A EXCELENTE PERFORMANCE DA AGRICULTURA BRASILEIRA

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Editorial do Jornal Valor - 25/01/02.

A agricultura brasileira espelha as muitas contradições do país. No interior dessa atividade convivem o atraso e a vanguarda e em todos os níveis - da visão de mundo à produtividade, dos latifúndios à produção familiar. A despeito das diversidades e do fosso que se aprofunda entre esses extremos, o setor tem dado excelentes notícias.

A longo dos 25 anos compreendidos entre janeiro de 1975 e dezembro de 2000, os preços reais de alimentos de uma cesta significativa de alimentos caíram, em média 5,3% ao ano, de acordo com uma pesquisa realizada pelos economistas José Roberto Mendonça de Barros, Juarez Rizzieri e Alexandre Mendonça de Barros, resumidamente publicada ontem pelo Valor.

O resultado dessa significativa queda real de preços, assinalam os autores, é o fato de que "o poder de compra dos salários em termos de alimentos subiu muito, abrindo espaço para a elevação de consumo de outros bens e serviços." Especialmente para os consumidores de menor renda, dada a composição da cesta de alimentos e o peso que esse tipo de produtos tem no orçamento familiar.

A cesta inclui leite, carne bovina, frango, arroz, feijão, laranja, tomate, cebola, batata, banana, açúcar, alface, café, cenoura, mamão, ovo e óleo de soja. Os dados mensais do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe foram tomados como parâmetro para acompanhar a evolução do preço dessas mercadorias. A qualidade desse critério, como lembram os autores, é a revisão sistemática dos orçamentos familiares e o fato de a Fipe coletar semanalmente o valor desses produtos.

Tão boa quanto é a notícia sobre a redução de preços é seu motivo essencial. Variações persistente nos preços de alimentos, como a detectada nessa pesquisa, devem-se fundamentalmente à produtividade e ao progresso

Os sucessivos recordes da safra agrícola brasileira e os consecutivos superávits da balança comercial do setor referendam as conclusões do trabalho. Apenas no ano passado, o saldo da balança comercial do agronegócio cresceu 28,5%, atingindo o recorde de US$ 19 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura - situação exatamente oposta à verificada em outros setores, entre os quais se destaca o de eletroeletrônicos.

A participação dos produtos agrícolas nas exportações globais do país em 2001 saltou de 37,6% para 41,2%. Ao contrário do que muitos ainda defendem, é um equívoco associar exportações agrícolas a atraso. O grau de tecnologia associado às commodities agrícolas supera o verificado na produção de muitas manufaturas e o resultado da competitividade obtida é extraordinário, como assinalou José Roberto Mendonça de Barros em outro artigo publicado por este jornal em meados de 2000, a partir da avaliação sobre os ganhos de produtividade das principais culturas brasileiras entre 1987 e aquele ano.

O custo de produção do açúcar brasileiro equivale à metade do que o do segundo exportador mais eficiente em todo o mundo; o suco de laranja custa menos do que a metade do produto da Flórida; a soja do Paraná e Mato Grosso está em condições de igualdade com a americana, excepcionalmente subsidiada; o custo de produção da tecnológico, dizem os economistas. O crescimento da produção brasileira deixou de se escorar apenas no aumento da área plantada. Outros fatores também contribuíram para o encolhimento dos preços. Mas, sem o binômio produtividade/avanço tecnológico, os produtores não teriam conseguido absorver tamanha redução sem uma ruptura na oferta. Longe disso, nesses 25 anos, a oferta foi crescente para o mercado interno e externo. carne vermelha brasileira é um terço do valor gasto na União Européia, região em que a carne branca custa 80% a mais que a brasileira.

A competitividade da carne suína segue na mesma direção. Essas exportações cresceram 107% no ano passado, transformando o Brasil no quarto maior fornecedor mundial. Há menos de dois anos, o país ocupava a 12º posição.

Tais avanços foram conquistados apesar da carga tributária brasileira, da redução do estoque de capital e da escassez de crédito para o setor. O potencial da agricultura brasileira é explosivo, mas mal aproveitado.

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