COOPERATIVISMO: Setor detém 50% do agronegócio

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Partir das pequenas produções agrícolas para as cooperativas, e deste estágio avançar para verdadeiros conglomerados agropecuários, com a criação de grandes marcas e empresas. Esta é a tendência do setor agrícola no Brasil, prevê a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Hoje, mais de 50% de toda a produção agropecuária do País passam, direta ou indiretamente, por uma cooperativa. Já no patamar de grandes "marcas cooperativadas", a Coopercentral Aurora, em Santa Catarina, e a Coamo, no Paraná, apostam em mais associados para continuar lançando novos produtos.

Origem - Muitos não sabem, mas aquele iogurte fresquinho tomado pela manhã, o filé de frango do almoço e o cafezinho da tarde são originários de cooperativas, agentes de produção fundamentais para o abastecimento do mercado doméstico. Segundo dados da OCB, o País possui hoje mais de 1.546 cooperativas, formadas por aproximadamente 943 mil produtores, e geram uma receita de exportação na acima dos US$ 4,4 bilhões por ano.

 

Organizações - As cooperativas agropecuárias são organizações criadas por iniciativa dos próprios produtores rurais, que se unem com um interesse em comum. Juntos eles podem comprar insumos a preços menores e vender seus produtos em quantidades maiores. Segundo o analista de mercado da OCB, Marco Olívio Morato, o conceito fundamental do cooperativismo é minimizar os riscos para os agentes envolvidos. "A cooperativa é como se fosse uma empresa socialista, ou seja, os lucros e os problemas são divididos entre todos. Os cooperativados têm um diferencial na compra conjunta, nas exportações, nas vendas, na criação de contratos e nos custos do transporte", frisou ele.

 

Crescimento - O volume da produção agrícola brasileira que passa por cooperativas deve crescer em média 8% ao ano, acredita Morato; já o número de cooperativas deve ficar mais enxuto. "O número de cooperativas tem diminuído ano a ano, pois existe o movimento de união entre as cooperativas, o que fortalece esses grupos. Isso mostra que aquele intuito de apenas se unir para reduzir custos foi substituído pela maior profissionalização do setor", garantiu o analista.

 

Tendência - No setor, o primeiro passo é diminuir os riscos do negócio para, em seguida, crescer, a exemplo de grupos como a Aurora e a Coamo. "A tendência agora é que as grandes cooperativas, que já garantem a sua qualidade de serviços, agreguem mais valor à sua produção, e com isso passem a investir na industrialização de seus produtos. São as cooperativas sendo transformadas em grandes empresas comunitárias."

 

Aurora - Este é o caso da Coopercentral Aurora, que surgiu há 42 anos, da fusão de oito cooperativas de Santa Catarina, com um abate de 250 suínos por dia. Mário Lanznaster, presidente do grupo, contou que o primeiro frigorífico surgiu da compra de uma massa falida em Chapecó (SC) que comercializava somente carne in natura. "Quando começamos tínhamos poucos produtos, que eram vendidos em São Paulo. Depois, com o correr dos anos, passamos a fabricar embutidos e crescemos. Hoje abatemos 14 mil suínos ao dia, sem contar os frangos e a produção de leite", lembrou.

 

Estrutura - Hoje a Aurora possui 13 cooperativas anexadas, com pouco mais de 70 mil produtores, que dividem entre si os lucros da megaempresa. Lansznaster explica que o sucesso dessas "supercooperativas", já é uma tendência no mundo, e diz que no Brasil não será diferente. "Lá no Paraná, por exemplo, existem diversas cooperativas que abatem frangos; se eles se unirem irão formar uma central bem forte, e com isso aumentar seus negócios. O Paraná tem grande potencial. E eu particularmente gostaria de ver todas essas cooperativas do Paraná junto com a Aurora, aí teríamos força dobrada no Brasil", assegurou o executivo da Aurora.

 

No Paraná - Com o fim do ciclo na região de Campo Mourão, no centro-oeste do Paraná, o engenheiro agrônomo recém-formado José Aroldo Gallassini chegou ao município. Era maio de 1968. Ele era funcionário da extinta Acarpa (hoje Emater) e foi enviado a Campo Mourão com a missão de levantar a realidade rural da região. Isso gerou nos agricultores uma preocupação com as vendas, e foi assim que começou a ganhar força a ideia de se montar uma cooperativa de produtores rurais.

 

União - A Coamo irá completar 41 anos de existência este ano, e também surgiu da fusão entre 79 produtores rurais com o intuito de comprar insumos e maquinários mais baratos e reduzir consideravelmente os custos de transporte. "Como engenheiro agrônomo, eu sabia que a união entre os produtores era extremamente fundamental para o desenvolvimento da agricultura na região. Foram identificadas as lideranças do setor e iniciou-se uma série de reuniões e encontros para debater o assunto. Foi assim que, em 28 de novembro de 1970, nasceu a Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda.", contou ao DCI o presidente José Aroldo Gallassini.

 

Soja - Entretanto, com pouco tempo de atuação o grupo investiu na industrialização da soja, e com isso atraiu ainda mais agricultores interessados no processo. "Em meados de 1983 surgiu o interesse de agregar mais valor à produção, e de criarmos a nossa linha de produtos acabados. Começamos com trigo, soja, e recentemente, café. Queríamos ampliar a linha para os supermercados. Com isso a cooperativa Coamo atingiu hoje 23 mil associados", contou.

 

Projeção - De um pequeno grupo de agricultores que produziam somente a matéria-prima, a Coamo já projeta um faturamento de R$ 5,2 bilhões este ano, o que representa um incremento de 10% ante o ano passado. "Poderíamos faturar ainda mais, mas o clima acabou diminuindo a nossa previsão. Nas exportações prevemos um faturamento de US$ 1 bilhão. Queremos sempre ampliar, e vamos criar mais produtos dentro dessa linha. Também estudamos adquirir novas indústrias. Mas isso não acontece da noite para o dia", afirmou.

 

Integração - Por fim, o analista da OCB afirmou que da mesma forma que ocorre nas cidades, o cooperativismo no campo integra pessoas, simultaneamente no mercado de trabalho e na sociedade. (DCI - Diário do Comércio & Indústria)

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