CRISE FINANCEIRA II: Lula defende papel do Estado como regulador do sistema financeiro

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"Chegou a hora da política", afirmou na terça-feira (28/10) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao defender papel do Estado como regulador do sistema financeiro. Em Salvador, onde participou da 9ª Cúpula Brasil-Portugal, Lula se colocou contrário aos que defendiam o liberalismo econômico sem a interferência do poder público. "Teve uma época, por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeça baixa diante do neoliberalismo. O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro", disse o presidente no pronunciamento que fez, ao lado do primeiro-ministro de Portugal, José Socrates.

Críticas aos especuladores - "Fomos eleitos, assumimos compromissos com o povo, e o Estado, diante da crise mundial, volta a ter papel extraordinário, porque todas essas instituições que negaram o papel do Estado na hora da crise procuram o Estado para socorrê-las da crise que elas mesmo criaram", afirmou Lula.  O presidente também voltou a criticar as empresas que especularam e tiveram prejuízos com a crise mundial. "As empresas brasileiras têm grandes investimentos, rodovias, ferrovias, siderurgia, portos, agricultura. Trabalhamos honestamente por seis anos para por a economia num padrão respeitável no Brasil inteiro. É por isso que juntamos US$ 207 bilhões em reservas. É por isso que fizemos ajustes fiscais. Entretanto, por que estamos vivendo sinais da crise? É porque alguns setores resolveram investir em derivativos, fazer um cassino. Portanto quem foi para a jogatina perdeu. Portanto, ninguém tinha o direito de tentar, diria de forma ilícita, mais que aquilo que o próprio sistema produtivo oferecia ao país", disse o presidente.

Ganhos com produtividade - Lula enfatizou que os setores da economia devem concentrar seus esforços em ganhar dinheiro com a produtividade. "O sistema financeiro tem obrigação de ganhar o seu dinheiro em coisas que gerarão empregos, produtos, riqueza. Não podemos permitir que o sistema financeiro mundial brinque com a sociedade. Não podemos admitir que alguém fique rico apenas trocando papéis e poucas vezes se gerou um paletó, uma bota e um alfinete". 

Apoio - O primeiro-ministro de Portugal, José Socrates, apoiou a colocação do presidente Lula e disse que em Portugal a ação do governo foi a mesma tomada no Brasil, com o objetivo de minimizar os efeitos da crise na economia interna: a de dar mais liquidez aos bancos.  "Concordo com o presidente Lula quando ele diz que chegou a vez da política. Esse é um momento decisivo e Portugal e Brasil querem ação, não inação, fingir que nada aconteceu", afirmou o chefe de Estado de Portugal, ao se referir às ações para o combate à crise econômica.

Divisor de águas - Para Socrates, a crise mundial funcionou como um divisor de águas. Ele ressaltou que não se trata de uma crise cíclica e sim de uma crise grave, "que acontece apenas uma vez na vida de cada pessoa". "Existe um antes e um depois da crise mundial. Antes, existia um pensamento único de que qualquer intervenção do Estado seria de forma burocrática, com finalidade de aumentar imposto. Hoje há o entendimento de que é necessária a ação da política para construir essa nova ordem mundial econômica de uma globalização mais justa", ressaltou. Lula e Socrates também se uniram na defesa do fortalecimento da União Européia e do Mercosul. "Se não estivéssemos na zona do euro eu não sei que seria de Portugal", disse Socrates. (Agência Brasil)

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