COOPERATIVAS DETÉM MAIS DE 57% DO PIB AGROPECUÁRIO
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No Dia Internacional do Cooperativismo, amanhã, as cooperativas paranaenses têm muito para comemorar. Principalmente as 63 agropecuárias, que, no ano passado, movimentaram R$ 6 bilhões, o equivalente a 55% do valor bruto da produção paranaense, que foi de R$ 10,9 bilhões. E a tendência é ampliar esta participação. Segundo o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), a estimativa é que a receita do atual exercício chegue aos R$ 11,9 bilhões, com as cooperativas participando com R$ 6,8 bilhões, que corresponderão a 57,1% do movimento. "Estamos percebendo este aumento no PIB agropecuário estadual a cada ano, o que é fator altamente positivo", comenta José Roberto Ricken, diretor executivo da entidade.
O bom momento foi festejado ontem em Curitiba, aliando o Dia Mundial do Cooperativismo a atividades alusivas aos 30 anos de criação da Ocepar. O evento reuniu representantes do setor de todo o País, que analisaram o atual cenário econômico e a inserção das cooperativas no mercado. Os últimos resultados do desempenho financeiro, na opinião de Ricken, são altamente importantes, principalmente por se tratar de atividades em que "os ganhos são reaplicados aqui mesmo, diferentemente de outras empresas que, às vezes, lucram no Paraná e dirigem os resultados para outras localidades." O retorno, acrescenta ele, além de movimentar toda uma cadeia da economia, beneficia diretamente o cooperado, seja por meio da divisão dos lucros (as sobras) ou no repasse aos preços de sua produção.
Outra fonte de injeção de dinheiro proveniente do setor é a geração de tributos. A Receita Estadual não tem dados separados das cooperativas, porém informa que a agropecuária recolheu aos cofres públicos, no ano passado, a título de Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), pelo menos R$ 88,6 milhões, 2,04% da arrecadação total. Neste valor está computado apenas o pagamento feito por Guia de Recolhimento do Paraná (GRPR), que trata da comercialização de bens agropecuários, sem contar os recolhimentos por meio de Guia de Informação de Apuração (GIA), utilizado, por exemplo, por casas agropecuárias.
As 63 entidades agropecuárias representam 32% das 192 cooperativas filiadas à Ocepar, abrigando 92,7 mil associados, 48,5% do volume global, de 191,2 mil, distribuídos em 10 categorias, que empregam, conforme a Ocepar, em torno de 25 mil pessoas. "Devemos considerar, como reflexo positivo, não apenas o fortalecimento da economia, mas também a sua representação na distribuição de rendas", analisa Ricken, levando em conta o fato de que 78% dos associados, especificamente no setor agropecuário, possuem áreas de até 50 hectares. "Não existe a história de que cooperativa só atende a grandes produtores", complementa, não acreditando que pequenos e médios produtores se manteriam na atividade fora do sistema cooperativo.
"Temos a grande função de distribuição de rendas", concorda José Aroldo Gallassini, presidente da Cooperativa Agropecuária Mourãoense (Coamo). Ele observa que nos 30 anos que separam o início das operações da empresa que dirige à posição de destaque no mercado, consolidando-a como a maior cooperativa singular da América Latina, muita coisa aconteceu. Principalmente no campo competitivo, exigindo o desenvolvimento de ações acompanhando as alterações. "Investimos em tecnologia, estrutura de solo e pesquisas, tendo em vista o atendimento ao produtor", afirma. O resultado é compensador, a começar pela receita global que foi de R$ 1,2 bilhão em 2000, correspondendo a 20% da movimentação do setor no Estado, e lucro de R$ 40 milhões.
Gallassini é comedido ao falar sobre expectativas para 2001 e diz que, apesar da grande última safra, o faturamento deve ser semelhante ao anterior. As exportações, que merecem ênfase da empresa, tendem a crescer de US$ 171 milhões para US$ 200 milhões, com incremento de 16,9%. Este é um setor, aliás, que vem se consolidando a cada ano na Coamo, que investe na modernização do terminal portuário que mantém em Paranaguá. Ali foram embarcados, no ano passado, 195 navios, totalizando 983 mil toneladas próprias e de terceiros. Outra linha de atuação diz respeito à marca própria de alimentos, composta por óleo de soja, arroz, feijão, café, margarina e gordura hidrogenada. O interesse é agregar valor à produção dos cooperados, o que reverte em maior lucro.
Gallassini observa que o desempenho das empresas ocorre sem benefícios fiscais do governo, apesar de seu papel social. Somente a Coamo, que tem 17 mil cooperados e atua em 48 municípios, emprega 3,8 mil funcionários, tornando-se uma das 100 maiores empresas do País e a terceira maior do Estado em termos de venda. Segundo o presidente, as perspectivas são boas também em função do Plano de Safra 2001/02, anunciado na última terça-feira pelo governo federal, com recursos para financiamento de R$ 14,7 bilhões, 30% a mais que o volume do exercício anterior. "Enxergaram que a agricultura traz retorno rápido, principalmente no que diz respeito à balança de exportações", comenta. O ponto considerado mais importante em se tratando de cooperativas é o aumento de financiamento para produtor de soja, passando de R$ 60 mil para R$ 150 mil. O plantio de soja na região, acredita ele, tende a crescer em torno de 5%, passando de uma área de 750 mil hectares para 787,5 mil hectares. Inversamente, no entendimento dele, o espaço de milho pode reduzir 15%, encolhendo de 320 mil para 272 mil hectares.
