Case cooperativo: Saromcredi, de São Roque de Minas

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Ao falar sobre Cooperativismo de Crédito no I Seminário Banco Central sobre Microfinanças, realizado em Curitiba na segunda e na terça-feira desta semana, o vice-presidente da OCB e da Ocepar, Luiz Roberto Baggio, citou a Cooperativa de Crédito Rural de São Roque de Minas (Saromcredi) como exemplo do que o sistema de crédito cooperativo pode fazer pelo desenvolvimento das comunidades. Diferente de outras instituições financeiras porque pertencem aos associados das comunidades onde se instalam, as cooperativas de crédito. O comprometimento com as comunidades foi destacado, na palestra feita a centenas de participantes, por Luiz Roberto Baggio, que integra a diretoria da Ocepar representando o ramo Crédito. O texto seguinte, que retrata a história da Saromcredi, é do técnico da OCB, Evandro Scheid Ninaut.

São Roque de Minas - Localizada na Serra da Canastra, próximo à nascente do Rio São Francisco, está a pequena cidade de São Roque de Minas. São 6.326 habitantes que se orgulham de sua cooperativa de crédito rural. De 1940 a 1950 a cidade era praticamente isolada, estradas precárias, pontes de madeira que não ofereciam segurança e o carro de boi movia a economia local. A economia da cidade era apenas de subsistência, com o cultivo de milho, café, mandioca, arroz, feijão e pecuária leiteira. Os filhos dos fazendeiros saíam para estudar nas capitais, viravam doutores, mas não voltavam para São Roque, pois não existia trabalho especializado. Os trabalhadores rurais jovens aumentaram o êxodo rural em busca de emprego. Restaram em torno de 800 aposentados que impulsionavam a economia, juntamente com os pequenos produtores rurais e as arrecadações do FPM e ICMS do município.

O banco a 60 km - O leite produzido no município era destinado quase só para a produção artesanal de queijo, o famoso queijo da Serra da Canastra, comercializado pelos queijeiros, em São Paulo. Até 1991, toda movimentação financeira passava pela Minas Caixa, instituição financeira liquidada pelo Banco Central. Isso foi à morte de São Roque de Minas, pois toda economia fora transferida para cidades vizinhas. O município não contava com nenhuma agência bancária. Um grupo de 27 agricultores tomou a iniciativa de constituir uma cooperativa de crédito, pois o serviço bancário mais próximo estava a mais de 60 km. No inicio, o desejo era um mínimo de dignidade no que diz respeito a serviço bancário. Em 1994, com o Plano Real, começaram as operações de credito para o cultivo de milho e café dos associados, investimento na produção, que gerou emprego, que gerou renda, que gerou depósito, que gerou mais operações de credito. E não parou mais.

A cooperativa e o desenvolvimento - A Saromcredi é um surpreendente caso de força da comunidade. A instalação da cooperativa alavancou o desenvolvimento do comércio, da prestação de serviços na cidade, da produção agrícola, etc. A cooperativa, além de contar com serviços bancários completos, passou aplicar no próprio município os recursos ali captados, o que vem fomentando o desenvolvimento econômico e social da região. A cidade, que no passado era exportadora de mão-de-obra, passou a ser importadora. O PIB do município cresce ano a ano. A cooperativa, juntamente com os pais de alunos que lá são associados, criou a Cooperativa Educacional de São Roque de Minas, entidade mantenedora do Instituto Ellos de Educação, que oferece filosofia cooperativista, resgata a tradição e a cidadania, e trata das questões do meio-ambiente. Neste sentido, a cooperativa pode desfrutar do acervo natural no Parque da Serra da Canastra. E ainda tem um viveiro de mudas de eucalipto e de espécies nativas para reposição das matas ciliares.

Qualificação da produção - Atualmente a Cooperativa está investindo no projeto de qualificação do Queijo Minas Artesanal da Serra da Canastra, com apoio de técnicos franceses e da Secretaria de Agricultura do Estado de Minas Gerais, do Sebrae, da Ocemg e do CNPQ, entre outros. Também está implantando uma unidade armazenadora de grãos (milho e soja) com 9000 toneladas de capacidade. E, como a comunidade não tinha acesso à Internet, providenciou a instalação de um provedor. "Dessa forma, juntando um pouco de cada associado, a cooperativa vai gerando emprego e renda. Esse é um dos milhares exemplos que a OCB tem ao longo de todo o país", frisa Evandro S. Ninaut.

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