COCAMAR: Mendonça de Barros prevê melhora para o agronegócio
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Em sua palestra na última sexta-feira (10/03), em Maringá, onde falou a cerca de 400 pessoas a convite da Cocamar, o economista José Roberto Mendonça de Barros disse acreditar que em três ou quatro meses alguns fatores poderão contribuir para melhorar o atual cenário do agronegócio, setor que se encontra mergulhado em profunda crise desde 2004. Segundo ele, há possibilidade de recuperação de parte do valor do dólar, que poderá atingir uma média de no máximo R$ 2,25 até o final do ano. O próprio mercado financeiro, acredita Barros, estabelecerá um piso para o dólar, mas só a partir de junho/julho. Por sua vez, a situação de dólar barato fará com que aumente a importação. E, da mesma forma, apesar da forma lenta como vem ocorrendo, o Banco Central continuará reduzindo a taxa de juro, a qual poderá situar-se entre 13,5% e 14% em dezembro. “As projeções são de uma inflação entre 4,5 e 4,8% em 2005, conquistada principalmente à custa do sofrimento da agricultura”, frisou.
Entrada de dinheiro - Estimando que a economia mundial poderá crescer 3,5% em 2006, Barros disse que o panorama internacional favorece países como o Brasil, sobretudo pela forte entrada de capitais. “O mundo está inundado de liquidez e há cerca de 50 trilhões de dólares procurando oportunidades de investimento”, frisou. Ele disse que este ano o efeito China incomodará bastante na questão da competitividade e lembrou que as commodities industriais (petróleo, metais, celulose e outras) têm mais força para subir que as agrícolas.
Petróleo - Mendonça de Barros destacou que este ano o Brasil atingirá a auto-suficiência em petróleo, cujo consumo é de 1,7 bilhão de barris/dia. Se nos anos 1979/81 o País importava metade do petróleo que consumia, em 2005 esse volume foi de apenas 16% e em 2006 chegará a zero. Por sua vez, segundo ele, o álcool é visto como uma grande vantagem do Brasil, sendo reconhecido internacionalmente como o único substituto competitivo ao petróleo. “O governo Bush está encantado com essa conquista brasileira”, ilustrou.
Características únicas - Barros acredita que o País terá este ano um superávit comercial de US$ 40 bilhões, contra US$ 44 bilhões de 2005 – “um volume que é conseguido por poucos países” – e este ano vai haver muito mais entrada de dinheiro do que saída, devido à queda do risco Brasil e também à atraente taxa de juros, a maior do planeta. O país, de acordo com o economista, apresenta algumas características que o tornam único no mundo: 1) só o Brasil mantém dólar flutuante; 2) só ele tem uma superávit de US$ 40 bilhões e, 3) nenhum outro país possui uma taxa de juros tão elevada. O resultado dessa soma é o dólar baixo.
Taxa de juros - “Mas a mãe de todos os erros está na taxa de juros”, disse José Roberto Mendonça de Barros, “explicando que ela não pode cair rapidamente, pois há risco de se gerar especulação e inflação”. O economista disse que as finanças públicas é que não vão bem – “a dívida pública segue muito alta e já é metade do PIB”. Tal fato, somado ao juro alto acaba deprimindo os investimentos e afetando a indústria. Segundo ele, a dívida pública brasileira cresceu, em parte, com a contratação de um enorme contingente de funcionários públicos nos últimos anos. Com isso, o País que arrecada 18% do PIB só consegue investir 0,45% em infraestrutura. “Temos uma bola de ferro nos pés, o que nos levou a crescer apenas 2,8% em 2005”, comentou. Na opinião de Mendonça de Barros, o que vai puxar o crescimento é o consumo interno, destacando que só o aumento do salário mínimo vai representar uma injeção de R$ 16 bilhões na economia. Para este ano, a expectativa é de um crescimento interno da ordem de 3,5% (o governo espera 4%), o que, ao seu ver, ainda é muito pouco.
Milho e soja - Com referência às commodities, ele disse que hoje é difícil estimar uma demanda de milho, por exemplo, devido à ocorrência de gripe aviária, mas surpreendeu ao dizer que o efeito dessa doença tem sido mais assustador do que devastador. “Os consumidores descobriram que o cozimento mata o vírus da doença”, assinalou, citando que em países como a Tailândia o consumo de carne de frango voltou praticamente aos volumes históricos. Na Itália, houve uma retração inicial de 70% no consumo, mas esse índice já diminuiu bastante. De qualquer forma, o consumo de carne de frango na União Européia poderá cair em 140 mil toneladas neste ano, o que significará uma redução da demanda de milho da ordem de 2,5 milhões de toneladas. A FAO estima que o consumo de carne de frango no mundo não cairá mais do que 3% (sendo 11% apenas na Europa).
De olho na soja americana - Quanto à soja, as atenções particularmente dos produtores brasileiros se voltam para o plantio de verão nos Estados Unidos, este ano sob a ameaça do fenômeno climático La Niña. Se os EUA colherem uma safra de 78 milhões de toneladas em vez de 84 milhões de toneladas como está prevendo, o Brasil fechar seus números ao redor de 56 milhões de toneladas e não 58,5 milhões como está previsto e a Argentina somar 38 milhões de toneladas em lugar das 40,5 milhões estimadas, o preço dessa commoditie poderá ficar acima de US$ 6,00 o bushel, proporcionando uma nova dinâmica às cotações da oleaginosa. (Imprensa Cocamar)