“Comunicar esforços em sustentabilidade ambiental pode posicionar o Paraná como líder em agricultura responsável”, diz coordenador da ONU
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FOTO: DivulgaçãoO ano de 2025 marca um momento significativo para o cooperativismo e para a sustentabilidade ambiental. Um dos motivos é a declaração como Ano Internacional das Cooperativas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Outro destaque é a realização, em novembro, da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), oportunidade para as cooperativas brasileiras ampliarem sua visibilidade.
Nesta entrevista para o Sistema Ocepar, o coordenador de Assuntos Cooperativos da ONU, Andrew Allimadi, fala sobre o potencial desses marcos para fortalecer as cooperativas e recomenda práticas capazes de promover a imagem do Paraná como referência em sustentabilidade.
A escolha de 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas destaca o papel desse modelo de negócios na promoção do desenvolvimento econômico e social nas comunidades. Também reconhece sua importância na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Como a ONU avalia o impacto dessa decisão na visibilidade das cooperativas?
Allimadi – Essa decisão da ONU é um movimento estratégico e simbólico que reflete um crescente reconhecimento do modelo cooperativista como ferramenta poderosa para o desenvolvimento inclusivo e sustentável. O tema “Cooperativas constroem um mundo melhor” ressalta as contribuições multifacetadas das cooperativas para a resiliência econômica, a igualdade social e a gestão ambiental responsável.
O Ano Internacional das Cooperativas busca incentivar uma compreensão mais profunda sobre o papel do cooperativismo no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), particularmente aqueles que se referem à erradicação da pobreza, à igualdade de gênero, ao trabalho decente e à ação contra as mudanças climáticas.
Em segundo lugar, essa resolução encoraja os países a revisar e aprimorar os marcos legais e normativos que apoiam o crescimento e desenvolvimento das cooperativas. Isso inclui melhorar o acesso a financiamento, mercados e recursos para capacitação. Por meio de eventos, campanhas e iniciativas de pesquisa, as cooperativas têm oportunidade de compartilhar melhores práticas, apresentar inovações e construir parcerias estratégicas.
O Comitê para a Promoção e Avanço das Cooperativas da ONU desempenha um papel central na coordenação desses esforços, garantindo que a voz das cooperativas seja ouvida em áreas políticas importantes.
Quais são os desafios ambientais mais urgentes que as cooperativas enfrentam hoje?
Allimadi - As cooperativas têm desafios que refletem as mais amplas crises ecológicas enfrentadas pelas comunidades em todo o mundo. Como organizações enraizadas em economias locais, as cooperativas estão em uma posição única para abordar essas questões - mas também sofrem o impacto do desequilíbrio ambiental.
Um dos desafios mais urgentes é a mudança climática. O aumento das temperaturas, a variação dos padrões climáticos, secas, inundações e mudanças nas estações de cultivo afetam diretamente as cooperativas agrícolas, que representam uma parcela significativa do movimento cooperativo global.
Tais mudanças ameaçam a produtividade das colheiras, a saúde dos animais de produção e a segurança alimentar, exigindo investimento em práticas de resiliência climática, como agricultura regenerativa, conservação da água e diversificação de sistemas produtivos.
Outro grande desafio é a perda da biodiversidade. As cooperativas envolvidas com agricultura, silvicultura e pesca enfrentam o declínio da população de polinizadores, a degradação do solo e a destruição de habitats. Isso não apenas reduz a produtividade, mas compromete o equilíbrio ecológico que garante a sustentabilidade a longo prazo.
Como você acha que a realização da COP 30 no Brasil pode influenciar ou incentivar a adoção de práticas ambientalmente sustentáveis nas cooperativas?
Allimadi - Como um os países com maior a biodiversidade do mundo e um líder no desenvolvimento cooperativo, o Brasil oferece uma plataforma única para mostrar como modelos econômicos de base podem contribuir com soluções climáticas globais.
Realizar a COP30 no Brasil traz à tona o vibrante setor cooperativo da América Latina, particularmente na agricultura, na energia e no desenvolvimento das comunidades. Essa visibilidade pode impulsionar diálogos sobre políticas públicas que reconheçam as cooperativas como atores-chave no combate às mudanças climáticas.
Ao integrar as vozes das cooperativas à agenda da COP30, governos e organizações internacionais podem promover estratégias climáticas inclusivas que reflitam as necessidades das comunidades locais. Um dos impactos mais significativos da COP30 pode ser o fortalecimento dos mecanismos de financiamento climático voltados para cooperativas, já que muitas enfrentam dificuldades para acessar capital necessário à transição para práticas sustentáveis.
O Estado do Paraná é líder nacional na produção de proteínas animais e um dos principais produtores de grãos no Brasil. Como o setor do agronegócio pode ir além dessa imagem e comunicar melhor seus esforços pela sustentabilidade ambiental?
Allimadi - Ir além dos números de produção e comunicar de forma ativa os esforços em sustentabilidade ambiental não só aumenta a confiança pública, como também posiciona o Paraná como um líder global em agricultura responsável. Uma estratégia para isso é a transparência. E as cooperativas, com seu princípio de cuidado pelas comunidades onde atuam, podem dar o exemplo.
O agronegócio precisa publicar relatórios de sustentabilidade que detalhem suas práticas ambientais, como emissões de gases de efeito estufa, uso da água, iniciativas para a saúde do solo e conservação da biodiversidade. Tais relatórios podem ser alinhados a padrões internacionais, como os promovidos pelo Pacto Global da ONU. Além disso, o setor pode humanizar seus esforços divulgando histórias de agricultores, cooperativas e comunidades que implementam práticas ecológicas.