CLIMA: Preocupação agora é com as chuvas

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A estiagem acabou, mas nem por isso os problemas dos produtores paranaenses cessaram. Depois da seca do final do ano passado, agora é o excesso de umidade que deixa o campo em alerta. Entre a segunda quinzena de janeiro e os primeiros 15 dias de fevereiro, o estado recebeu, em média, 350 mm de chuva, mais que o dobro do volume normal para esta época do ano, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). E as precipitações devem continuar intensas no Paraná até o final do mês. "Quem não conseguir colher agora vai ter problemas em março", alerta Olívia Nunes, meteorologista do Instituto Somar. E não é só a safra de verão que está em xeque, completa Expedito Rebello, do Inmet. "A umidade excessiva dificulta também a semeadura do milho safrinha e do feijão da seca", afirma.

Grãos - No caso dos grãos de verão, cerca de 27% das lavouras de soja e 51% das de milho, em fase de maturação, estão suscetíveis a perdas por excesso de chuva, de acordo com o último relatório de acompanhamento de safra do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura (Seab). "Mas o cereal é mais resistente à umidade que a oleaginosa, aguenta mais algum tempo sem grandes perdas", relata o agrônomo Otmar Hubner, do Deral.

La Niña - Olívia, do Somar, explica que essa irregularidade climática, com seca seguida de chuvas abundantes, é causada pelo La Niña, que atua com fraca intensidade neste ano. "E também não deve durar muito tempo. Vai deixar o clima mais seco durante o outono e o inverno, principalmente entre março e abril", prevê. No Sul do país, o fenômeno, causado pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico, resulta em chuvas irregulares e abaixo da média nos meses do final do verão, do outono e do inverno. Em anos de La Niña, ondas de frio intenso também são comuns, conforme Olívia.

Alerta - Isso acende a luz a amarela para a safrinha de milho, pois aumenta o risco de geadas precoces, a partir do final de abril, afirma. Mas, por outro lado, a queda nas temperaturas pode não ser, necessariamente, ruim para a lavoura, pondera Rebello. Sem geadas, o frio ajuda porque diminui a evapotranspiração, explica o meteorologista do Inmet. Isso é importante porque a previsão é de chuvas mais escassas a partir da segunda quinzena de março, justamente quando o milho safrinha está em fase de desenvolvimento vegetativo no Paraná.

Pesquisa da RPC sobre a seca, os transgênicos e a reserva legal - Não restam dúvidas que a estiagem do final de 2008 comprometeu a produção de grãos de verão do Paraná. Os números para estimar o tamanho da quebra, contudo, ainda divergem. A Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) fala em 24%. A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) prevê perdas de 29%. A Expedição Safra 2008/09, que terminou na semana passada o trabalho de campo, divulga seus números no final de março, mas uma pesquisa informal realizada pela Rede Paranaense de Comunicação (RPC) revela a percepção dos produtores rurais do estado sobre o impacto da estiagem e outros temas, como reserva legal e transgênicos.

Pesquisa - A pesquisa da RPC ouviu, entre os dias 9 e 13 de fevereiro, mais de 800 agricultores que passaram pelo Show Rural, em Cascavel, no Oeste do estado. Para 46% deles, a seca vai comprometer entre 20% e 30% da safra de grãos de verão. 35% dos produtores consultados afirmam ter perdido metade da safra com a estiagem e 5% alegam ter perdido tudo. Já para 14% dos entrevistados, o impacto da seca sobre a produção de soja e milho será nulo.

Reserva legal - Na pesquisa, a RPC também abordou questões mais polêmicas, como a reserva legal. A grande maioria dos agricultores consultados (54%) afirma ser favorável à medida, enquanto 19% deles se dizem contrários à exigência. Para 23% dos entrevistados, a reserva legal é importante, mas os porcentuais de preservação (20% no Paraná) deveriam ser menores. A pesquisa mostrou ainda que 5% dos agricultores ouvidos acreditam que a melhor opção seria aumentar ainda mais os índices. Sobre soja transgênica, 44% afirmaram que plantam; 34% não plantam; 3% parte da área; 7% pretendem plantar e 13% que nunca vão plantar.

Normalidade - O prognóstico climático não tão favorável à colheita de verão e plantio de outuno/inverno pode azedar os planos de muitos produtores paranaenses, que planejavam amenizar os prejuízos causados pela estiagem às lavouras de soja e milho investindo no cereal de segunda safra. "A boa notícia é que o clima volta à normalidade na primavera, o que é positivo para a próxima safra de verão", afirma a meteorologista do Somar. "A temporada 2009/10 vai ser muito melhor que a atual em termos de regularidade de chuva", concorda Rebello. (Caminhos do Campo/Gazeta do Povo)

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