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Com mais de 600 participantes durante o evento, Semana de Sanidade Animal encerra destacando crescimento e desafios da piscicultura

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A produção nacional de tilápia vem aumentando, ano a ano, colocando o Brasil como 4º produtor mundial. Puxado pelo pescado cultivado por piscicultores vinculados às cooperativas, o Paraná é referência nesse contexto. Hoje, o estado responde por mais de 36% do que o país produz da carne do peixe. Um dos desafios para manter essa produtividade é a questão sanitária, tema que conduziu, nessa quinta-feira (03/10), o último painel da Semana de Sanidade Animal organizada pelo Sistema Ocepar, em parceria com o Sistema Faep.

Os dados da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR) foram apresentados no início da última tarde do evento, pelo analista técnico da Ocepar, Alexandre Monteiro. Segundo o levantado, nos últimos dez anos, a produção de tilápia no Brasil saltou de 285 mil toneladas para 579 mil toneladas, registrando aumento de 103%. Neste ano, a expectativa é de que o país feche o ano com uma produção de 600 mil toneladas.

No Paraná, primeiro estado produtor de tilápia, em 2023, foram 209.500 toneladas produzidas; 11,5% a mais que em 2022, com 187.800 toneladas. No contexto estadual, três cooperativas representam quase 27,3% da produção, com 57.145 toneladas. São essas a Copacol, a CVale e a Cocari que, juntas, têm capacidade de 430 mil abates por dia e integram 600 cooperados.

“Já somos um terço do maior produtor e exportador do país. Sem sanidade tudo isso se põe em risco. E sem sanidade não chegaríamos aonde estamos hoje”, afirma Monteiro.

Para o superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti, a crescente participação da piscicultura no sistema integrado cooperativo tem gerado resultados que orgulham a todos. “Fazer o trabalho integrado, com valorização do cooperado, faz toda diferença para a verticalização que estamos conquistando. Essa cadeia produtiva está muito estruturada, por gente bem-qualificada”, diz Mafioletti.

Copacol

O primeiro palestrante da tarde foi o médico veterinário, especialista em tilápia e sanitarista da Copacol, Nilson Zgoda. Após apresentar os dados da produção da cooperativa, principalmente nos municípios da região Oeste do Estado, ele ressaltou a importância dos cuidados sanitários.

A piscicultura representa, hoje, 6,12% do faturamento da cooperativa e 280 famílias produtoras tiram o sustento da atividade, segundo Zgoda. “Isso demonstra que temos uma responsabilidade gigantesca. Afinal, qualquer problema sanitário trará reflexos drásticos a essa que é fonte de renda de muitas famílias”, afirma.

Como explica o especialista em Tilápia da Copacol, os fatores que interferem no desempenho da produção são o clima, as questões nutricionais; o manejo (qualidade de água, sistema de aeração, oxigenação); a infraestrutura e capacidade de suporte das áreas e propriedades; desenvolvimento genética; e sanidade.

“Todos têm a mesma importância e, por isso, têm que estar equilibrado e sob controle”, pontua. Especificamente sobre sanidade, Nilson destaca a preocupação e atenção total quanto a duas principais doenças que atingem os peixes em viveiros escavados como os da cooperativa: Streptococcus agalactiae lb e Francisella orientalis.

“A mortalidade é o primeiro que a gente tem e vê, mas esconde outros impactos como baixo crescimento, aumento da conversão alimentar, baixo rendimento, desuniformidade dos lotes. Tudo isso se observa quando há um problema muito grave. Portanto, não devemos observar apenas a mortalidade. Ela é como a ponta do iceberg”, diz ele que alerta que mesmo que o peixe não mora, as doenças podem inviabilizar a comercialização do produto, mesmo quando já está na indústria, no filé.

A oscilação de temperatura e a oxigenação da água são, segundo Nilson, alguns dos principais fatores que contribuem para o aparecimento das doenças.

