Campo colhe em 2005 pior resultado dos últimos anos

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Com o plantio das culturas de verão da safra 2005/06 já iniciado em várias regiões do país, mas ainda à espera de eventuais desdobramentos da crise sanitária, o setor dos agronegócios faz as contas para tentar recuperar, em 2006, pelo menos parte das perdas que serão contabilizadas neste ano. Nas lavouras, a situação de 2005 já está praticamente definida. E, em virtude da crise de liquidez dos grãos, a perda de receita "da porteira para dentro" será da ordem de R$ 12 bilhões. Cálculos de José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, apontam renda agrícola das 20 principais culturas de R$ 96,7 bilhões neste ano, ante R$ 108,5 bilhões no ano passado e o recorde de R$ 113,4 bilhões em 2003.

Grãos - Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, as contas são mais ingratas. Para 2005, Gasques prevê renda de R$ 25,7 bilhões, 21,7% menos que em 2004 (R$ 32,8 bilhões) e 28% abaixo de 2003 (R$ 35,7 bilhões). Especialistas lembram que o grão, além de ter encarado alta de custos no plantio de 2004/05 e câmbio adverso às vendas após a colheita, também amargou a estiagem no Sul. No total, a safra brasileira de grãos alcançou 113,5 milhões de toneladas em 2004/05 (volume que deve ser ajustado pela Conab em novo relatório que será divulgado hoje), ante as 129,9 milhões projetadas pelo órgão em outubro de 2004 e as 119,1 milhões de 2003/04. Também o milho, por conta do clima, teve a colheita reduzida das 42,9 milhões de toneladas previstas no início para 35 milhões. Para Fabio Silveira, da MSConsult, a receita das principais culturas do país alcançará R$ 112,3 bilhões em 2006, ante R$ 107,3 bilhões neste ano.

Embarques - Conforme última projeção da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os embarques dos agronegócios somarão US$ 43 bilhões em 2005. Mas, conforme Getúlio Pernambuco, chefe do Departamento Econômico da CNA, o número ainda deve sofrer revisões. Pelo critério do Ministério da Agricultura, nos últimos doze meses até setembro as exportações alcançaram US$ 41,6 bilhões, e este já é um bom termômetro do que pode ocorrer em 2005. Em 2004, os embarques do agronegócios totalizaram US$ 39 bilhões e o superávit da balança do campo ficou em US$ 34,1 bilhões. Em relação a 2003, os aumentos foram de 27,3% e 32,1%, respectivamente. Mesmo se chegar a US$ 43 bilhões e deixar saldo de 38 bilhões (também segundo a última previsão da CNA) em 2005, os incrementos em relação ao ano passado serão menores: 10,3% e 11,4%, respectivamente.

PIB - A queda de renda e a perda de fôlego das exportações terão efeitos sobre o PIB dos agronegócios em 2005. Em seu último levantamento, a CNA estimou PIB total de R$ 527,84 bilhões, 1,15% menos que no ano passado (R$ 533,98 bilhões), mas o tombo, o primeiro desde 1997, poderá ser maior. "Os reflexos da queda de renda, que nos nossos cálculos chegará a R$ 16 bilhões, deverá levar a uma baixa de R$ 57 bilhões no PIB nacional este ano", diz Pernambuco. Do ponto de vista das contas nacionais, as perdas apontadas deixam, por outro lado, efeitos positivos sobre a inflação, já que o aumento do custo dos alimentos ao consumidor tem sido limitado. No campo, índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores agropecuários paulistas, pesquisado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) - ligado à Secretaria de Agricultura do Estado - registrou variação positiva de 2,49% de janeiro a outubro, ante altas de 0,81% do IGP-M e de 3,89% do IPC-Fipe (Valor Econômico).

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