BANCO CENTRAL: Indicador do BC indica ritmo menor para PIB do trimestre

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Depois de meses de sinais contraditórios vindos da atividade econômica, sem um dado concreto que indique se de fato o país está desacelerando, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) relativo a maio apresentou forte desaceleração na comparação com o ritmo observado nos meses anteriores. O indicador, que tenta antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), registrou avanço de 0,17% em maio, ante uma alta média de 0,48% nos primeiros quatro meses do ano e de 0,44% em abril.

Elevado - Em 12 meses, o crescimento ainda é elevado, de 5,34%, acima do chamado PIB potencial, nível que representa uma expansão econômica sem pressões inflacionárias. A leitura interna do BC, no entanto, é de que o IBC-Br reforça sua visão de que a economia se mostra em uma trajetória de crescimento sustentável, segundo fontes da autoridade monetária. Essa análise tem sido apresentada nos últimos documentos oficiais, como o Relatório de Inflação, publicado no fim do mês passado, mas ainda não foi totalmente aceita por analistas.

 

Efeitos - O BC tem indicado que os maiores efeitos de suas ações de política monetária devem ocorrer a partir do segundo semestre, dada a defasagem já conhecida entre as elevações dos juros, feitas desde janeiro, e o desaquecimento da economia. Na avaliação das autoridades do BC, o recuo do IBC-Br em maio aumenta a chance de que essa premissa de fato se concretize.

 

Desaceleração - Os analistas ainda têm dúvidas quanto ao nível de desaceleração da atividade, mas já começam a surgir apostas em um desaquecimento maior a partir deste mês. O Itaú Unibanco, por exemplo, avalia que ainda houve expressivo crescimento da construção civil, alta da produção na indústria de transformação e o aumento do comércio varejista no mês de maio. A prévia de junho, porém, já é um pouco mais positiva do ponto de vista do controle da inflação.

 

Moderação - Os indicadores preliminares do mês passado apontam para moderação da atividade econômica em junho, diz Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, e sinalizam ligeiro crescimento do PIB mensal na margem, da ordem de 0,2, depois de um avanço de 0,7% em maio, de acordo com uma medida particular do PIB feita pelo próprio banco.

 

Indústria e comércio - "Os dados disponíveis sugerem um pequeno recuo da produção industrial e estabilidade do comércio varejista no mês passado", diz o economista, em relatório. "Mantemos a avaliação que a atividade econômica já mostra sinais de acomodação, apesar da volatilidade dos dados nos últimos meses, e que essa tendência de moderação deverá ficar ainda mais evidente ao longo dos próximos meses."

 

Inflação - A preocupação com a inflação voltou ao centro do debate econômico depois da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, com alta de 0,15%, acima do esperado. O último boletim Focus, alimentado pelas projeções de analistas, mostrou forte piora nas expectativas de inflação, que foram a 6,31% para este ano e reforçaram as apostas em duas novas elevações da Selic de 0,25%, uma delas já na próxima semana, que levariam os juros para 12,75% ao ano.

 

Divergências - Algumas análises, divergem, porém, sobre a intensidade do recuo da atividade no segundo trimestre. As projeções para o crescimento do PIB variam de 0,7% a 1,1% na comparação com o primeiro trimestre, na série com ajuste sazonal. A economia, no primeiro trimestre, cresceu 1,3% sobre o trimestre anterior, na mesma série.

 

Compatível - Segundo o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, o avanço de 0,17% no IBC-Br de maio é compatível com o cenário de crescimento da economia previsto pelo BC. "A autoridade monetária quer um arrefecimento, mas não um arrefecimento forte da atividade. O IBC-Br reforça esse ponto", diz ele, para quem o PIB crescerá 4% no fim do ano, e em torno de 1% no segundo trimestre.

 

Segundo semestre - Para Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, e Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, a desaceleração será mais evidente a partir do segundo semestre. "O mercado de trabalho estará um pouco menos aquecido, com a ocupação desacelerando e a taxa de desemprego avançando", prevê Baciotti. A Tendências projeta que o PIB crescerá 1,1% no segundo trimestre sobre o primeiro e 3,9% no fim do ano.

 

Evolução - Segundo o relatório da Rosenberg, o IBC-Br reforçou "a perspectiva de crescimento do PIB superior a 1% no segundo trimestre, ainda que inferior ao 1,3% do primeiro trimestre". Thaís espera que a economia cresça 4% no ano, mesmo com a atividade ainda aquecida. "O IBC-Br não traz tranquilidade no que se refere à evolução da atividade e suas repercussões sobre a inflação", diz a consultoria.

 

Pessimista - Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, tem um cenário mais pessimista. Para ele, o crescimento de 1,3% no primeiro trimestre foi apenas um "voo de galinha" e o PIB do segundo trimestre terá elevação de 0,7%. "O dado do IBC-Br, que é a síntese de tudo, mostra que a atividade está desacelerando. Quando juntamos comércio, indústria e atividade no caldeirão do PIB, o recado é claro. A atividade está voltando a perder fôlego", argumenta o analista, que espera um PIB de 3,4% em 2011.

 

Varejo - Borges destaca que os dados do varejo divulgados pelo IBGE, apesar de estarem fortes na margem, mostram recuo do comércio nas médias móveis trimestrais, assim como o indicador do BC, que vem perdendo força a cada três meses. "Os analistas estão olhando dados muito pontuais, cuja volatilidade aumentou muito desde dezembro, e esquecendo a tendência."

 

Número - Segundo cálculos feitos pela LCA, a atividade econômica teve crescimento de 0,8% no segundo trimestre de 2011, descontadas as sazonalidades, número próximo à estimativa da consultoria para o PIB do período. (Valor Econômico)

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