Programa de Biosseguridade

 O sanitarista da Copacol também apresentou todos os elos do Programa de Biosseguridade que a cooperativa mantém. “Se eu conheço todos os elos do programa, consigo aplicar a biosseguridade em todos os elos da cadeira que é verticalizada”, afirma.

Entre as medidas que estão sempre em dia na cooperativa, e que assim se devem manter, Nilson destaca a importância do vazio sanitário; da correção do solo e da água (melhorando a alcalinidade); da destinação correta de animais mortos (uma compostagem segregada de outras criações); e qualificação da equipe técnica e produtores.  “Precisamos que todos estejam orientados e no mesmo caminho”, conclui.

C.Vale

Na segunda palestra da tarde, a zootecnista Milena Souza dos Santos, doutora em recursos pesqueiros e engenharia de pesca da cooperativa C.Vale, de Palotina (PR), apresentou outros desafios para a piscicultura do Paraná.

Entre as etapas que têm que ser vivenciadas e, quando resolvidas, tendem a se tornarem oportunidades ela traz o modelo de produção – destacando a necessidade de sensibilização dos produtores autônomos para que se integrem a parcerias, melhorando os custos e o acesso ao mercado; o melhoramento genético – ressaltando a dificuldade da formação de plantel de reprodutores; a reprodução; a reversão sexual e o impacto das desovas na terminação; o controle de predadores, principalmente a traíra e algumas aves; o acesso, a preço justo, a novas tecnologias e inovações voltadas ao cultivo de tilápia; e a interrupção do fornecimento de energia.

Quanto à tecnologia, Milena afirma que é preciso abrir novas frentes para que haja maior competitividade entre as empresas fornecedora e, assim, garantir preços mais acessíveis para cada vez mais produtores.

Quanto ao impacto da falta de energia, ela garante que “se o piscicultor é pequeno, chega a abandonar a atividade”. “Energia solar é alternativa, mas ainda inviável para algumas propriedades. Precisamos de novas e mais alternativas”, afirma.

Não para por aí

Em sua apresentação, a zootecnista da C.Vale também destacou a uniformidade na qualidade da ração. “Se a gente conseguir manter mais rações com nível de qualidade, conseguimos brigar mais pela constância e manutenção do preço”, afirma ela, lembrando que a atividade exige diferentes rações para determinadas fases do ano.

O controle de cianofíceas - substâncias que, nos viveiros, podem ser absorvidas pelos peixes que causam consequências indesejadas, principalmente o gosto e no odor -; a sustentabilidade e a comercialização (interna e externa) da produção também foram apontados pela doutora Milena como pontos a serem ainda fortalecidos na piscicultura como um todo.

“Um dos maiores desafios é intensificar essa produção, já bem-consolidada. Já alcançamos boa aceitação do mercado interno e externo, mas temos à frente um crescimento exponencial. Fica um pedido para que a gente sempre divulgue a nossa atividade e faça uso de ferramentas que, como o Cepea ferramenta, nos dão parâmetros para uma boa comercialização”, conclui.

De mais de 200 produtores que a C.Vale tem na piscicultura, de 40 a 60%, segundo Milena, atuam só na atividade, na forma de integração.

Encerramento

A Semana de Sanidade Animal, promovida de 1 a 3 de outubro em formato online, teve 450 inscritos, mas reuniu 600 participantes com temas altamente expressivos. A equipe do Sistema Ocepar já fala, inclusive, na organização de uma segunda edição em 2025.

“Saímos bem maiores depois desta semana de conhecimento, informação e possibilidades que nos ajudam a tomarmos decisões mais assertivas. Agradecemos a todos os parceiros e participantes. Ao construirmos as oportunidades em conjunto, temos mais força”, comenta o superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti.

Segundo Mafioletti, os painéis do evento trouxeram desafios ainda a serem enfrentados, mas também mostraram que “temos potencial para, na proteína animal, sermos, por muito tempo, líderes na produção e no exemplo de sanidade”.

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