Ponto de Vista: Cooperativismo e globalização

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Por Márcio Lopes de Freitas (*)


Na era da globalização, a defesa de uma sociedade justa e solidária é interpretada quase como uma utopia. As grandes nações que bloqueiam o livre comércio nos fóruns internacionais apenas agem inspiradas por grandes players multinacionais da economia globalizada, dotados de um grande poder de influência sobre os governos. Esses grupos têm interesses financeiros e comerciais, não compartilham, na maioria das vezes, causas políticas e sociais, nem se preocupam com a criação e manutenção de mecanismos de negócios internacionais que aliem o desenvolvimento econômico à boa distribuição de renda.

Baseados nos seus consagrados princípios de igualdade e solidariedade, o cooperativismo se coloca como contraponto à prática cega dessa globalização mercantil. O tema deste ano para o Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado em 3 de julho, foi Cooperativismo por uma globalização mais justa: criando oportunidades para todos. Em todo o mundo, oitocentos milhões de cooperados provam que é possível uma globalização justa, ao colocarem os interesses do homem em primeiro lugar e respeitar a autonomia e as identidades locais.

O Brasil é um grande exemplo de como esse processo deve ser conduzido. Hoje, somos 5,7 milhões de cooperados em mais de sete mil cooperativas de treze ramos de atividades econômicas distintas. Elas já representam 6% do Produto Interno Bruto (PIB) e são responsáveis pela criação de quase 200 mil empregos diretos.

Indutoras do agronegócio, as cooperativas agropecuárias são provas incontestes de que é possível construir uma sociedade mais justa inserida na economia globalizada. A atuação do cooperativista Roberto Rodrigues no comando do Ministério da Agricultura tem sido marcada pela luta contra as barreiras comerciais impostas ao Brasil e a defesa dos nossos produtos no mercado internacional.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais de uma vez, defendeu o sistema cooperativista como a melhor alternativa para aliar o desenvolvimento econômico ao social. Mas não é apenas no campo que o cooperativismo se mostra como uma alternativa viável aos efeitos da globalização.

No ambiente urbano, a ferramenta cooperativista está sendo cada dia mais utilizada, como forma de desenvolvimento econômico das pessoas comuns, com inclusão social. As cooperativas de trabalho, legitimamente constituídas, representam uma alternativa de geração de trabalho e renda, gerando mais de trezentos mil postos de trabalho no Brasil.

As cooperativas de consumo, constituídas por mais de dois milhões de brasileiros, são o equilíbrio dos preços de alimentos e bens de primeira necessidade no varejo. As cooperativas habitacionais lutam e tornam realidade o sonho da casa própria para a população de baixa renda. As cooperativas de saúde criam oportunidade de trabalho para cerca de trezentos mil profissionais do setor, atendendo mais de catorze milhões de brasileiros com atendimento digno a preço justo. As cooperativas de infra-estrutura possuem uma rede de 120 mil quilômetros, levando energia e desenvolvimento a mais de seiscentas mil famílias. As cooperativas do ramo educacional reúnem mais de cem mil associados e atendem diretamente mais de onze mil alunos, oferecendo ensino de boa qualidade e preço justo. Já as cooperativas do ramo transporte congregam uma frota de mais de cinco mil veículos, entre transporte de carga e de passageiros.

Outro setor que merece destaque é o cooperativismo de crédito, que facilita o acesso ao mercado financeiro aos cooperados com melhores condições que as instituições bancárias tradicionais. Possui três sistemas — Sicredi, Sicoob e Unicred — e dois bancos — Bansicredi e Bancoob. Hoje, mais de 1.100 cooperativas e 1,4 milhão de cooperados fazem parte do sistema. Os ramos especial, mineral, produção e de turismo completam o panorama onde atua o cooperativismo brasileiro.

Não é ilusão falar em justiça social e econômica no mundo globalizado porque continua sendo necessário diminuir a distância entre a população mais pobre e os benefícios gerados pela globalização, principalmente nos países em desenvolvimento. O cooperativismo é o instrumento eficaz para uma justiça social com equilíbrio.


(*) Presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

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