BANCO CENTRAL: Cooperativismo de crédito está se consolidando, afirma diretor do BC

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O cooperativismo de crédito está se consolidando no País, afirmou o diretor de fiscalização do Banco Central, Alvir Alberto Hoffmann, em sua passagem por Curitiba, nesta quinta-feira (18/03), quando se encontrou com o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski. "É um sistema que está se consolidando no Brasil e o Banco Central tem participado de um esforço para ajudar nessa consolidação de forma que o cooperativismo de crédito se torne efetivamente uma alternativa, tanto para a produção quanto para o consumidor em geral. Além disso, é importante que o setor possa ser utilizado como forma de criar oportunidades de crédito a preços competitivos com o sistema bancário de maneira a estimular a competição e a concorrência no País", disse Hoffmann.

Acompanhamento - "Para nós, o sistema de fiscalização do Banco Central deve ser utilizado pelas cooperativas de crédito como um instrumento de gestão. É um trabalho importantíssimo", ressaltou Koslovski. Atualmente existem no Paraná 66 cooperativas de crédito registradas na Ocepar, com 346.695 cooperados. São unidades que integram os sistemas Unicred, Sicredi, Sicoob e cooperativas independentes que possuem R$ 4 bilhões de ativos e respondem por uma movimentação financeira de R$ 3,1 bilhões por ano. Na avaliação de Hoffmann, o cooperativismo de crédito como um todo é considerado um sistema saudável, sendo que o BC implementou mudanças nos últimos anos no processo de fiscalização do setor. "Hoje temos um departamento mais especializado no acompanhamento das cooperativas, que tem se articulado com as confederações e com as cooperativas centrais visando promover a supervisão das cooperativas singulares de uma maneira mais coordenada", esclarece. "Há cerca de  três anos, a partir da estruturação desse departamento, que é o Desuc, nós passamos a ter um acompanhamento do segmento de uma maneira mais homogênea, mais uniforme entre todas as cooperativas no país. Com isso, os problemas eventualmente existentes têm sido tratados de forma adequada juntamente com os dirigentes ou com os conselheiros das cooperativas", acrescenta Hoffmann.

Crise mundial - O diretor de fiscalização do BC também comentou sobre o impacto da crise financeira mundial. "A crise internacional decorreu de um excesso de, digamos assim, alavancagem do sistema financeiro como um todo, da existência de operações mais sofisticadas que não ficaram muito transparentes nos balanços e isso permitiu uma superalavancagem do sistema financeiro. A diferença em relação ao Brasil é que nós aqui não tínhamos esse nível de sofisticação. Então, as operações conduzidas no País eram mais transparentes e estavam sob um controle maior". Ainda de acordo com Hoffmann, o país adota instrumentos pouco comuns no exterior como, por exemplo, uma central de risco de crédito. "Essa central  permite que o Banco Central monitore todos os créditos de valores superiores a R$ 5mil que estão dentro do sistema financeiro nacional, incluindo as cooperativas. Também na parte de negociações de títulos, títulos públicos, títulos privados e também operações de derivativos, aqui nós temos uma central de registro de custódia que mantém essas operações sob controle do Banco Central. Então, diariamente o BC tem como saber os riscos e eventuais instituições que estariam fora de parâmetros de risco aceitáveis ou fora de limites que são colocados pelo Banco", afirma.

Regulação mais rígida - Nessa linha, Hoffman diz que regulação brasileira também é mais forte. "Enquanto internacionalmente se cobra 8% de capital ponderado pelos riscos do ativo, no Brasil nós cobramos 11% e, além disso, existem limites de exposição cambial, limites de mercado que dizem respeito a câmbio, taxa de juros e operações com ações e mercadorias. Tudo isso é monitorado. Alguns limites são acompanhados diariamente, como é o caso da liquidez, outros mensalmente. Dessa forma, isso sempre nos manteve de certa maneira com o sistema sob um controle".

Cooperativas - Em relação às cooperativas de crédito, o diretor do BC acredita que o ramo praticamente não foi afetado pela crise mundial. "Aparentemente não porque são entidades menores que têm uma relação mais próxima com o cliente. O cliente tem confiança na cooperativa, então, não se percebeu nenhum impacto na liquidez do sistema. Tivemos alguns problemas em alguma parte do setor bancário, que são bancos normalmente pequenos ou médios que estavam captando recursos de investidores mais especializados, como fundos de investimentos ou fundos de pensão. No momento de crise ou de aversão a risco, os clientes passaram a entender que esses bancos eram pequenos, poderia haver problema, então resolveram tirar o dinheiro dali para colocar num banco grande. Então, alguns tiveram sua liquidez afetada. Mas, pela própria característica do sistema cooperativo que está mais diretamente ligado com os clientes e não tem essa capacidade de movimentação de grandes recursos rapidamente, não se percebeu nenhum efeito".

Impacto a longo prazo - Em sua avaliação, a situação pode se reverter caso a economia mundial demore muito para se recuperar. "A longo prazo talvez se tenha algum impacto. Mas, em geral, nós temos acompanhado a situação e as instituições estão capitalizadas. Mas numa eventual deteriorização da atividade econômica que possa trazer algum prejuízo para a qualidade do crédito, nós acreditamos que o sistema tenha condições de absorver e, certamente, caso a caso, estaremos acompanhando. Vamos orientar, tomar providências e alertar os dirigentes de cada cooperativa, seja individualmente ou em nível de central, sobre eventuais ações recomendadas para melhor capitalizá-las ou direcionar seus empréstimos de maneira mais segura ou mais saudável", finalizou.

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