COMÉRCIO I: Varejo descola e cresce 3% no trimestre

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O aumento do salário mínimo e as medidas de estímulo ao setor de eletrodomésticos da linha branca seguraram o desempenho da economia no primeiro trimestre. De janeiro a março deste ano, as vendas do varejo ampliado (que incluem veículos e materiais de construção) cresceram 3% sobre os últimos três meses de 2011, feitos os ajustes sazonais, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na mesma comparação, a produção da indústria recuou 0,5%.

 

2010 - A última vez em que o resultado trimestral do varejo foi tão expressivo foi no quarto trimestre de 2010, quando cresceu também 3% sobre o terceiro e ajudou a puxar a alta expressiva no Produto Interno Bruto (PIB) daquele período. Os dados do varejo não guardam relação estreita com o consumo das famílias no PIB, mas na avaliação de economistas consultados pelo Valor a demanda vai se manter em 2012 como o principal vetor de expansão do país, tese também defendida pela equipe econômica.

 

Veículos - Os números do varejo no primeiro trimestre só não foram melhores devido à redução de 0,3% nas vendas de veículos no período em relação ao último trimestre do ano passado. O setor automobilístico e o de livros, jornais, revistas e papelaria foram os únicos a registrar variação negativa entre o quarto trimestre do ano passado e os primeiros três meses de 2012. No varejo restrito (que exclui veículos e materiais de construção), a expansão das vendas foi de 4,1%, puxada pelo desempenho do setor de eletrodomésticos e móveis.

 

Piora no cenário - Para os economistas, a piora do cenário externo e o atraso na recuperação da economia brasileira não devem frear o consumo em 2011, embora ele deva ser menos puxado por veículos. "A renda vai sustentar o consumo neste ano. Com o forte reajuste do salário mínimo e a inflação controlada, não há como não ter aumento nas vendas", afirma Paulo Neves, economista da LCA Consultores. Pelos seus cálculos, o varejo restrito terá expansão de 7% em 2012, acima do crescimento projetado para o varejo ampliado, que deve ficar entre 4% e 5% no período. Se confirmados, os números apontarão uma leve aceleração no consumo sem automóveis, já que em 2011 o crescimento das vendas no varejo restrito foi de 6,7% e no ampliado (que inclui veículos), de 6,6%.

 

Aumento das vendas - "Mas neste ano o setor automobilístico não contribuirá para o incremento do comércio. O aumento das vendas virá de outros duráveis e dos supermercados", destaca o economista da LCA. Mesmo crescendo menos que no ano passado, a expectativa de Neves é que as vendas de bens duráveis ainda sejam mais fortes que as de não duráveis. Suas projeções indicam aumento de 18% para equipamentos de informática e comunicação, entre 10% e 11% para móveis e eletrodomésticos e de 9% para o segmento de supermercados.

 

Tecnologia - Os produtos ligados à tecnologia, como tablets e notebooks, comenta Felipe França, do Banco ABC Brasil, estão entre os que devem atrair mais as atenções dos consumidores neste ano. "Deveremos ter um novo ciclo de consumo no segundo semestre, com o endividamento e a inadimplência cedendo e permitindo a recomposição do poder de compra da população", diz ele.

 

Perfil de consumo - França afirma que, com o maior comprometimento de renda da população, houve uma mudança no perfil de consumo do brasileiro, que deixou de comprar carros e passou a gastar mais nos supermercados. Além disso, o gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Reinaldo Pereira, acrescenta que as vendas de veículos podem ter atingido um nível de esgotamento, após a intensa expansão em 2010 e 2011. "O setor cresceu muito por causa do crédito. Todo mundo trocou de carro. Agora, com o aumento da inadimplência, as financeiras selecionam mais seus clientes, diminuem o prazo do empréstimo e aumentam as prestações", argumentou.

 

Saturação - Uma certa saturação, de acordo com os economistas, também poderá ser percebida em linha branca, que desde o início do ano conta com redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). "Houve muita antecipação de compra por conta do corte de IPI. Não seria de se espantar se houvesse uma desaceleração nas vendas desses produtos nos próximos meses", diz França, lembrando que entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro trimestre deste ano as vendas de geladeiras, fogões e máquinas de lavar subiram 4,6%.

 

Varejo restrito - A LCA acredita que, até o fim do ano, as vendas no varejo restrito deverão crescer a um ritmo médio mensal de 0,4%, semelhante ao visto em 2011, que foi de 0,5%. Esse desempenho, pelas contas da consultoria, contribuiria para um aumento de 4,1% no consumo das famílias neste ano, e seria a principal força para a expansão projetada de 2,6% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2012.

 

Retomada - Os dados divulgados pelo IBGE ontem mostram que, em março, o comércio retomou a trajetória de crescimento interrompida um mês antes. As vendas do varejo restrito, que haviam ficado estáveis em fevereiro, subiram 0,2% em março frente ao mês anterior, feitos os ajustes sazonais. No varejo ampliado, o crescimento em março foi mais intenso, de 0,6% na mesma base de comparação, apesar da retração de 1,4% nas vendas de automóveis no período. O resultado compensou parcialmente a retração de 0,8% registrada no mês anterior.

 

Dinâmica - Tal desempenho, na avaliação de Pereira, está de acordo com a atual dinâmica da atividade econômica do país. "Se esperava que a economia apresentasse um crescimento mais forte, mas isso não tem ocorrido, com as incertezas do mercado, resultantes dos problemas na Europa, sobretudo, da [possibilidade] de saída da Grécia da zona do euro. Acreditamos que o comércio vem acompanhando essa conjuntura." (Valor Econômico)

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