ECONOMIA: Mercado espera menos PIB e inflação

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O fraco desempenho da economia brasileira nos primeiros meses de 2012 e a piora no quadro externo promoveram intensas reduções nas estimativas dos economistas para a produção industrial e para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nas últimas semanas. O Boletim Focus, do Banco Central, mostra que a mediana das projeções para o crescimento da produção industrial baixou de 1,94% há um mês para 1% nesta semana. Da mesma forma, a expectativa de expansão do PIB recuou de 3,20% para 2,53% no mesmo período.

 

Inflação - O boletim também mostra que os analistas já acreditam que a atividade fraca está ajudando a trazer a inflação mais para perto da meta. Nas projeções, o mercado já espera que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 5,03%.

 

Emprego industrial - A dificuldade em se reativar a economia brasileira e o agravamento da crise na Europa, dizem os economistas, ainda poderão ter reflexos expressivos no emprego industrial nos próximos meses, influenciando o desempenho de outros setores, como o de serviços. Até pouco tempo atrás, a explicação para a manutenção do emprego na indústria, apesar das sucessivas quedas na produção, era o entendimento de que a má fase seria passageira. "Após um semestre inteiro fraco, as incertezas aumentam e o mercado de trabalho começou a responder a isso", diz Mauro Schneider, economista-chefe da BanifInvest.

 

Redução nos postos de trabalho - Os dados mais recentes da pesquisa de emprego industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no primeiro trimestre, houve redução de 0,3% nos postos de trabalho em relação aos últimos três meses de 2011, configurando o segundo resultado trimestral negativo consecutivo. A produção industrial, porém, já vinha apresentando queda nesta base de comparação desde o segundo trimestre do ano passado, tendo recuado 1,1% nos 12 meses encerrados em março. Neste período, a ocupação na indústria cresceu 0,2%, e os rendimentos subiram 3,9% acima da inflação. Hoje, o IBGE divulga os números referentes a abril. "É provável que o emprego industrial encolha no segundo trimestre e não esperamos crescimento neste ano.

 

Expectativa - Para 2012, a expectativa é de estabilidade na ocupação, com a produção industrial aumentando apenas 0,4%", afirma Alexandre Andrade, economista da Votorantim Corretora. Ele ressalta que o fraco desempenho da indústria foi o principal fator que levou a instituição a revisar de 2,9% para 2,2% sua estimativa para a expansão do PIB neste ano. "Alguns setores industriais importantes, como o automotivo, estão com estoques muito altos. Esperávamos uma recuperação da indústria no segundo trimestre, o que aparentemente não acontecerá."

 

Estoques e capacidade instalada - Os estoques acima do previsto e a folga no uso da capacidade instalada, acrescenta Andrade, também contribuem para um panorama menos favorável ao emprego industrial. Há mais de um ano, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), gira em torno de 84%. "O desempenho da indústria nos próximos meses vai depender da efetividade das medidas de estímulo promovidas pelo governo e do cenário internacional. Se não houver uma resposta positiva, a confiança do setor não melhorará e, consequentemente, não haverá investimentos e contratações", resume o economista da Votorantim Corretora.

 

Reação - Fábio Romão, da LCA Consultores, espera uma reação da indústria no segundo semestre diante das medidas de estímulo ao setor. "Mas é possível que tenhamos mais um trimestre de retração no emprego industrial antes que a situação comece a melhorar", afirma. Com os estoques elevados, ele acredita que levará um tempo até a que a indústria reorganize a produção e volte a contratar.

 

Amortecimento - Por ora, comenta Schneider, o impacto das demissões na indústria está sendo amortecido pelo comércio e pelos serviços, que se mantêm robustos. "Mas, como os setores da economia se comunicam, em algum momento o enfraquecimento da indústria vai bater nos outros setores", afirma. Tal reflexo, esclarece o economista, poderá se dar tanto pela menor absorção de mão de obra quanto pelo arrefecimento dos negócios. "Uma empresa que presta serviços de transporte, por exemplo, terá menos trabalho se não houver produção para transportar", exemplifica.

 

Ligação tênue - Essa ligação da indústria com os demais setores da economia, entretanto, tem se tornado mais tênue nos últimos meses devido ao ganho de renda da população, avalia Romão. "Os serviços estão sendo preservados pelos aumentos salariais, pela inflação menor e pela escassez de profissionais em alguns segmentos", afirma. Além disso, a participação da indústria no PIB vem caindo, tendo passado de 30% em 2004 para 27% em 2011. No mesmo período, a fatia do setor de serviços, que no PIB inclui o comércio, aumentou de 60% para 67%. (Valor Econômico)

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