A fórmula da Coamo em diversificar os produtos, em busca da agregação de valor à matéria-prima, é uma lógica que se espalha pelo Paraná. "É preciso se adequar à realidade", diz Carlos Yoshio Murate, presidente da Cooperativa Agropecuária de Produção Integrada do Paraná (Integrada), sediada em Londrina e com unidades em outras 13 cidades da região Norte, Noroeste e Oeste. Ele lembra que a empresa assumiu no mês passado uma indústria de processamento de milho, em Andirá, permitindo, desta forma, que transforme o grão em derivados para a comercialização. Isto resultará em melhores ganhos para os associados e com reflexos nas contas da cooperativa, fundada de 95 e que, no ano passado, faturou R$ 208 milhões.
A estimativa inicial de faturamento para o atual exercício era de R$ 260 milhões, 25% a mais que o anterior. No entanto, as expectativas melhoraram por causa da unidade de Andirá. Segundo Murate, se o clima ajudar, o incremento na receita poderá ultrapassar em 20% a previsão anterior. Ele destaca também a importância do sistema cooperativo para os produtores de menor porte, "porque ganham suporte e poder de comercialização." E mais: "Se as cooperativas não existissem, não sei o que seria deste público." Um entendimento que, na opinião de Murate, está compensando. Tanto que a empresa, que começou com 28 associados, tem atualmente 2,5 mil cooperados. "É um indício realmente de que o produtor julga importante fazer parte do sistema", pondera o presidente da Integrada, que recebeu no ano passado 373,6 mil toneladas entre algodão, aveia, café, frutas, milho, soja e trigo.
Na região Central, a situação é parecida. Marco Antonio Prado, gerente corporativo da Cooperativa Agropecuária Castrolanda, em Castro, atribui o bom momento do setor ao cumprimento dos princípios básicos do cooperativismo. "A fórmula é um bom planejamento", salienta. O que, segundo ele, foi feito muito bem feito pelos holandeses, há 50 anos, quando trouxeram, de sua terra, know-how, equipamentos e materiais para implantar aqui uma mentalidade seguida até os dias de hoje. A Castrolanda fica na mais importante bacia leiteira paranaense, onde em torno de 200 dos atuais 468 associados atuam, obtendo as melhores produtividades e qualidades brasileiras.
Não é à-toa, por isso, que o leite é a maior fonte de recursos. A previsão para este exercício é de um faturamento global de R$ 200 milhões, 5,4% superior aos R$ 189,7 milhões anteriores. E o leite representaria 17%, girando R$ 34 milhões. O segundo produto no ranking é a soja, que responde por 15% (R$ 30 milhões), e em terceiro os suínos, com 12%, equivalentes a R$ 24 milhões.
Nas comemorações, durante o evento realizado ontem em Curitiba, as exportações foi um dos temas que mais chamaram a atenção dos presentes. A Ocepar estima que as 63 cooperativas de produção agropecuária dobrem, neste exercício, o faturamento em comparação ao anterior, que foi de US$ 350 milhões. Os principais responsáveis pela estimativa otimista são produtos como soja, milho e carne de frango que, além de maior volume, ampliam as margens de lucro em função da variação cambial, segundo Ricken. O Paraná bateu recordes na produção da última safra de verão, colhendo 21,4 milhões de toneladas de grãos e algodão. As cooperativas participaram com 62% da produção de 8,42 milhões de toneladas de soja, 78,8% das 167 mil toneladas de algodão em caroço e 59% dos 909 milhões de litros comercializados de leite "in natura".
Outro desafio do setor, nesta arrancada no início do novo milênio, conforme Ricken, é estimular a agroindustrialização, como forma de agregar valor aos produtos. Para isto são desenvolvidas ações no sentido de ampliação da infra-estrutura existente. "A vocação básica das cooperativas é a organização econômica", resume. E, assim, o sistema cooperativo procura, além dos resultados financeiros positivos, meios de articular a profissionalização. Desde 99 existe no Paraná, vinculado à Ocepar, o chamado Sescoop, unidade descentralizada do Conselho Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, com a finalidade de monitoramento, formação profissional e promoção social no âmbito das cooperativas.
Por meio do Sescoop, portanto, a entidade realiza atividades principalmente de aperfeiçoamento nas cooperativas. No ano passado, conforme Ricken, foram atendidas 31 mil pessoas. O programa nos seis primeiros meses deste ano já atingiu mais de 40 mil. "São programas de toda natureza, formados a partir da necessidade apresentada particularmente pelas cooperativas", explica, salientando que a profissionalização se torna, neste momento, instrumento imprescindível para o incremento ainda maior do setor cooperativo. "Vivemos um momento muito melhor que há dois anos, apesar de dificuldades de planos econômicos e momentos instáveis da economia", afirma Ricken.