EVENTO II: “Não existe pensar no futuro da atividade leiteira sem pensar no Sul do Brasil”

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dia do leite II 03 06 2022“Não existe pensar no futuro da atividade leiteira do Brasil sem pensar no Sul do país como polo produtor de leite”. A afirmação é do coordenador da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (CSLEI/Mapa) pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Vicente Nogueira Netto, feita por ocasião de visita ao Jornal O Presente na quarta-feira (01/06), após palestrar no 1º Dia do Leite, evento promovido pelo Jornal O Presente Rural, em parceria com a Frimesa.

Crescimento - Netto destacou o crescimento da pecuária leiteira nos últimos dez anos nos três Estados sulistas, com o Paraná no centro deste desenvolvimento ao modernizar seus processos produtivos, intensificar medidas de sanidade, manejo, bem-estar animal, incentivos à profissionalização da atividade e a produção mais sustentável.

Segundo maior produtor - O Estado desponta como segundo maior produtor de leite do Brasil, ficando atrás apenas de Minas Gerais. São produzidos por um rebanho de três milhões de vacas, em média, 4,4 bilhões de litros ao ano, o que corresponde a 13,6% do volume nacional. “Quando todo mundo imaginou que o leite iria se desenvolver na região do Cerrado, para onde a agricultura encontrou solo fértil e a suinocultura espaço para se firmar, o leite seguiu caminho inverso e cresceu no Sul do país”, analisa Netto.

Dependência interna - O leite é um dos alimentos mais consumidos no mundo e uma das mais importantes cadeias do agronegócio nacional. Nas últimas cinco décadas, a produção no país cresceu sete vezes, saltando de cinco para quase 35 bilhões de litros por ano. Apesar da expressiva produção, o setor abastece apenas o mercado interno, tendo participação ínfima na exportação do produto, menos de 1%.

Continuidade - Netto diz que essa dependência doméstica continuará existindo, porque, diferente de outros produtos, com o leite não é fácil ganhar mercado externo. “Diferente dos outros produtos, que ganhamos exportação rapidamente, a expansão de produção na pecuária do leite não ocorre com a mesma rapidez que acontece de um ano para o outro quando se aumenta a área de plantio da soja, por exemplo. No leite precisamos lidar com a gestação de uma vaca que tem nove meses e não há como reduzir isso. Se o produtor decidir hoje que quer aumentar sua produção, terá que começar a produzir mais vacas, ou seja, uma decisão tomada hoje terá efeito somente daqui a dois, três anos”, evidencia.

Característica particular - Segundo o coordenador da Câmara do Leite, o setor lácteo tem uma característica particular frente às demais commodities: é uma atividade que desenvolve pelo mundo principalmente os seus Estados, são poucos os países exportadores e, no máximo, 6% da produção é comercializada entre países. “A Austrália está enfrentando muitos problemas climáticos, com isso reduziu sua importância no mercado internacional, Argentina e Uruguai exportam pouco e os Estados Unidos tem aumentado bastante a participação no mercado internacional, porém muito com ingredientes, vendendo pouca commodity. Os americanos são muitos pragmáticos”, expõe Netto.

Cenário atual - Por outro lado, ele vislumbra que existem muitas oportunidades para a cadeia leiteira crescer no Brasil, traçando uma análise do atual momento do mercado mundial. “Vamos seguir crescendo porque temos uma atividade leiteira pujante, a participação no mercado internacional deve ser menor, mas, em contrapartida, temos muito espaço para crescer no Brasil. Se olharmos a curto prazo nós temos uma condição, neste momento, muito melhor do que no mercado internacional, que vive em função da Covid-19, com problemas de não recuperação da economia nos Estados Unidos, com os norte-americanos enfrentando uma inflação acima de 8%, com a China experimentando lockdown nas principais cidades (em virtude do avanço de casos do coronavírus). Aqui no Brasil só temos boas notícias, o PIB (Produto Interno Bruto) foi revisado para cima, há criação de empregos formais bastante sustentável e o nível de desemprego caiu para patamares de antes da pandemia”, aponta.

Alta do leite em junho - No entanto, após sucessivas quedas, o preço do leite subiu a patamares elevados, tendo projeções nada animadoras para o consumidor, principalmente para o mês de junho. De acordo com Netto, a alta é motivada, principalmente, pela elevação do custo de produção e pela queda do investimento no setor. O leite longa vida – vendido em caixinha – e os queijos ficaram quase 15% mais caros nos últimos 12 meses. “As perspectivas para 2022 são boas para a atividade leiteira após os produtores passarem por um período conturbado. Os preços que vamos encontrar no mês de junho, entretanto, serão ‘salgados’ para o consumidor. O produtor, contudo, consegue recuperar a produção rápido, porque consegue melhorar as condições de alimentação e ampliar número de ordenhas. O melhor insumo para o produtor de leite é o preço, e isso ele está tendo agora”, enfatiza Netto.

Companhia - Acompanharam Netto na visita ao O Presente Rural o presidente Cooperativa Central do Produtores Rurais de Minas Gerais, Marcelo Candiotto, e o analista técnico institucional da OCB, Fernando Pinheiro. (O Presente Rural)

FOTO: Jaqueline Galvão / OP Rural

 

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