80º DIA INTERNACIONAL DO COOPERATIVISMO
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Cooperação: resultados econômicos e benefícios sociais para todos
João Paulo Koslovski(*)
Neste primeiro sábado do mês de julho, aproximadamente 800 milhões de cooperados celebram o 80º Dia Internacional do Cooperativismo. Como legítimos representantes das cooperativas paranaenses, temos o orgulho de levar à sociedade algumas observações sobre a importância deste movimento mundial.
A primeira questão que um leigo poderia levantar é a razão do surgimento e consolidação do Cooperativismo no mundo. Resumidamente, podemos afirmar que o Cooperativismo foi o resultado de vários estudos e experiências de intelectuais e trabalhadores contra a opressão do capitalismo, no período da Revolução Industrial, que culminou com a constituição, em 1844, da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, na Inglaterra. A maioria dos 28 integrantes do grupo que constituiu a cooperativa trabalhava nas tecelagens. Ganhavam tão pouco que precisaram economizar durante um ano, uma libra cada um, para reunirem os recursos necessários para montar um armazém, para venda às famílias dos cooperadores de alguns poucos produtos básicos de alimentação, como chá, açúcar e farinha.
À época, os trabalhadores buscavam alternativas para sair da miséria, num quadro econômico difícil; além de trabalharem por uma longa jornada, mal sobreviviam com os parcos recursos que recebiam. A cooperativa de consumo, no entanto, permitiu aos associados aquisição dos alimentos essenciais a um custo significativamente inferior, de tal forma que o movimento teve um sucesso estrondoso nos anos seguintes, tornando-se um símbolo de libertação econômica.
Reconhece-se, atualmente, que a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale consolidou e disseminou pelo mundo os ideais defendidos pelos vários precursores da doutrina cooperativista. Fundamentado na organização dos trabalhadores para solucionar os mais diferentes problemas, como alimentação, habitação, trabalho e crédito, o Cooperativismo encontrou campo fértil para crescer num mundo em processo de industrialização que facilitava a concentração do poder econômico, enquanto a maioria não via perspectivas para aproveitar dos benefícios deste desenvolvimento. A cooperação, a solidariedade e a auto-ajuda, ideais defendidos pelo movimento cooperativista, surgia como a mais eficaz alternativa para solução dos problemas desta importante parcela da sociedade.
E qual a razão do sucesso do Cooperativismo em todo mundo?
Os seus princípios internacionais, que são a adesão livre e voluntária, a gestão democrática pelos cooperados, a participação econômica, a autonomia, a educação, o apoio à comunidade, a formação e informação e a intercooperação.
Em quais outras organizações está tão explícita a neutralidade política, religiosa, social, racial? E em qual organização cada pessoa tem direito a um único voto, independente do capital? Essas características igualitárias são uma das razões principais da universalização do Cooperativismo que, assim, superou as barreiras dos idiomas, dos credos, dos regimes políticos e econômicos, contribuindo para reduzir a pobreza através de empreendimentos que só poderiam ser viabilizados por grupos de pessoas.
Vamos dar um salto na história para avaliar a presença e os resultados do Cooperativismo em terras paranaenses, um Estado cujo desenvolvimento continua alicerçado na produção agropecuária. Muitas lideranças têm afirmado que o Paraná é o Estado mais cooperativista do Brasil, em razão das muitas experiências de sucesso no setor desde as primeiras décadas do século passado, até hoje, pois aqui se encontram algumas das maiores e mais sólidas cooperativas do Brasil.
A ideologia cooperativista foi trazida ao Paraná pelos vários grupos de imigrantes e seus descendentes que aqui se instalaram, como os poloneses, alemães, italianos, holandeses, ucranianos, japoneses e outros povos. Como Estado essencialmente agrícola que foi, é natural que as cooperativas do ramo agropecuário existam há mais tempo e em maior número, como pode ser visto no quadro adiante.
Mas, outros ramos tiveram expressivo crescimento nos últimos anos, especialmente as cooperativas de saúde (Unimed e Uniodonto), de crédito e de trabalho. No entanto, todos os ramos vêm dando sua contribuição para a solução dos problemas de seus respectivos setores, como na área da infra-estrutura, consumo, habitação e transporte.
Há um novo ramo surgindo, o de turismo, que tem um enorme potencial de crescimento no Paraná. O ramo educacional, sem dúvida, é uma ótima opção de melhoria de ensino e redução de custos das mensalidades escolares, já validada pelos grupos organizados.
