SAFRA 2009/10: Paraná armazena soja no terreiro

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O gargalo logístico com a falta de armazéns se voltou com toda força contra a agricultura do Paraná nesta safra. Chegou-se ao limite de espaço num momento em que 2 milhões de toneladas de milho e soja - 10% de produção prevista - ainda estão por colher. As dificuldades começaram pelo Sudoeste e pelo Oeste, onde a colheita ocorre primeiro, e agora se estendem a todas as regiões. Para não deixar a produção ao relento, o setor improvisa abrigos e da corda ao escoamento.

Fatores - A colheita farta, a comercialização atrasada, o ritmo lento no Porto de Paranaguá, estoques remanescentes de trigo, milho e feijão, tudo contribuiu para superlotar os armazéns, sabidamente deficitários. Foi necessário tirar as teias de aranha de barracões desativados, alugar instalações que serviam para depósito de máquinas e estender lonas em pátios de manobras.

Maior estrutura do país - O estado mantém a maior estrutura de armazenagem do país. O setor ampliou capacidade estática de 24,5 milhões para 26 milhões de toneladas nos últimos meses. Mas isso fez pouca diferença. O fato e que o agronegócio não vem conseguindo ampliar os armazéns na mesma medida do crescimento da produção. E o problema ameaça se repetir em 2010/11, já que a armazenagem ainda vai carregar c aumento de 23% previsto para o milho segunda safra, em desenvolvimento. As exportações do cereal não estão seguindo o compasso esperado pelos produtores.

Coopavel - Caso emblemático e o da Coopavel (Cascavel, Oeste), que tem 30 mil toneladas de grãos acumuladas debaixo de lonas e em espaços improvisados - 4,3% de sua capacidade de armazenagem. O volume que excede a capacidade dos armazéns já foi de 45 mil toneladas, o suficiente para encher mil caminhões. "Precisamos de linha de financiamento a juro reduzido para que haja mais investimento em armazéns", argumentou o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli.

Coasul - Uma das primeiras cooperativas do estado a enfrentar o problema foi a Coasul (São João, Sudoeste), que ha um mês recorreu a instalações de terceiros abandonadas. Nesta quarta-feira (14/04), os oito barracões alugados mantinham 18 mil toneladas de grãos - 8% da capacidade própria. Como vem ampliando o numero de cooperados, a empresa tem pressa em construir armazéns. "Vamos ter que fazer. Vamos sentar com o pessoal do planejamento para definir o tamanho e a localização", disse o gerente técnico, Paulo Roberto Fachin.

Represamento - O problema não se deve apenas a produção elevada e a falta de armazenagem, afirma o gerente técnico e econômico das cooperativas do Paraná, Flavio Turra. "Temos um represamento da comercialização, principalmente de milho, devido aos preços abaixo do custo." O cereal e vendido a R$ 14 a saca no Paraná, R$ 3 a menos que o preço mínimo.

Investimento - Por outro lado, Turra considera que o quadro forca o setor a manter o volume de investimento de 2009 em armazenagem, apesar da previsão de queda de mais de 20% na receita com grãos em 2010. A estimativa e que R$ 300 milhões sejam destinados pelas cooperativas a construção de armazéns agrícolas neste ano. O valor foi de R$ 100 milhões em 2006 e vem crescendo gradualmente.

Aumento da capacidade - Uma avaliação baseada em estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra, no entanto, que, só para acompanhar o crescimento da produção de grãos dos últimos 30 anos, o Paraná teria de possuir capacidade de armazenagem 10% maior. O déficit relativo e de 2,6 milhões de toneladas. Em âmbito nacional, a defasagem em três décadas e de 20% - ou 26,1 milhões de toneladas.

Estatísticas mascaram o problema - Quem compara a capacidade estática de armazenagem com o volume de produção conclui, equivocadamente, que o Paraná e o Brasil têm silos e barracões para guardar perto de uma safra de milho e soja. Os números são realmente próximos. Essas duas culturas representam mais de 80% da produção de grãos e, como boa parte da colheita e escoada rapidamente, o espaço seria adequado. No entanto, e preciso considerar que só parte dos armazéns e destinada a recepção dos grãos. Boa proporção fica distante e serve exclusivamente industrias e portos, explica o especialista Eugenio Stefanelo, técnico da Conab.

Produtos diversos - Ele frisa ainda que perto de 30% da capacidade dos armazéns mais próximos das áreas produtivas são ocupados com produtos diversos como alimentos em fardos, e não com grãos. E que jamais se consegue aproveitar 100% da capacidade dos armazéns, porque não se pode misturar um produto ao outro e, em geral, qualquer grão - soja, milho ou trigo - e segregado em pelo menos dois tipos. Soma-se a isso o fato de a concentração de barracões não corresponder ao volume de produção de cada região. Não vale a pena transportar grãos para regiões mais distantes dos portos. Neste ano, os produtores do Paraná recorreram a armazéns da região de Ponta Grossa, onde agora também há problema de falta de espaço.

Sistema - Stefanelo afirma que a razão do gargalo da armazenagem esta nas características do próprio sistema. "O primeiro ponto fundamental e que a atividade não e lucrativa." As cooperativas e produtores constroem armazéns quando tem certeza de que haverá aumento na colheita. A segunda questão determinante aponta o técnico, e o fato de o setor não estar ampliando a capacidade de armazenagem estática na mesma proporção em que eleva a produção. O passo e mais curto tanto no estado quanto no pals.

Situação ideal - "Considera-se que, num país em desenvolvimento, a capacidade estática de armazenagem ideal e de uma vez e meia o volume da safra de grãos. No Brasil, estamos produzindo 146 milhões de toneladas em 2009/10. São 10 milhões de toneladas a mais do que podemos guardar", afirma. Para chegar a essa situação ideal, o Brasil precisa ampliar seus armazéns em 60% e o Paraná em 73% cobrindo, assim, déficits de 84 milhões e 19 milhões de toneladas.

Safra cheia no estado e no país - A safra de soja atual e apontada como a maior da historia no Paraná. São 13,86 milhões de toneladas, apurou a Expedição Safra RPC - volume 38% maior que em 2008/09. No milho o avanço verificado no verão foi de 4,2%, para 6,77 milhões de toneladas. Se o produtor tivesse apostado mais no cereal do que na soja, o problema da falta de armazenagem seria ainda maior - colhe-se o dobro do volume com o milho. Na segunda safra do cereal, o Paraná quer colher 5,6 milhões de toneladas, 23% a mais. Mato Grosso, que tem capacidade de armazenagem similar a do Paraná, também aposta na safrinha e cresceu 4,7% na soja, para 18,8 milhões de toneladas. Em âmbito nacional, a soja avançou 17%, a 67 milhões de toneladas, e o milho de verão se manteve em 33 milhões de toneladas.

Estoques esperam preços melhores - Antigos barracões usados para armazenar café e instalações arrendadas socorrem os produtores de grãos que enfrentam falta de espaço de armazenagem no Noroeste do estado. A Cocamar, de Maringá, tem capacidade para receber 600 mil toneladas de grãos e, mesmo assim, precisou alocar 50 mil toneladas de soja em espaços alternativos, relata o superintendente comercial, Jose Cícero Aderaldo.

EUA recuperam atraso no plantio - O ritmo do plantio de milho nos Estados Unidos caiu ligeiramente na comparação com a medias dos últimos anos, mostra relat6rio do Departamento de Agricultura, o USDA. No entanto, as previsões climáticas agora favoráveis a tarefa indicam que os produtores têm chance de ultrapassar essas médias ainda nesta semana. (Gazeta do Povo)

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