CRISE FINANCEIRA III: Setor deve evitar pânico, aconselha Eugênio Stefanello
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Com a compra de insumos e parte da área cultivada, essa turbulência econômica não influenciou e não deve influenciar significativamente as projeções de plantio para a próxima safra. Qualquer mudança se deve a acontecimentos anteriores, como o aumento do custo de produção, dada a alta dos fertilizantes. Com base neste raciocínio, três dos maiores especialistas brasileiros do agronegócio reunidos ontem (09/10) no Fórum Financeiro e de Mercado promovido pelo Sistema Ocepar sede traçaram um quadro dos motivos da crise, do que pode acontecer com a agricultura brasileira e, principalmente, o que fazer diante dessa situação.
Calma - O primeiro conselho do especialista em economia rural e professor da Universidade Federal do Paraná, Eugenio Stefanello, é evitar o pânico. Segundo ele, embora a situação seja séria e afetará todo o mundo, não é desesperadora, sendo possível sobreviver e ainda tirar algumas lições que nortearão os negócios futuros.
Conseqüências - O especialista explica que a crise vai ter conseqüências diretas no crédito rural da próxima safra, entre as quais: menos recursos em função da redução dos depósitos à vista e das exigibilidades bancárias; seletividade maior e prazos menores; aumento dos juros de mercado; atraso na liberação; limite oferta de crédito para a venda de insumos e a compra antecipada de produtos (CPR); menos crédito de comercialização e de exportação, entre outros. O aumento dos custos de produção é irreversível e deve chegar próximo a 20% no segundo semestre de 2009, como das taxas de juros, que devem ir de 9 a 10% para 12 a 22%.
Tendência nos preços - Essa crise afetará também os preços das commodities, mas não de forma dramática. Há várias razões para isso, entre as quais a redução do consumo mundial de alimentos e a provável saída dos especulares (fundos financeiros) do mercado de cereais. O professor Eugenio Stefanello explicou que esses fundos eram responsáveis por entre 40 a 50% na formação dos preços das commodities. Na soja, por exemplo, Stefanello não acredita que o mercado voltará a pagar US$ 16.7/bushel (melhor preço alcançado até hoje), mas também não deverá cair para os valores históricos de US$ 6,00/bushel (atualmente está em US$ 10,00/bushel). O trigo poderá ter seus preços ao produtor melhorado em função da falta de crédito de financiamento no mercado mundial, o que obrigará os moinhos a se voltarem para o produto nacional, aumentando a procura e, em conseqüência, os preços.
Para evitar o pior - "Nada de pânico", exclamou Stefanello. "Quem tem dívida em dólar não se desespere, fique como está", aconselhou. Nesse momento, o pânico pode ser a pior decisão, pois a taxa de câmbio deve voltar a um patamar mais confortável. O agricultor deve enfrentar a crise que vem aí com a redução de investimentos e custos e adotar a venda parceladas da safra para conseguir um preço médio. "Vendas parcelas e distribuídas no tempo", frisou. A prioridade deve ser o pagamento de dívidas e a recomposição do fluxo de caixa. Às empresas do agronegócio e cooperativas o conselho igual: adequar os projetos de investimentos, fazer a comercialização mais espaçada, diversificar mercados e preparar-se para desarranjos no setor. "É preciso reforçar o fluxo de caixa", aconselhou.
Proteção - Evitar a especulação a qualquer custo é essencial para evitar problemas, mas é aconselhável fazer proteção via mercado futuro: hedge de preço e de câmbio. "Remover gargalos de custo e reforçar as ações de conjunto", aconselhou. Stefanello aconselhou os executivos das cooperativas a conversarem mais antes de tomarem decisões importantes, pois a experiência e a troca de informações ajuda a formar um quadro mais real da situação. Ao finalizar sua palestra, enfatizou que embora a crise seja séria e afetará todo o mundo, não é desesperadora, sendo possível sobreviver e ainda tirar algumas lições que nortearão os negócios futuros.