Alguns ramos se destacaram quanto à sua organização nos últimos anos, especialmente o de crédito, diante da nova postura das autoridades que vêm retirando, gradativamente, as restrições ao seu desenvolvimento. As cooperativas de crédito são instrumento de fundamental importância no suporte às atividades produtivas, tendo alcançado invejável crescimento nos últimos anos, quase se igualando, em número de cooperados, ao setor agropecuário.
Também as cooperativas da área de saúde consolidaram sua atuação na prestação de serviços aos usuários, apesar do crescimento da concorrência e das dificuldades impostas pelas autoridades através da voracidade fiscal.
As experiências têm demonstrado que os trabalhadores de todos os setores podem resolver adequadamente seus problemas através da organização em cooperativas. Durante os últimos anos a Ocepar têm recebido centenas de grupos de pessoas dos mais diversos setores da economia, interessados em se organizar em cooperativas. Essa situação mostra que há um crescimento constante da sociedade urbana no Cooperativismo, o que era, até alguns anos atrás, uma característica da área rural.
Vejamos alguns números do Cooperativismo do Paraná:
* Faturamento de R$ 6,5 bilhões em 2000 e R$ 7,8 bilhões em 2002.
* Responsável por 50% do PIB agrícola do Paraná.
* Cerca de 1/3 dos agricultores são cooperativistas.
* Exportação de mais de US$ 500 milhões em 2001.
* Aumento do faturamento de R$ 4,4 bilhões para R$ 7,8 bilhões entre 1996 a 2001
* Previsão de investimentos de R$ 450 milhões nos próximos três anos.
Quem conhece a história paranaense dos últimos 50 anos sabe da importância que as cooperativas desempenharam no setor agropecuário através da organização da produção, da armazenagem, do emprego das novas tecnologias, da comercialização e da industrialização. Foi entre as décadas 60 e 70 que as cooperativas agropecuárias se consolidaram em todas as regiões do Paraná, dando suporte ao desenvolvimento da agropecuária e interiorizando a economia. Sem as cooperativas, o Estado jamais teria alcançado o atual índice de desenvolvimento e liderança nacional em vários produtos agropecuários.
Nós, que convivemos com o setor e o acompanhamos há quase três décadas temos consciência da transformação promovida pelo Cooperativismo em todo o Estado, não só através da interiorização da economia que propiciou, mas também do desenvolvimento tecnológico, da abertura de novas oportunidades de exploração agropecuária, da implantação de armazéns e indústrias, da produção de alimentos para consumo e exportação.
O resultado dessa atuação foi, não apenas a prestação de serviços aos seus cooperados, mas também a geração de milhares de postos de trabalho em todo o Paraná, e valiosa contribuição para a agregação de valores aos produtos primários. Não se pode esquecer a ação social das cooperativas, que têm investido pesados recursos na formação profissional dos cooperados através de cursos, palestras, excursões, dias de campo, exposições e outras ações. Através do Sescoop Paraná (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), no último ano foram treinados mais de 60 mil cooperados, dirigentes e colaboradores do sistema, o que demonstra o diferencial das sociedades cooperativas que é a educação, formação e informação dos seus integrantes.
Se compararmos a sociedade atual com de Rochdale do ano de 1844, vemos que apesar de todo o desenvolvimento tecnológico e econômico da humanidade ainda há grupos oprimidos que só sairão da pobreza ? quando não da miséria ? se tiverem a oportunidade de se organizarem através dos ideais do Cooperativismo. Para vencer é preciso ter determinação e persistência, apesar de todos os empecilhos que surgem para aqueles que buscam a autodeterminação e o desenvolvimento.
(*) Engenheiro agrônomo, presidente do Sistema Ocepar
Números do Cooperativismo Paranaense em 2002.
Ramo | Cooperativas | Cooperados |
Agropecuário | 64 | 98.348 |
Crédito rural e mútuo | 38 | 93.882 |
Infra-estrutura rural | 11 | 8.794 |
Trabalho | 29 | 15.204 |
Saúde | 35 | 9.708 |
Educacional | 10 | 1.718 |
Consumo | 3 | 9.586 |
Habitacional | 2 | 181 |
Turismo e lazer | 1 | 46 |
TOTAL | 193 | 237.467 |