PROJEÇÕES: Rabobank vê outro ano positivo para o campo

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Mesmo que considere improvável uma aceleração da recuperação das economias desenvolvidas e encare 2013 como "nada promissor" em termos de crescimento global, o Rabobank, banco de origem holandesa com forte atuação no agronegócio, projeta que as principais cadeias produtivas do setor no Brasil terão um ano em geral positivo, com demanda firme e preços ainda em elevados patamares para grande parte dos produtos exportados pelo país.

Crescimento - No front doméstico, a instituição, que considera que as contas públicas encontram-se equacionadas, prevê um maior crescimento do PIB, ainda que aquém da capacidade, e lembra que as taxas de desemprego são as menores da história e que segue em curso um movimento de inclusão social que dão suporte ao consumo. Ao mesmo tempo, vislumbra um cenário de estabilidade para o câmbio - que no nível atual, com o dólar entre R$ 2 e R$ 2,10 é mais favorável aos exportadores.

Intervenção - "O governo passou a intervir no mercado de câmbio de forma mais determinada, mas já sinalizou que, acima disso, haverá um incômodo inflacionário", afirma Robério Costa, economista-chefe do Rabobank Brasil. "A situação de excesso de dólares presente nos últimos anos, responsável por uma constante pressão para valorização do real ante as principais moedas globais, apresenta alguns sintomas de esgotamento", afirma o estudo "Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro", concluído pelo banco nas últimas semanas.

Horizonte promissor - Nesse contexto, para os principais grãos cultivados no país (soja e milho) o horizonte é promissor. Nos dois casos, a relação entre oferta e demanda global segue apertada após as quebras de produção na América do Sul na safra 2011/12 e nos Estados Unidos em 2012/13, em virtude de severas estiagens, o que dá fôlego aos preços. Estes podem até recuar a depender de incrementos da produção e das condições macroeconômicas mundiais e seus reflexos sobre o apetite da China, mas para degraus ainda remuneradores, apesar da alta dos custos.

Produção global - O Rabobank observa que, segundo o Departamento da Agricultura dos EUA (USDA), a produção global de soja deverá somar 264 milhões de toneladas na safra 2012/13, 11% mais que em 2011/12, mas que a demanda deverá chegar a 258 milhões de toneladas, o que mantém o mercado com pouca folga. No Brasil, que deverá liderar a produção e as exportações do grão no ciclo atual, superando os EUA, a semeadura está na reta final. E a China, que reduziu sua área plantada, tende a ampliar as importações em 3%, para 93 milhões de toneladas, apesar de ser possível alguma desaceleração.

Milho - No tabuleiro do milho há ainda menos gordura. Segundo o USDA, a relação global entre a oferta e a demanda do cereal, que em 2011/12 foi de 15,2%, deverá cair para 13,7% em 2012/13, menor patamar em 40 anos. Segundo o Rabobank, isso deve favorecer a transmissão dos preços de paridade de exportação ao mercado interno brasileiro. Para soja e milho, pesarão ao longo do ano que vem não só a maior produção sul-americana nesta safra 2012/13 como o provável forte salto nos EUA no ciclo 2013/14, que começará a ser plantado no segundo trimestre.

Estoque X consumo - "O mercado, no momento, subestima a apertada relação entre estoques e consumo de grãos. Mas não há, por exemplo espaço para novas quebras climáticas" como as que prejudicaram as últimas safras de EUA, Brasil e Argentina, afirma Renato Rasmussen, analista do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank. Se as recuperações se confirmarem, é de se esperar maior pressão sobre as cotações no segundo semestre de 2013. Nesse caso, o Rabobank projeta que o milho poderá fechar o ano que vem mais perto de US$ 6 por bushel (medida equivalente a 25,2 quilos) na bolsa de Chicago, ante os pouco mais de US$ 7 praticados atualmente.

Carnes - Mesmo que venha mais para o fim de 2013, uma queda como essa favoreceria as cadeias produtivas de carnes de frango e suína, que viram o aumento dos custos dos grãos comer suas margens de lucros neste ano. A expectativa do Rabobank é que o consumo e os preços internacionais de ambas as carnes subam no próximo ano, estimulando exportações brasileiras e oferecendo suporte aos preços domésticos desses produtos. A limitada oferta mundial de carne bovina - no Brasil a situação é mais confortável - também deve colaborar para sustentar os preços das carnes de frango e suína. A oferta de carne suína, por sinal, foi prejudicada pela alta de custos.

Bovina - Conforme o estudo, a oferta de carne bovina tende a seguir escassa graças sobretudo aos EUA e à União Europeia. Assim, com boa oferta doméstica de animais para abate, os frigoríficos caminham para garantir margens positiva nesta frente em 2013, como já aconteceu neste ano. "No Brasil, o ciclo da pecuária continua com oferta razoável. Se as exportações de carne bovina confirmarem as expectativas e crescerem, os reflexos poderão colaborar para a alta dos preços das carnes de frango e suína", afirma Guilherme Melo, analista sênior do Rabobank Brasil.

Sucroalcooleiro - Para o segmento sucroalcooleiro, a instituição projeta mais problemas para o açúcar do que para o etanol. Depois de dois anos de déficit de produção de açúcar e outro com excedente insignificante, a produção global reagiu e os estoques engordaram, o que reduz o espaço para valorizações. "Ao que tudo indica, os tempos de preços altos de açúcar chegaram ao fim, pelo menos por enquanto", afirma o estudo. Para o etanol, a provável elevação da mistura de anidro na gasolina no Brasil de 20% para 25% e o esperado aumento dos preços do hidratado, em linha com os reajustes da gasolina, delineiam um 2013 de maior rentabilidade. "E as exportações de etanol poderão aumentar", prevê Rafael Moreira Barbosa, analista econômico júnior do Rabobank Brasil.

Café - No café, os sinais disponíveis indicam um cenário positivo para a produção mundial, apesar da safra mais fraca no Brasil - em razão da bienalidade que marca a cultura -, mas também para o consumo. Assim, o Rabobank projeta queda da relação entre estoques e consumos mundiais em 2012/13, mas acima dos "níveis alarmantes" de 2010/11, o que poderá levar a uma acomodação dos preços externos em patamares inferiores aos picos de 2011. "Para os cafeicultores brasileiros, as margens ainda serão boas, apesar de menores", afirma Guilherme Melo.

Algodão - Considerada pela equipe do Rabobank, no início deste ano, uma das "commodities do medo" de 2012, ao lado do câmbio, o algodão não só confirmou as expectativas como seus preços tendem a continuar em queda. "Os estoques estão altos, e mais da metade deles estão na China. Os chineses têm mantido um bom ritmo de compras, mas teremos que esperar para ver como eles vão se comportar", observa Melo.

Insumo - Entre os principais insumos, o estudo do Rabobank contempla os fertilizantes e destaca a tendência de aumento da produção global. Mas, com commodities como soja e milho com bons preços, o espaço para baixas dos adubos é limitado, segundo o analista Jefferson Carvalho. (Valor Econômico)

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