ANÁLISE ECONÔMICA: Alta dos juros emperra crescimento da economia
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O mercado financeiro aposta que o Banco Central vai manter a política de aumento de juros até o fim do ano para tentar controlar a inflação. No levantamento semanal realizado pelo Banco Central, os analistas consultados elevaram de 14,25% para 14,75% a estimativa da Selic, taxa básica de juros da economia. Atualmente, a taxa Selic está em 13%. Apesar do aperto que o governo federal tem realizado nos juros, a estimativa de inflação oficial do País para fechar 2008 está em 6,54%. O percentual está muito acima do centro da meta estabelecido pelo BC de 4,5%.
Desaceleração - Os especialistas ouvidos pela FOLHA acreditam que a alta dos juros será um remédio amargo e trará como consequências a desaceleração da economia, o aumento da dívida interna do País, a queda do consumo, a redução do número de postos de trabalho, a elevação do custo do crédito para o consumidor e a diminuição dos investimentos por parte das empresas. O coordenador do curso de Economia da UNIFAE (Centro Universitário Franciscano do Paraná), Gilmar Mendes Lourenço, acredita que a inflação feche 2008 em 7%. Para ele, a alta dos juros tem um efeito inócuo em uma inflação de custos como a que acontece no Brasil, provocada pela elevação das commodities no mercado internacional. ''O País não tem inflação de demanda'', disse. ''O governo se precipitou em aumentar a taxa de juros'', afirmou. Ele acredita que isso pode provocar efeitos maléficos como a desaceleração da economia e do investimento das empresas, aumento da dívida interna, queda do consumo e encarecimento das operações a prazo.
Redução consumo e nível de emprego - Para ele, o BC poderia diminuir os juros, o que reduziria os gastos financeiros e os gastos desnecessários do governo. Com a alta dos juros, deve haver uma redução do ritmo de consumo e do nível de emprego. Lourenço recomenda cautela aos consumidores com a redução das compras no crediário e do uso do cheque especial e do cartão de crédito. ''A renda das pessoas não vai acompanhar a elevação do custo financeiro'', disse. Por isso, o risco de endividamento excessivo e, por consequência, de inadimplência é maior.
Inflação e salário - ''Quem perde é o trabalhador que depende da recuperação do salário. A inflação corrói o poder de compra'', disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), Roni Anderson Barbosa. Apesar da situação da economia do País, ele disse que as centrais sindicais vão manter a política de buscar aumentos reais para os salários. Para Barbosa, o aumento dos juros levará o setor produtivo a ter mais dificuldade para pagar os empréstimos e realizar menos investimentos. Isso pode levar a uma menor geração de empregos.
Redução só em 2009 - O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cid Cordeiro, acredita que o impacto do aumento dos juros deve ocorrer dentro de seis a nove meses na economia. Desta forma, a redução na inflação deve ocorrer só em 2009. Com o aumento dos juros, ele prevê redução do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), aumento do custo do crédito e redução dos investimentos, o que levaria à queda na geração de empregos. (Folha de Londrina)