Ex-ministro Maílson da Nóbrega diz que 2006 será melhor
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Um dos conferencistas convidados pela Intertrading 2005, para evento realizado em Curitiba, na noite desta quinta-feira (20/10), foi Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo de José Sarney, hoje da empresa Tendências e colunista econômico do jornal O Estado de São Paulo, falando para uma platéia composta por profissionais de mercado financeiro e do agronegócio, ele disse que o cenário que se desenha para 2006 é de tranqüilidade, pelo menos em termos econômicos. Maílson da Nóbrega indica como pontos importantes para um cenário otimista no ano que vem o crescimento da massa salarial em 6% acima da inflação, crescimento no crédito, entre 28 a 30% do PIB, política econômica voltada para a maioria e não para crescer a qualquer custo, democracia, liberdade de imprensa, economia orientada pelo mercado, ancorada em fortes instituições, políticas sócias a favor dos pobres e que estamos caminhando rumo a um novo modelo de desenvolvimento. O palestrante apresentou um quadro onde traduz a sua expectativa de que a economia experimentará um ano melhor:
Fatores |
Ano 2005 |
Ano 2006 |
PIB |
3,5 |
4,0 |
IPCA (inflação) |
5,1% |
4,2% |
Taxa de juros (Selic/dezembro) |
18% |
15% |
Taxa de câmbio (R$/US$) |
2,30 |
2,40 |
Balança comercial (US$ Bilhões) |
42,0 |
35,0 |
Investimentos externos (US$ Bilhões) |
16,0 |
18,0 |
Riscos – Maílson da Nóbrega fez questão de alertar que existem também alguns riscos para que este seu otimismo não prevaleça, como por exemplo problemas com a economia americana, excesso de poupança. Hoje o Brasil, Argentina e Venezuela são países que mais poupam; agravamento da crise do petróleo; crise política; sucessão presidencial; falta de infra-estrutura; legislação trabalhista atrasada; tributação excessiva. “Há muito a resolver, mas dá para ser otimista”, lembrou o palestrante.
Ministério - Maílson da Nóbrega assumiu o Ministério da Fazenda em janeiro de 1988 no lugar de Bresser Pereira, propondo realizar uma política econômica do "Feijão com Arroz": conviver com a inflação sem adotar medidas drásticas, mas apenas ajustes localizados para evitar a hiperinflação. A inflação saiu dos 366% de 1987, para atingir 933% ao longo de 1988. Em 15 de janeiro de 1989, Maílson da Nóbrega apresentou um novo plano econômico: criou o Cruzado Novo (cortam-se três zeros); impôs outro congelamento de preços; acabou com a correção monetária; propôs a privatização de diversas estatais e anunciou vários cortes nos gastos públicos, com a exoneração dos funcionários contratados nos últimos cinco anos. Os cortes não foram feitos, o plano fracassou e a inflação disparou. Só em dezembro de 1989, os preços subiram 53,55%. De fevereiro de 1989 a fevereiro de 1990, a inflação chegou a 2.751%.
Política – Durante sua palestra em Curitiba, Maílson da Nóbrega também arriscou fazer uma análise política, afinal, segundo o próprio palestrante, a economia também depende muito deste setor. Para ele, o presidente Lula ficou 25 anos criticando o modelo que aí estava e dizia que iria fazer diferente. “Foi eleito, chegou lá, escreveu a Carta ao Povo Brasileiro e fez tudo igual”. Segundo ele vivemos um governo de contrastes devido a “inexperiência e incompetência”. Ele vê a condução da política econômica de forma muito positiva e diz que a “salvação” do atual governo são os ministros Antônio Palocci (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), Luiz Fernando Furlan (Indústria e Comércio) e Roberto Rodrigues (Agricultura). Ele apresentou um quadro com quatro alternativas políticas prováveis para a sucessão presidencial no ano que vem:
Cenário |
Descrição |
Probabilidades |
Tendência de evolução do cenário |
01 |
Vence candidato do PSDB |
45% |
Tendência de Crescimento |
02 |
Vence Lula |
40% |
Estagnada |
03 |
Lula não disputa |
10% |
Em queda |
04 |
Impeachment de Lula |
5% |
Estagnada |
Quadro político – Mailson afirma que, independentemente do cenário, a disputa pela Presidência da República será bastante acirrada, hoje, configurando-se a possibilidade de um segundo turno entre Lula e um candidato do PSDB (José Serra ou Geraldo Alckmin) a vitória de um ou outro, “será por um pescoço”, ou seja, diferença mínima. Ele diz que o ex-governador Antony Garotinho é um candidato pouco viável e que César Maia foi apenas um “balão de ensaio”. Para ele o PMDB escolherá seu candidato entre Garotinho, Roberto Requião (Paraná) e Germano Rigotto (Rio Grande do Sul). “Garotinho provavelmente será traído pelo PMDB, que já é uma tradição, pois o PMDB não é um partido e sim um aglomerado, uma colcha de retalhos”, alfinetou o ex-ministro.
Agronegócio – Também participou como palestrante da Intertrading 2005, o consultor da Bolsa de Chicago, corretor e analista, Alvaro Ancêde que fez uma análise sobre as perspectivas de preços da soja para o início de 2006. Para o consultor, diversos fatores tem interferindo no mercado, entre eles, a variação do preço da soja no mundo, quebra de produtividade, área plantada no EUA estável. Segundo os números apresentados por Ancêde a perspectiva de preço para a soja deverá ficar entre 5 a 6 dólares por bushel o que daria em torno de US$ 12,10 por saca, que num câmbio de R$ 2,30, daria um valor de aproximadamente R$ 27,90 por saca, próximo do custo de produção.
Estoques
– Alvaro Ancêde também disse que os estoques mundiais de
soja no mundo estão bastante altos com relação a safra
colhida e que os Estados Unidos já estão com sua safra consolidada
e que foi ótima. Para ele a América Latina (Brasil, Argentina,
Paraguai e Bolívia) contribuirá para o aumento da produção
de soja no mundo, com uma produção aproximada de 105 milhões
de toneladas, dos quais, apenas o Brasil participará entre 58,5 e 60
milhões de toneladas e a Argentina com cerca de 40 milhões de
toneladas.. “Em 2002 a América Latina ultrapassou os EUA na produção
de soja”. Segundo ele, alguns fatores podem contribuir para a melhoria
do preço dos commodities, como por exemplo a febre aftosa no Brasil e
a gripe aviária na Europa. “Com a diminuição do consumo
de carne bovina, o frango passa a ser um atrativo e com isso aumenta a demanda
por consumo de farelo”.