Artigo - Agronegócio brasileiro: Orgulho e preocupação

  • Artigos em destaque na home: Nenhum


Nos últimos quatro anos o agronegócio brasileiro evitou que a balança comercial brasileira somasse US$ 32,54 bilhões em déficit

João Paulo Koslovski (*)

Recentemente participei de um simpósio internacional em Kentucky (EUA), onde um dos palestrantes fez uma apresentação interessante sobre o mercado da carne naquele país. Assunto muito palpitante, onde o conferencista analisava as dificuldades advindas das questões de comercialização da produção diante dos problemas sanitários que afetam o setor e seus reflexos nas exportações americanas.

Quase ao final da sua exposição, mostrou na tela uma paisagem magnífica: um campo de soja com inúmeras máquinas fazendo a colheita, seguidas de plantadeiras, que realizavam o plantio de milho. Disse que aquela imagem era do Centro Oeste brasileiro, mais precisamente do Mato Grosso, e que a produção no Brasil vem apresentando sucessivos crescimentos. Comentou que o agronegócio brasileiro vem atuando com muita competência e com participação cada vez mais ativa no mercado externo de carnes, em especial o de aves.

Para nós que participávamos do simpósio - um expressivo grupo de executivos do agronegócio brasileiro -, a afirmação do expositor nos encheu de orgulho, pois conhecemos há tempo o excelente trabalho que vem sendo feito pelo setor produtivo brasileiro para alcançar maiores índices de produtividade, agregando sistematicamente modernas tecnologias para poder competir neste mercado globalizado, que é disputado palmo a palmo.

O que se deduz da observação do professor é que, de um modo geral, os estrangeiros não conhecem com profundidade a grande evolução ocorrida no Brasil nos últimos dez anos. Os produtores e as cooperativas, alicerçados pela ação da pesquisa, tanto oficial como privada - com destaque para a Coodetec (Cooperativa Central de Pesquisa), no caso específico do Paraná - tiveram papel fundamental em todo este processo. Avançamos, ganhamos em produtividade e em competência comercial, gerando seguidos superávits na balança comercial brasileira, com reflexos positivos na economia e na geração de empregos.

Neste mesmo simpósio, outro palestrante, ao analisar o avanço do agronegócio brasileiro discorreu, com muita propriedade, sobre as dificuldades que enfrentamos em termos de infra-estrutura, especialmente em relação às nossas rodovias. Disse que esse é o ponto de estrangulamento que impede a expansão da produção agropecuária brasileira.

Nós que atuamos no setor sabemos que esta é uma enorme preocupação, que tem tirado o sono dos produtores e das lideranças do agronegócio. E quando falamos em infra-estrutura, é preciso lembrar que os problemas são inúmeros e exigem que as autoridades atuem com determinação desde o setor de armazenagem, transporte (rodovias, ferrovias, hidrovias) até na ampliação e modernização da estrutura portuária. Só assim estaremos preparados para dar suporte adequado ao crescimento da produção.

Se por um lado ficamos orgulhosos por ouvirmos de especialistas internacionais comentários sobre a nossa competência, por outro ficamos preocupados pelo alerta sobre algo que conhecemos, que é nossa condição preocupante em relação à infra-estrutura. Não podemos ficar embevecidos diante dos bons resultados na produção. Precisamos avançar, fazer a lição de casa investindo em sanidade agropecuária, na pesquisa, na formação das pessoas e, sobretudo, adequando a nossa débil infra-estrutura à modernização da produção agropecuária.

Observamos que nossos concorrentes, especialmente os Estados Unidos, estão muito atentos e preocupados com o crescimento do Brasil no agronegócio. E isso demonstra que a disputa será cada vez mais acirrada, onde o bom senso nos aconselha a nos precavermos, pois só ganharão espaço nos mercados aqueles que se apresentarem com maior competência. E competência indica os melhores índices na produtividade, no controle sanitário e na qualidade da infra-estrutura, condição para que tenhamos custos competitivos com nossos concorrentes.

Só poderemos manter o espaço que conquistamos no mercado internacional se formos capazes de fazer com que nossas autoridades compreendam a urgência de melhorarmos nossa infra-estrutura que é, como reconhecem até nossos concorrentes, nosso ponto de estrangulamento, o chamado calcanhar de Aquiles.

Se o agronegócio brasileiro tem sido importante para o desenvolvimento do País através da geração de mais emprego e renda, contribuindo para diminuir o número de marginalizados do processo produtivo, está na hora de removermos os gargalos que impedem nosso rápido avanço na produção de alimentos.

É preciso lembrar que nos últimos quatro anos o agronegócio tem sido responsável por sucessivos superávits da balança comercial brasileira. Não fosse esse superávit, entre os anos 2000 e 2003 a balança comercial brasileira teria acumulado um déficit de US$ 32,54 bilhões.

A situação atual demonstra que estamos sendo competentes dentro das unidades produtivas, produzindo alimentos a custos competitivos com o mercado internacional, só que depreciamos o valor da nossa produção, quando não a perdemos, ao utilizarmos meios de transportes mais onerosos por vias inadequadas até portos desaparelhados e que trazem ao longo dos anos os reflexos da falta de investimentos no setor.

Entendemos que é do governo a maior parte da responsabilidade de modernizar nossa infra-estrutura, pois ele se apropria, através dos impostos, de uma fatia significativa dos recursos gerados pela produção agropecuária. Contudo, o setor empresarial do agronegócio tem que estar atento e promover os instrumentos indispensáveis que lhe cabe, como os relativos a armazenagem e até mesmo em infra-estrutura específica voltada ao desenvolvimento do setor. Essa é a condição para que o agronegócio continue oferecendo à nação a riqueza que vem do solo e que dinamiza a economia brasileira.

(*) Presidente do Sistema Ocepar – Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná

Conteúdos Relacionados