nova fronteira."

Ciclo diferente - Na parte de cima do mapa brasileiro, o agronegócio revela um ciclo diferente da produção de grãos no país. Enquanto no Sul a colheita da safra de verão está na fase final, no Centro-Norte ela está apenas no começo, no caso do Piauí. Quanto mais para cima, explica Robson Mafioletti, da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a safra termina ainda mais tarde, entre maio e junho, como na região de Chapadinha, no Maranhão, próxima a São Luiz.

Expedição Safra - As informações e projeções de área no Matopiba foram organizadas e levantadas com apoio da equipe técnica da Expedição Safra, que conta com a participação de analistas da Ocepar, Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Federação da Agricultura do Paraná (Faep).

Infraestrutura - Para os produtores do Piauí, a visita do ministro é uma chance de a região mostrar que a produção de soja pode ser expandida com uma melhoria na infraestrutura. Se considerado o quadro de dez anos atrás, a situação melhorou. Porém ainda faltam investimentos em necessidades básicas, principalmente estradas, relatam. O principal problema para o escoamento da produção é a falta de via pavimentada até o Porto de Itaqui, no Maranhão, a 900 quilômetros do polo de produção de soja do Piauí, afirma o produtor paranaense Ari Marcolin. "Os caminhões seguem por 200 quilômetros de estrada de terra até chegar ao asfalto."

Ferrovia - O acesso à ferrovia Transnordestina também depende de investimento do governo federal. Os trilhos devem chegar a Eliseu Martins, município que tem ligação asfaltada com Uruçuí e Bom Jesus - centros de produção de grão. No entanto, o projeto não tem avançado, segundo os agricultores. Um porto seco em Eliseu Martins ficaria a menos de 200 quilômetros da maior parte das lavouras piauienses.

Potencial - A produção de grãos do Sul do Piauí poderia se multiplicar rapidamente se houvesse mais estrutura de estradas, armazéns e acesso a crédito, sentencia o produtor Adimilson Kpacieski, da região de Iretama (Noroeste do Paraná). Ele foi para Bom Jesus há dez anos, depois de adquirir 500 hectares de terra. No ano passado, dobrou a área. As estimativas mais otimistas dizem que a produção pode ser ampliada em até dez vezes. Os produtores da região relatam preservar 30% de suas áreas como reserva ambiental. Eles contam que, se não o fizessem, perderiam o acesso ao crédito público e ficam sem condições de produzir. (Caminhos do Campo / Gazeta do Povo)

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