Entre os supérfluos e a tecnologia

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O caderno Folha Rural, de 03/09/05, do jornal Folha de Londrina, traz oportuna reportagem sob o título "Terra Nua", escrita pela jornalista Célia Guerra, que transcrevemos adiante. O jornal traz, em sua manchete o conselho que está claro no texto da jornalista: O agricultor não deve reduzir tecnologia!:

Indecisão. Eis o sentimento dos produtores para a safra de verão que se aproxima. Previsões apontam mais um ano de dificuldades. Mas vencer desafios é o mérito do homem do campo. A sugestão é investir em tecnologia e racionalizar recursos. Neste momento é importante ouvir os técnicos e trocar idéias junto às cooperativas. Não é hora de 'economizar' em tecnologia. Tudo indica que o mercado não será dos melhores. Então o agricultor pode estar pensando: vou usar menos insumos para reduzir custos. Certo ou errado? Errado. É justamente neste cenário que ele deve usar a tecnologia e aumentar a produtividade para compensar redução da margem de lucros.

O cenário da safra de verão começa a se desenhar e com ele a grande incerteza dos produtores descapitalizados e ainda tentando superar a crise que se abateu sobre o setor. As previsões de mercado não apontam para melhorias em ítens que dependam da relação cambial. A baixa cotação do dólar - apontada como um dos fatores da crise - não tem perspectiva de mudança, a não ser em decorrência de circunstâcias, como agravamento da crise política interna.

Sobre a tendência da nova safra, diante de um quadro comercialmente desfavorável, a Folha Rural ouviu produtores, economistas e lideranças. O que fazer, afinal: economizar no custo de produção (e correr o risco de perder mais com uma baixa produtividade) ou investir em tecnologia para compensar os preços baixos.

''Teremos mais um ano muito difícil. É preciso racionalizar ao máximo o uso de recursos e buscar alternativas mais baratas'', aconselha Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). Ele mostra as estimativas de produção que indicam para uma redução de 2,7% na área de soja e um aumento de 5,7% no plantio de milho. Já o índice global da lavoura de verão no Estado mostra um recuo de 0,4% na área plantada. Racionalizar recursos, não significa reduzir o uso de tecnologia. Turra sugere uma revisão dos gastos mas não abrir mão dos insumos. Tanto que ele alerta para a decisão de alguns produtores em reduzir custos com menor uso de tecnologia. ''A redução de tecnologia provoca quebra na produtividade''. Economia no campo, explica, se faz com outros cortes considerados dispensáveis ou adiáveis. ''Investimentos em carros e renovação da frota podem esperar um pouco mais'', orienta.

No auge da crise, durante as mobilizações, lideranças já se mostravam preocupadas com a possibilidade de menor uso de tecnologia para essa safra. Fato que vem se confirmando, segundo as empresas do setor, que registram baixos índices de comercialização de defensivos. Nas cooperativas nem mesmo a venda dos pacotes tecnológicos promocionais atraiu produtores. A Cocamar, em Maringá, segundo informou a assessoria de imprensa, tinha uma previsão, feita no início do ano, de atingir R$ 250 milhões em 2005. Mas, recentemente, revisou esse número para R$ 220 milhões. Em 2004, as vendas chegaram a R$ 230 milhões.

Na Cooperativa Integrada, em Londrina, ''a indecisão dos produtores não nos motivou para as promoções de venda antecipada'', justifica o presidente Carlos Yoshio Murate. ''Os produtores estão analisando os preços de mercado para decidir se plantam milho ou soja'', afirma. Com isso, a procura por sementes e fertilizantes, segundo Murate, está bem abaixo do que se registrou nessa mesma época em anos anteriores. ''Pelo menos 30% de nossos cooperados ainda não se manifestaram'', afirma. O presidente da Integrada teme dificuldades em atender à demanda de última hora. ''As recomendações de produtos para essas duas culturas são diferentes'', observa.

Luiz Traldi, diretor de planejamento estratégico da multinacional Milenia, informa que a demanda por defensivos está de 15% a 20% abaixo do volume normal de negociações índice segundo ele, bastante expressivo considerando o momento de alta demanda que deveria estar ocorrendo. ''Os produtores estão deixando as decisões para a última hora'', afirma. Traldi partilha da opinião de Carlos Murate, da Integrada, de que esse comportamento ''pode trazer problemas pontuais de logística, transporte e armazenamento''. ''O produto desejado pode não chegar à propriedade no momento em que o produtor precisa'', alerta.

O diretor da Milenia destaca que a baixa cotação do dólar traz um aspecto positivo para quem se prepara para o plantio: houve queda ''significativa'' nos preços dos defensivos especialmente aqueles em que a matéria-prima é importada, como os herbicidas á base de glifosato. ''Análise desses custos são muito importantes para a decisão de plantio. Uma safra plantada com custo menor, tem a tendência de ser vendida a preços melhores'', defende. Luiz Traldi garante que o momento é bastante positivo para a tomada de decisão. ''Os preços estão favoráveis para o agricultor. Se ele deve decidir que o faça agora'', aconselha.

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