Algodão definha em SP e no PR

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

O produtor Ronaldo Spirlandelli de Oliveira não planta algodão nas terras que possui em São Paulo há duas safras. Como a maioria dos antigos cotonicultores do Estado, migrou para cana-de-açúcar e soja. Apesar de ser apenas mais um a seguir um caminho já trilhado por muitos, o caso de Oliveira é emblemático. Trata-se, afinal, do atual presidente da Associação Paulista dos Produtores de Algodão (Appa). Por motivos óbvios, ele deixará a presidência da Appa ainda neste ano. Para sucedê-lo, a escolha natural seria Tadashi Mine, tradicional produtor de algodão e vice-presidente da Appa. O problema é que, segundo Oliveira, seu vice também está pensando em deixar o produto de lado para investir em cana. A perda de mais dois importantes cotonicultores não surpreende, mas reforça o fato de que em São Paulo a competitividade do algodão minguou ainda mais com a recente virada, para pior, do mercado internacional. Ao lado do Paraná, o Estado liderou a produção da cultura no país na década de 1980. Em São Paulo, a área chegou a 380 mil hectares. Nesta safra (2005/06), são 40,7 mil.

Paraná - No Paraná, a situação é mais ou menos a mesma. A área está diminuindo aos poucos e hoje é de 16,9 mil hectares, ante os 445 mil do ciclo 1985/86, quando liderava a produção nacional, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os grandes produtores do Sul e Sudeste migraram nos anos 1990 para o Centro-Oeste. Com um dos maiores custos de produção por hectare mesmo com vento a favor - cerca de US$ 1.300, três vezes maior que o da soja -, o algodão tornou-se caro e arriscado para os pequenos agricultores, predominantes em São Paulo e Paraná. "O algodão resistiu ao avanço da cana até o início da década. Mas, conforme a crise se abate sobre o setor, os produtores vão migrando de cultura", disse Spirlandelli. E ele mesmo serve como exemplo do golpe sobre a cultura no Estado. Cotonicultor desde 1999 em São Paulo, ele migrou para cana e soja e só voltará se os preços realmente forem muito remuneradores. Atualmente, dos 1,2 mil hectares que possui em São Paulo, 800 hectares estão ocupados com cana - ele é fornecedor de usinas próximas à região de Ituverava -, e outros 400 hectares estão com soja. No Paraná, o declínio do algodão está mais evidente. Os produtores começaram a abandonar a cultura nos últimos anos por conta do clima e dos altos custos de produção, segundo Otmar Hubner, agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria de Agricultura do Estado. Segundo Hubner, não há uma política paranaense específica de estímulo ao plantio de algodão.

Outros estados - Em São Paulo, os incentivos são praticamente nulos. Duarte Nogueira, secretário de Agricultura do Estado, disse que o governo tem se esforçado para evitar que haja uma concentração de culturas no Estado - maior produtor de cana e laranja. Mas reconheceu que o dólar desvalorizado não oferece estímulos ao produtor de algodão. Os poucos cotonicultores paulistas que restam reclamam da falta de uma política de incentivos fiscais para o algodão, como ocorre em Mato Grosso, Minas e Goiás. Mato Grosso tornou-se na última década o maior produtor do país. Grandes agricultores paulistas, como a família Maeda, migraram para o Centro-Oeste estimulados pelos incentivos fiscais e custos baratos. Nos últimos três anos, Goiás e oeste da Bahia também expandiram as áreas com algodão. "São Paulo não preza muito pela qualidade do algodão, com exceção de poucos produtores", disse Spirlandelli. A produtividade média por hectare no Estado está hoje em 2,4 mil quilos. Mato Grosso fica em torno de 3,6 mil hectares. "Os produtores paulistas e paranaenses não têm perfil exportador e não trabalham com contratos futuros", afirmou. "Tínhamos orgulho por São Paulo ser diversificado na agricultura, mas cana está engolindo o algodão". (Valor Econômico)

Conteúdos Relacionados