AGRONEGÓCIOS I: Brasil exporta mais soja e reduz à metade o milho

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Se 2007 foi o ano do milho, 2008 é o ano da soja. Em onze meses, o Brasil exportou 2% mais. O país colheu uma safra recorde de 60 milhões de toneladas e deve fornecer mais de 30% o grão consumido no mundo, com exportações previstas em 24,8 milhões de toneladas pela Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Já o milho brasileiro, cujas exportações explodiram no ano passado, perdeu mercado considerável neste ano. Os embarques registrados até novembro são 50% menores que no ano anterior, apesar do país ter colhido uma safra 14% maior. Mesmo com produção equivalente à da soja - uma safra igualmente recorde, de 58,6 milhões de toneladas - o milho ainda não é um produto com tradição na pauta de exportações agrícolas brasileiras. Até o início da década, apenas volumes modestos deixavam os portos do país.

Paraná - O Paraná acompanha a tendência e tem desempenho muito superior ao embarque brasileiro. Em onze meses, já exportou 15% mais soja que em todo o ano passado. Na comparação com novembro de 2007, a alta nos embarques é de 18%. Na contramão do desempenho positivo da oleaginosa, as vendas externas de milho do estado recuaram 58% ante igual período do ano anterior. Até novembro, 4,3 mil toneladas de soja e 1,6 mil toneladas de milho deixaram o Porto de Paranaguá. No ano passado, nesta mesma época, 3,6 milhões de toneladas da oleaginosa e 3,9 milhões de toneladas do cereal haviam deixado o estado. Foi a primeira e única vez que o Paraná embarcou volumes equivalentes desses dois grãos.

Volume exportado - No país, isso ainda não aconteceu. Em 2007, ano em que o Brasil mais exportou milho na história, foram vendidas ao exterior 10,9 milhões de toneladas do cereal e 23,7 mil toneladas de soja. Neste ano, até novembro, foram 5 mil e 23,7 mil toneladas, respectivamente. Isso acontece porque, enquanto o milho sofre com a retração da demanda externa, a soja brasileira ocupa uma lacuna deixada pelos Estados Unidos no mercado internacional após o corte de quase 5 milhões de hectares na área de plantio de soja daquele país na temporada 2007/08, esclarece o secretário geral da Abiove, Fábio Trigueirinho.

Embarques devem continuar aquecidos - No último mês do ano, os embarques de soja devem continuar aquecidos, avalia o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), Lucilio Alves. Para cumprir a meta da Abiove para 2008, basta que o Brasil exporte volume equivalente a pouco maior que o de dezempro de 2007. União Européia e China, principais compradores, têm produção deficitária frente à capacidade de esmagamento da indústria, e, por isso, devem continuar demandando grão, prevê o agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Otmar Hubner. Internamente, a procura por farelo de soja para ração animal e de óleo para fabricação de biodiesel também são crescentes, afirma.

 

Previsões - Fazer previsões para o milho, por outro lado, já é muito mais difícil. O cereal brasileiro ainda não tem um mercado consolidado na exportação, explica Margorete Demarchi, agrônoma do Deral. "Não somos um player importante neste mercado", concorda Alves. Desde 2001, em anos em que há excedente de produção, as exportações brasileiras de milho têm apresentado picos durante o segundo semestre, mas não há uma constância nas vendas ao longo do ano como na soja, esclarece o pesquisador. Ano passado foi atípico para o milho e o desempenho de 2008 está dentro da normalidade, o que não significa que o Paraná não seja competitivo neste mercado, considera Margorete. O estado ainda tem disponível para comercialização cerca de 2 milhões de toneladas de milho, conforme o Deral. Esses grãos, que lotam os silos e armazéns paranaenses terão de ser vendidos até o início de 2009. Liberar espaço para a entrada da nova safra de verão é um problema não só do Paraná, mas em todo o país. Para resolver o entrave, será preciso buscar novos mercados e ofertar o produto a preços competitivos, recomenda o pesquisador do Cepea.

 

Safrinha - Na avaliação de Margorete, o grande nó a desatar será a redução de área esperada para a próxima safrinha brasileira. No Mato Grosso, maior produtor de milho de inverno do país, a crise de crédito tende a diminuir consideravelmente o investimento na cultura no outono. "O crescimento do milho safrinha no Centro-Oeste do país não aconteceu de forma sustentada, foi muito rápido. Com o aperto do crédito, a situação fica complicada para os produtores da região", analisa Margorete. No Paraná, a situação é mais tranqüila, ainda que longe do ideal. Aqui, a preocupação é com a comercialização da safra 2008/09, cuja colheita pode começar com preços já abaixo do mínimo de garantia da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em janeiro, entram em vigor os novos valores de referência previstos no Plano Agrícola e Pecuário do governo federal. No caso do milho paranaense, o preço mínimo da saca passa de R$ 14 para R$ 16,50. Nesta semana, a cotação média do cereal foi de pouco menos de R$ 16 nas principais praças de comercialização do estado. (Gazeta do Povo/Caminhos do Campo)

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